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Dramaturgo Jô Bilac escreve sobre influência de Nelson Rodrigues em sua geração
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JÔ BILAC
ESPECIAL PARA A FOLHA
Perguntei no saguão como fazia para falar com o autor do espetáculo em cartaz no teatro Carlos Gomes. A peça era "A Vida como Ela É", dirigida por Luiz Arthur Nunes.
Eu, com 17 anos, via uma peça de Nelson Rodrigues pela primeira vez e, na época, não sabia que infelizmente para falar com ele só através de contato mediúnico.
Nelson sempre esteve presente em algum lugar do inconsciente da minha geração, talvez como algo das antigas, entre lúgubre e erótico.
Entrei na escola de teatro logo em seguida, profundamente afetado por aquele texto, e percebi que todo jovem estudante de teatro tinha a tara de montar um lance do Nelson Rodrigues.
À risca ou desconstruindo o universo rodriguiano, ou um novo olhar, ou a negação... O fato é que Nelson ainda provoca e fascina.
E comigo não foi diferente, daí o primeiro trabalho da minha companhia ("Cachorro!") ser baseado no grande mestre e suas influências.
Nelson vai no elementar humano, dilata e revira ao avesso, numa exposição direta. Mas a temática em si nem é tão chocante e a maioria dos enredos se tornaram previsíveis para quem convive com esse avesso.
Para mim, o pulo do gato está em como ele faz. A identidade sacana e atormentada, comum a qualquer brasileiro. A estrutura dramática e os diálogos insuperáveis! As piadas, a inteligência do ponto de vista... Tudo isso faz Nelson ser atualíssimo.
Vi "Memória da Cana" e fiquei impactado, descobrindo mais uma possibilidade para um texto que estou careca de ler ("Álbum de Família"). É o que me deprime.
Num processo de escrita, procuro não ler nada do Nelson para não entrar em crise.
Sou honrado em ter o mesmo ofício que ele e atormentado com a genialidade que faz com que me sinta banal.
Mas sou abusado. Tenho um grande respeito por Nelson e, por isso, um estranho senso de intimidade. Sinto Nelson perto. Tão solitário e deus como qualquer escritor diante da folha em branco.
Jô Bilac é dramaturgo e diretor; escreveu "Cachorro!"
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