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21/10/2010 - 07h05

Chantal Akerman compara seu cinema ao YouTube

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JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Escalada para uma Bienal que discute as relações entre arte e política, a cineasta belga Chantal Akerman, 60, não está muito interessada no assunto.

Acompanhe as últimas notícias da Bienal de Arte de São Paulo

"Eu não dou a mínima para isso. Arte é arte. Se a arte é boa, pode tocar na política", afirmou à Folha, por telefone, de Paris, onde mora.

Em "D'Est, au Bord de la Fiction" (1993), videoinstalação que está na mostra do Ibirapuera, esta filha de judeus poloneses registra uma viagem pelo Leste Europeu logo após a queda do bloco comunista.

Do Leste Alemão até a Rússia, ela lança um olhar vagaroso e melancólico sobre as paisagens geladas, e enquadra milhares de rostos em trânsito.

"Eu não fiz o filme para fazer arte política. Ele se tornou político porque depois tudo mudou. Para mim, foi mais afetivo. Todas aquelas pessoas esperando, e esperando... para mim foi muito emotivo", disse.

"Tombée de Nuit sur Shangaï", outro filme seu, que será exibido hoje dentro da programação de filmes da mostra, retrata o cair da noite no porto da metrópole chinesa.

Nos arranha-céus da cidade, são projetadas lado a lado imagens tão díspares quanto os girassóis de Van Gogh e fogos de artifício em neon; o mesmo estranhamento surge quando uma versão em espanhol de "I Will Survive" é alternada pela erudição de Chopin.

"Os dois últimos prédios, no final do filme, são como dois tótens sobre o poder da China, mas não apenas isso. O fato de misturar imagens de pinturas muito famosas, como a 'Monalisa', ao Pato Donald, quer dizer que não há mais cultura, tudo está no mesmo nível. É como.... como o YouTube!"

O curta integra o filme "O Estado do Mundo", de 2007, que tem ainda segmentos do português Pedro Costa e do tailandês Apichatpong Weerasethakul, ambos também presentes na Bienal.

"Eles (os chineses) misturaram tudo, e a música é tão ruim... sabe, é como se nada mais importasse. São apenas imagens, e quem se importa quais imagens? Para mim é o começo de um novo mundo", profetizou.

Divulgação
A cineasta belga Chantal Akerman
A cineasta belga Chantal Akerman

GODARD E AMÉRICA

Foi após uma sessão de "Pierrot Le Fou" (1965), de Jean-Luc Godard, que Chantal Akerman decidiu fazer cinema.
Seu longa mais notório, "Jeanne Dielman, 23, Quai de Commerce, 1080, Bruxelles" (1975) descreve três dias na vida de uma dona de casa que se prostitui, e tem um final trágico.

Passadas quatro décadas desde sua estreia em 1968, com o curta "Saute Ma Ville", Akerman ainda mantém a admiração pela obra do mestre da nouvelle vague.

"Eu vi o último filme de Godard e amei quinze minutos desse filme, e não me importei com o resto. Naqueles quinze minutos havia mais do que em centenas de outros filmes", disse, referindo-se a "Filme Socialisme", a mais recente produção do francês.

Por quê? "É muito complicado explicar, estou cansada para explicar por quê, mas lembre-se: aqueles quinze minutos foram tão impressionantes que não me importei muito com o resto... e eles valem mais do que centenas de outros filmes", repetiu.

Em novembro, a diretora começa a rodar sua adaptação do romance "A Loucura do Almayer", de Joseph Conrad (1857-1924). E, em 2011, volta a Nova York, onde viveu na década de 70, para lecionar na City University of New York.

Da experiência americana, recorda o aprendizado: "Tudo. Liberdade. Se você não quer trabalhar no mainstream, você aprende a liberdade. Liberdade como pensador, como cineasta, como tudo."

Programação de filmes hoje no terreiro "A Pele do Invisível":

"Iluminai os Terreiros", de Eduardo Climachauska, Gustavo Moura e Nuno Ramos, 44min.
"New Babylon de Constant", de Victor Nieuwenhuijs e Maartje Seyferth, 13min.
"Brasília, Contradições de uma Cidade Nova", Joaquim Pedro de Andrade, 30min.
"Ya Es Tiempo de Violência", de Enrique Juarez, 45min.
"100comédia 3", de Cripta Djan, 44min.
"Tombée de Nuit Sur Shangaï", de Chantal Akerman, 15min.

QUANDO hoje, às 9h15, 14h e 18h
ONDE 29ª Bienal de São Paulo (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
QUANTO grátis

 

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