Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
19/03/2011 - 08h27

Michel Laub se rende ao judaísmo pela primeira vez

Publicidade

GUILHERME BRENDLER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em toda entrevista, ao lançar um livro, Michel Laub, 37, tem de enfrentar a mesma pergunta: "Esta é a sua obra mais autobiográfica?".

Desta vez, o escritor sorri, respira fundo e responde: "Todos os meus livros são memorialísticos. Sempre me dediquei a temas ligados a perdas, mas nem sempre são coisas que eu vivi". Mas a pergunta é irresistível por culpa do próprio autor.

Algumas características do protagonista de "Diário da Queda", seu quinto romance, recém-publicado pela Companhia das Letras, são muito parecidas com as de Michel Laub.

O personagem é um homem de quase 40 anos, judeu, estudou direito, não concluiu o curso de jornalismo, mudou-se de Porto Alegre para São Paulo para trabalhar numa revista quando tinha 20 e poucos.

"É natural que isso aconteça. Não é culpa dos outros. Forço essa situação porque escrevo em primeira pessoa e sempre ponho alguns dados autobiográficos nos livros."

De tanto as pessoas o questionarem sobre quais fatos narrados nos livros o escritor viveu, ele começou a incluir informações de propósito para causar alguma confusão. "Mando recados pelos livros pra um único leitor, às vezes. Faz parte da diversão de escrever."

Pela primeira vez o judaísmo aparece em um romance de Laub. O avô do protagonista, único da família a sobreviver a Auschwitz, deixou 16 volumes de memórias escritos. Porém, não revela uma única linha sobre o campo de concentração nazista.

Nenhum dos avôs de Laub foi prisioneiro, mas ele tem um primo cujo avô foi mandado a um campo de concentração. "São situações que rendem ficcionalmente. Não existe objeto literário numa mera reprodução da vida."

No entanto, às vezes, o limite entre vida real e ficção fica bastante tênue. Em "Diário da Queda", o pai do narrador fica doente e, em seguida, morre.

"A história não tinha a ver comigo, mas durante a escrita do livro, meu pai adoeceu e morreu. Pensei em não publicá-lo agora porque ia parecer indevidamente que é um trabalho autobiográfico."

Letícia Moreira/Folhapress
O escritor Michel Laub, que acaba de lançar seu quinto romance, "Diário da Queda", em sua casa no Jardins, em SP
O escritor Michel Laub, que acaba de lançar o quinto romance, "Diário da Queda", em sua casa no Jardins, em SP

RECONHECIMENTO

"Toda a obra do Michel é marcada pela sensibilidade e pela delicadeza ao tratar temas do cotidiano", afirma o crítico da Folha, Nelson de Oliveira. Para ele, Laub integra uma geração de escritores que se preocupa muito com a elegância da narrativa.

Segundo o crítico, fazem parte desse mesmo grupo autores como Milton Hatoum, Cíntia Moscovich e João Anzanello Carrascoza.

O editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, prevê que "Diário da Queda" será o livro capaz de tornar a obra de Laub mais conhecida. Para ele, o livro tem potencial para causar forte impacto emocional nos leitores.

Laub também ficou satisfeito com o resultado da obra: "Consegui dizer o maior número de coisas. Ter escrito em fragmentos possibilitou uma escrita mais solta que a os anteriores. Considero o meu melhor livro".

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página