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10/12/2010 - 08h27

Chinês Ai Weiwei é impedido de viajar e desfalca cerimônia do Nobel

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FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

A premiação do Nobel da Paz hoje na Noruega terá duas grandes ausências: a do vencedor, o dissidente Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão, e a do seu compatriota e aliado Ai Weiwei, 53, o artista chinês mais reconhecido mundialmente.

No dia 1º de dezembro, Ai tentou embarcar de Pequim a Seul, na Coreia do Sul, de onde viajaria para a Europa. O artista já estava na sala de embarque quando foi abordado por policiais.

"Eu lhes disse: 'Por favor, diga-me a verdade, vocês estão evitando que eu saia do país'. Uma policial riu e disse: 'sim'. E me deram uma nota escrita que afirma que os meus atos poderiam afetar a segurança nacional", descreveu Ai, em entrevista a jornalista estrangeiros.

Ai disse que a viagem era relacionada ao seu trabalho e que não planejava ir a Oslo hoje, mas nem os seus amigos acreditam.

Provocador, o artista está num jogo de gato e rato desde que Liu Xiaobo, condenado a 11 de prisão, foi nomeado Nobel da Paz, acendendo a fúria do regime comunista.

Com certa imunidade devido à sua fama internacional, Ai tem mais liberdade do que outros artistas e ativistas para criticar o governo, algo que tem feito sistematicamente a veículos estrangeiros como o "New York Times" e a CNN (ele se recusou a falar com a Folha nas últimas três semanas, alegando falta de tempo).

"O governo, todo o sistema sacrifica a educação, os recursos ambientais e a maioria dos interesses da população apenas para fazer algumas pessoas extremamente ricas apenas por estarem associadas ao governo", disse em entrevista recente.

Além dos meios estrangeiros, a outra plataforma de Ai é a internet.

Só no Twitter ele tem pouco mais de 59 mil seguidores, apesar de o site de microblog ter acesso proibido na China --para acessá-lo, é preciso ter uma conexão de outro país.

"A internet é o melhor presente para a China, esse tipo de tecnologia acabará com essa ditadura", escreveu no Twitter, em mandarim.

Andy Rain/Efe
O artista chinês Ai Weiwei
O artista Ai Weiwei, que foi impedido pelo governo chinês de viajar e acabou desfalcando a cerimônia do Nobel

CARANGUEJOS

A proteção da fama não deixa Ai totalmente ileso. Na primeira semana de novembro, ele ficou em prisão domiciliar durante três dias, para evitar que fosse a uma festa organizada por ele em Xangai.

O motivo da festa era "celebrar" a decisão do governo local de demolir o seu estúdio na cidade, orçado em cerca de US$ 1,2 milhão (R$ 2 milhões). O prédio, que ainda não foi demolido, é considerado ilegal pelo governo local, que nega motivação política.

A festa acabou sendo realizada sem Ai. Por ideia do artista, foram servidos 10 mil caranguejos de rio. Em mandarim, o animal tem o nome de "he xie" (harmonia). Foi uma ironia à "sociedade harmônica", um dos termos mais repetidos da novilíngua do governo chinês.

Não é a primeira provocação do artista ao governo. No ano passado, expôs em Tóquio uma longa serpente desenhada com centenas de mochilas escolares. Era um protesto às mais de 5.000 crianças mortas dentro de escolas mal construídas durante o terremoto em Sichuan, em 2008.

Ai Weiwei é o artista chinês contemporâneo mais conhecido no exterior e atualmente expõe a obra "Círculo de Animais", um conjunto de cabeças de bronze que representam as figuras do zodíaco, na 29ª Bienal de São Paulo. A Fundação Bienal se solidarizou com o artista, quando de sua prisão domiciliar.

Ele participou da Bienal de Veneza e protagonizou mostras importantes como a Documenta de Kassel, na Alemanha, além de exposições no Japão e em outros países.

Também arquiteto, ajudou na concepção do Estádio Olímpico de Pequim, o "Ninho de Pássaro", ícone dos Jogos de 2008.

 

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