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21/02/2011 - 07h47

Americano premiado em Berlim teve que recorrer a fundos europeus

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ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Poucas horas da cerimônia de premiação do Festival de Berlim, na noite do último sábado, o produtor Paul Mezey conversou com a Folha.

A ansiedade pelo resultado era tanta que ele sequer conseguiu disfarçar. Chegava a rir de nervoso se a conversa resvalava na premiação.

Não veio o Urso de Ouro, mas veio um Urso de Prata, pelo roteiro de "The Forgiveness of Blood", um dos melhores filmes exibidos na competição da Berlinale.

Divulgação
"The Forgiveness of Blood", do diretor norte-americano Joshua Marston, exibido no Festival de Berlim
"The Forgiveness of Blood", do diretor norte-americano Joshua Marston, exibido no Festival de Berlim

Dirigido por Joshua Marston, que fez o longa-metragem "Maria Cheia de Graça" e já dirigiu episódios de séries de TV como "A Sete Palmos", "Lei e Ordem" e "In Treatment", o filme se passa todo na Albânia.

Marston e Mazey ficaram um ano e meio no país.

Os dois são amigos desde os tempos da Universidade de Yale. Mazey mixou o curta-metragem de conclusão de curso de Marston e, desde então, produziu todos os seus filmes.

Mazey não escreve, não dirige e nem pretende fazer isso, mas participa da criação de todos os longas-metragens que produz desde o início do projeto.

No caso de "Forgiveness of Blood", discutiu com Marston a história, viajou com ele para a Albânia e participou da árdua escolha do elenco --mais de 3 mil adolescentes foram testados para os dois papeis principais.

Nesta entrevista exclusiva, o produtor conta que esse desejo que ele e Marston têm de conhecer o mundo e de levar questões complexas à tela não cai muito no gosto dos investidores de seu país.

Para viabilizar o último projeto, eles tiveram de ir bater em portas europeias.

Folha - Nós, que vivemos na América Latina, tendemos a achar que, nos Estados Unidos, é muito mais fácil conseguir dinheiro para fazer filmes do que em outros lugares. Mas há de fato espaço no mercado norte-americano para um projeto como o de vocês?

Paul Mazey - Os últimos anos foram muito difíceis para o mercado de filmes de arte nos Estados Unidos. O mercado de entretenimento foi atingido pela queda nas vendas de DVDs e pelos filmes sendo baixados na internet. Os mais atingidos pela queda nos lucros foram os filmes independentes, que deixaram de ter como recuperar os investimentos nesses mercados secundários, de vídeo e TV.

A essa crise do mercado de entretenimento se somou a crise financeira mundial, em 2008, e aí ficou realmente difícil conseguir dinheiro. Nós tínhamos dois grandes projetos que seriam financiados por fundos norte-americanos, mas percebemos que não conseguiríamos levá-los adiante, apesar da ótima reputação do Joshua [Marston).

Decidimos então procurar um projeto menor, e chegamos a este filme sobre a Albânia.

Folha - E de onde vieram os recursos para esse filme?

O dinheiro inicial veio de organizações sem fins lucrativos que têm fundos destinados a projetos culturais. O primeiro deles era sueco e depois vieram outros fundos da Europa, até porque esse é um assunto que interessa aos europeus. Quer dizer, começamos o projeto de uma maneira completamente diferente. Fomos atrás de quem estava interessado em apoiar projetos ligados a uma pesquisa histórica e política. Foi, ainda assim, um filme modesto.

Folha - Mas não parece um filme de baixo orçamento...

Não é um filme de baixíssimo orçamento, claro. Foi todo feito em 35 milímetros e nas condições que considerávamos adequadas para a estética que Josh procurava.

Folha - Mas vocês não enfrentam dificuldades na Europa pelo fato de serem norte-americanos, ou seja, de serem do mesmo país que tem Hollywood?

Temos, mas nem tanto porque eu sou americano, mas porque o diretor é. Os Estados Unidos não têm acordos de coprodução com outros países, então é natural que olhem para a gente com certa desconfiança: 'O que esses americanos querem aqui?'"

Folha- Os Estados Unidos entraram com que parte do orçamento?

Cerca de 70% do orçamento veio da Europa e 30% dos Estados Unidos.

Folha - E o filme já tem distribuição nos Estados Unidos?

Não, mas esse é o tipo de filme que consegue melhor distribuição depois de passar por um festival. Nós tentamos colocá-lo em Berlim, e felizmente conseguimos, para captar a atenção da mídia, da crítica e aí sim atrair os distribuidores. Mas o que acabou sendo muito estressante para a gente aqui é que o filme foi exibido no último dia de festival...

Folha - Vocês acharam que ninguém mais ia notá-lo...

É, muita gente do mercado já tinha ido embora, parte da imprensa também. Ficamos ansiosos.

Folha - E ainda tinham que ficar lendo que o ganhador do Urso de Ouro já tinha sido exibido...

Exatamente. Mas, no fim, a recepção foi realmente muito boa. O público teve uma recepção incrível. As críticas eu quase não li, mas as questões que os jornalistas têm feito mostram que o filme provocou coisas profundas nas pessoas.

 

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