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12/09/2010 - 07h34

Cineasta se tornou espírita após sofrer síndrome do pânico

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LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO

Eis que de repente seu nome está ao lado do de Daniel Filho, um dos mais importantes diretores de TV e cinema do país. Luis Eduardo Girão, que completará 38 anos no próximo dia 25, cuidava dos negócios da família em Fortaleza, um resort e uma empresa de segurança, e jamais sonhara se tornar cineasta.

Após passar por uma síndrome do pânico, tornou-se espírita e passou a investir em peças teatrais ligadas ao tema. Até que resolveu fazer um filme com a história de um médium famoso, Bezerra de Menezes.

Com pouco dinheiro, parte dele do próprio bolso, e apenas 44 cópias, levou aos cinemas, em 2008, mais de meio milhão de pessoas e inaugurou a onda de filmes espíritas, da qual faz parte "Chico Xavier", de Daniel Filho, com 3,5 milhões de espectadores, maior bilheteria nacional deste ano.

Na semana em que "Nosso Lar", o terceiro filme desse segmento, foi visto por mais de um milhão de pessoas, Girão concedeu à Folha a entrevista a seguir, na qual fala sobre sua conversão ao espiritismo e da abertura da produtora Estação Luz, exclusivamente voltada a obras espíritas.

Divulgação
O cineasta Luis Eduardo Girão
O cineasta Luis Eduardo Girão, que diz ter se tornado espírita após sofrer síndrome do pânico

FOLHA - Antes do cinema, você trabalhava nos negócios de sua família. Em que ramo atuam?
LUIS EDUARDO GIRÃO - Trabalhamos com terceirização de serviços, limpeza, segurança e transporte de valores, e hotelaria, empresas que geram 8.000 empregos. Na década de 80, meu pai teve três jornais dos Diários Associados, "Correio do Ceará", "Unitário" e "Meio Dia". Passei a minha infância nesse clima frenético de redação.

Qual foi a sua formação religiosa? Como entrou no espiritismo?
Muito ligada à Igreja Católica. Fui batizado e fiz primeira comunhão. A minha história no espiritismo começou em 2001. Eu estava enfrentando uma crise existencial, um vazio me tomava apesar do sucesso profissional e da conquista de grande patrimônio. Tive síndrome do pânico. Um dia, estava em São Paulo e fui ver uma peça chamada "O Cândido Chico Xavier". Chorei feito criança e minha vida mudou definitivamente. Sem nada conhecer de produção teatral, levei essa peça a Fortaleza e foi um sucesso. Mais de 4,2 mil pessoas em um final de semana.
Fundei uma ONG, a Estação Luz, e criamos a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, evento beneficente que ocorre há oito anos em Fortaleza.

Antes de produzir "Bezerra de Menezes", que relação tinha com o cinema? Sonhava em trabalhar com isso?
Nenhuma. Cai de paraquedas. Não sou cinéfilo e considero que não entendo quase nada de cinema ainda. Nunca sonhei em trabalhar com cinema. Quando era bem novo, cheguei a filmar e editar casamentos e a fazer uma espécie de telejornal do condomínio onde morava. Coisas de menino se apaixonando pela tecnologia.

Como surgiu a ideia de fazer "Bezerra de Menezes"?
Com o sucesso da mostra de teatro transcendental. Pensamos que, se ela já atinge 30 mil pessoas, um filme poderia atingir muito mais.

Como financiou o filme?
A produção custou R$ 1,6 milhão, a distribuição, R$ 100 mil e a divulgação, R$ 600 mil. Eu investi a metade disso, e a outra metade, consegui com patrocinadores por meio de leis de incentivo fiscal.

Enfrentou resistência de empresários pelo fato de o filme ser espírita?
Não encontramos muita dificuldade. De cada dez portas que batemos, uma se abria. Hoje, com o retumbante sucesso de "Bezerra", "Chico Xavier" e "Nosso Lar", será tudo mais tranquilo.

Quem são os investidores?
Bic Banco, Leites Betânia, Capemisa, Coelce (Cia Energética do CE) e Grupo Ype são os principais. Em "As Mães de Chico Xavier", a maior parte será das leis de incentivo e pequena parte, minha, que deve retornar com o resultado da bilheteria.

O lucro com "Bezerra" foi investido em quê?
Apesar da venda de mais de 40 mil DVDs e da bilheteria de 505.369 pessoas, o filme lucrou pouco. "Bezerra" pagou o preço por ser o pioneiro e não reclamamos disso. Ele teve o papel de despertar o mercado para a temática transcendental, que há décadas se mostrava atrativa na literatura. O que sobrou dele investimos na coprodução com Daniel Filho, em "Chico Xavier".

Sua produtora fará apenas filmes com esse tema?
Sim. Só nos envolvemos em filmes transcendentais, algo que necessariamente traga uma mensagem transformadora para a vida das pessoas. Fiz "Bezerra" por puro idealismo. Acreditamos que filmes nessa linha constroem um mundo melhor.

Por que, em sua opinião, esses filmes estão fazendo tanto sucesso?
O inconsciente coletivo das pessoas pede isso. Ninguém aguenta mais ver na mídia tanta violência, tanta notícia ruim, corrupção, terrorismo.

Você vê interferência do plano espiritual em suas produções?
Já ouvi relatos impressionantes de nossa equipe dizendo que a ajuda espiritual foi fundamental para que o cronograma das filmagens fosse cumprido. Isso sem falar na atmosfera de paz celestial na equipe. Parece que trabalhamos no Nosso Lar [espécie de paraíso para onde vão os espíritos, segundo o livro de Chico Xavier].

Como responde a quem possa acusá-lo de explorar a fé?
Respeito o julgamento de algumas pessoas. Estamos no mundo material e somos suscetíveis a certas incompreensões. Tenho consciência das nossas reais intenções com esse movimento no cinema. Para alavancar, crescer e produzir mais e mais filmes com essa poderosa temática é preciso ter lucro. Lucro no mundo dos negócios é sinônimo de vitalidade e precisamos disso para seguir em frente. O dinheiro em si não é "do bem" nem "do mal". O uso que se faz dele é que pode ser pernicioso ou glorificante.

 

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