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Diretora diz que Yoko Ono se emocionou com filme sobre Lennon
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FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES
A britânica Sam Taylor-Wood estreou na direção de longa-metragem com "O Garoto de Liverpool", sobre a juventude de John Lennon. O filme estreia hoje no Brasil, a cinco dias do aniversário de 30 anos da morte do músico.
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Filme "O Garoto de Liverpool" é convencional e artisticamente nulo
A história é centrada nas "duas mães" de Lennon: sua tia Mimi, que o criou, e Julia, que o abandonou ainda criança, o reencontrou adolescente e morreu pouco depois.
Antes de se aventurar no cinema, Taylor-Wood já tinha uma carreira consolidada como artista plástica, com trabalhos em fotografia e vídeo que já foram expostos algumas vezes em São Paulo.
Entre suas obras mais conhecidas está a série de fotografias "Crying Men", na qual retrata personalidades chorando, como Sean Penn, Benicio Del Toro e Paul Newman.
Sobrevivente de dois cânceres, a diretora foi casada com o poderoso galerista Jay Jopling, dono da White Cube, que representa Damien Hirst e Tracey Emin.
Hoje, Taylor-Wood, 43, mora com o ator conterrâneo Aaron Johnson, 20, famoso como protagonista de "Kick Ass - Quebrando Tudo". Ele é Lennon em "O Garoto de Liverpool".
Os dois se apaixonaram durante as filmagens e hoje têm um bebê com menos de um ano.
Leia a seguir trechos da entrevista que Taylor-Wood deu à Folha num hotel em Los Angeles.
Divulgação | ||
Cena do filme "O Garoto de Liverpool", estreia na direção da artista plástica britânica Sam Taylor-Wood |
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Folha - Como sua experiência em artes plásticas, com trabalhos mais arriscados, lhe ajudou neste primeiro longa, uma narrativa tradicional?
Sam Taylor-Wood - Por já ter trabalhado com fotografia e filme, a transição foi bem tranquila, não senti que estava entrando num mundo desconhecido. Foi natural. O meu trabalho já lidava com atores e emoções intensas, então acho que tudo isso cresceu e continuou dentro do filme. A maior diferença foi que eu nunca tinha contado uma história antes, esta foi a novidade.
Folha - Como diferencia trabalho como artista e diretora de cinema?
É uma diferença significativa. Você não tem produtores quando está fazendo seu trabalho de arte. Tem aquela sensação de que está livre para fazer qualquer coisa que quiser. E no filme, outras pessoas tinham o direito de ter opiniões diferentes. E eu tinha que ouvir todas. Não foi fácil. Mas foi OK, não teve nenhuma grande batalha. No geral, tive uma liberdade criativa bem grande. Mas foi a primeira vez que tive uma sensação de algo parecido com censura. Não é fácil.
Folha - Que tipo de pressões sentiu?
Todo mundo tem uma versão para várias coisas na vida de Lennon. Por exemplo, quem deu sua primeira guitarra? Coisas assim foram difíceis. O legado de Lennon pesou muito numa época. E também havia muitas pessoas querendo falar comigo, dizendo para fazer assim ou assado, como proteger Lennon etc.
Folha - Pensou em desistir?
Teve um momento em que pensei que não poderia fazer o filme, era muito grande para ser meu primeiro longa. Mas então aconteceu algo incrível. Entrei no carro e pensei em ligar para os produtores e dizer para termos uma reunião, que talvez fosse melhor eu fazer outro filme. Coloquei a chave na ignição e a voz de Lennon veio direto do rádio. E ele estava cantando "Starting Over". Fiquei arrepiada. Era como estar conversando com ele. 'Ok, ok, eu faço, mas você tem que me ajudar'. Durante o filme todo aconteceram momentos como este.
Folha - A aprovação de Yoko Ono foi importante?
Sim, mas principalmente porque eu odeio confrontações, não gosto de magoar pessoas, quero deixar todos felizes. Mas num momento percebi que isto não iria acontecer. Então escrevi para o máximo possível de pessoas que eu sabia que seriam afetadas por este filme e pedi: 'Se você tiver qualquer coisa para falar sobre isto, então por favor faça agora, no começo, e não no final'. E Yoko veio com vários insights e detalhes que foram muito úteis.
Folha - Que tipo de detalhes?
Ela foi muito importante para eu entender Mimi. Ela me disse que muitas biografias demonizaram Mimi e que a gente tinha que lembrar John amava Mimi e que Mimi amava John. E essa era a coisa mais importante que eu tinha que lembrar. Por causa deste amor, ela ensinou muitas coisas a ele, sobre música, sobre poesia.
Folha - Yoko parece muito uma mistura de Mimi e Julia, não? Liberal como Julia e rígida como Mimi.
É verdade. Nunca pensei nisso antes, mas acho que ela tem isso sim. Yoko é uma artista, muito provocativa. E ao mesmo tempo é uma pessoa muito reservada. O filme é sobre a transição de menino para homem, de toda a dor que ele passou, para entendermos o que criou o Lennon que conhecemos hoje.
Folha - E que tipo de detalhes Paul McCartney deu sobre Lennon?
Ele me deu cópias das fitas que ele e John gravaram algumas das músicas. E me contou coisas sobre John, alguns maneirismos, de como Mimi falava sempre sobre seus óculos e como ele sempre falava de Mimi, que era uma pessoa muito forte, durona, mas também carinhosa e cuidadosa. Foi importante ouvir da boca de Yoko e Paul porque no geral Mimi é muito demonizada nas biografias.
Folha - E o que eles acharam do filme?
Yoko não falou nada até ver o filme inteiro, pronto. Tivemos que rodar três cenas sem ter os direitos das músicas "Hello Little Girl", "In Spite of All the Danger" e "Mother". Ela me ligou muito emocionada, cheia de elogios e disse que daria os direitos de "Mother", que nunca tinha dado antes, porque, ela disse, este era o retrato mais forte de Lennon que ela já tinha visto. Foi uma grande aprovação.
Folha - Tem uma cena um tanto incestuosa, quando Lennon e Julia estão deitados no sofá. Da onde você tirou isto?
Tem uma biografia de Philip Norman que tinha acabado de sair quando estávamos quase começando o filme. E na biografia tem essa passagem, com Lennon sendo bem tipicamente provocativo, mas ao mesmo tempo dizendo algo como: 'eu conheci minha mãe, ela é linda e teve esse momento em que ela chegou muito perto de mim e seus seios tocaram meus braços e naquele momento eu poderia tê-la'. E ele segue com uma série de detalhes de como ela estava vestida, usamos tudo isto para o filme.
Folha - E como foi se apaixonar pelo protagonista no meio das filmagens? Teve algum momento em específico do filme que você se deu conta?
Teve, sim. Foi quando estávamos filmamos "In Spite of All the Danger", foi uma cena muito incrível, num dia muito emocional. Todo mundo estava muito sensível, foi logo depois da morte da mãe e todo mundo tinha que sentir isso. Foi intenso. E a luz naquela cena era tão linda, todo mundo estava na mesma vibração e funcionou muito bem. Adoraria fazer mais filmes com Aaron, ele é tão talentoso e tão extraordinário de se olhar na tela. É um perfeccionista, tem uma intensidade forte.
Folha - E qual o próximo passo? Volta para as artes ou continua no cinema?
Adoraria fazer mais filmes, me diverti muito, quero repetir a experiência. Mas eu não sei ainda. Já li muito material e nada é tão poderoso como este primeiro filme. Estou procurando o material certo.
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