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Filme "Tancredo" é emocionante aula de história e política
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ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
"Tancredo, a Travessia" repete a fórmula da história real, alternando as espetaculares manifestações de rua com as competentes articulações de gabinete que em 1985 confluíram para a redemocratização em segurança e em clima de festa.
Velhos filmes, fotos e entrevistas misturam-se a depoimentos recentes de políticos e artistas. É assim que o engajado Silvio Tendler nos leva ao passado.
Todo em preto e branco, o que lhe confere densidade, o filme recupera a história a partir de 1930, indo buscar em Getúlio Vargas o fio da meada do golpe militar de 1964 e os personagens da redemocratização de 1985.
No centro, Tancredo Neves, ministro da Justiça de Vargas, primeiro-ministro no parlamentarismo que garantiu a efêmera posse de João Goulart, a última mão a cumprimentar Juscelino Kubitschek na partida para o exílio.
Na ditadura, recolheu-se a um discreto mandato na Câmara. Diferentemente de JK, foi o único do PSD a não votar em Castelo Branco para a Presidência. Mesmo assim, não foi cassado.
O mineiro Tancredo atravessou décadas, governos e regimes até se transformar no instrumento do fim do autoritarismo, uma revolução sem armas ou sangue, feita na melhor articulação política e embalada pelas ruas.
"Conciliação" foi a palavra-chave da atuação de Tancredo, reforçada por fatos e depoimentos de protagonistas como Fernando Henrique Cardoso, José Sarney, Fernando Lyra e Aécio Neves.
Folhapress | ||
O presidente Tancredo Neves (1910-1985), que é focado em documentário de Silvio Tendler, em foto de 1984 |
Se faltou alguém, foram Jorge Bornhausen e Guilherme Palmeira que, ao lado de Marco Maciel, capitanearam a dissidência do PDS, o partido do regime militar.
Foi essa Frente Liberal que deu sustentação à insubordinação de Aureliano Chaves e à entrada em cena do próprio Sarney. Fechou-se o cerco.
Assim como o país se uniu pelas Diretas Já, deslizou suavemente para o apoio à Nova República, possível com a eleição de Tancredo pelo colégio eleitoral.
Excluíram-se apenas a linha dura militar, o deputado Paulo Maluf (que Tancredo derrotou na eleição indireta) e, de outro lado, o PT.
O destino e os médicos --como Tendler explora bem-- impediram que Tancredo assumisse. Como Getúlio, saiu da vida e entrou para a história. Sarney, que seria transitório, ficou cinco anos.
O filme começa com a comunicação da morte de Tancredo pelo jornalista Antônio Britto, porta-voz da longa agonia. E acaba com Aécio Neves reproduzindo a última frase que ouviu do avô Tancredo: "Eu não merecia isso".
Para quem era jovem demais ou nem tinha nascido, "Tancredo, a Travessia" é uma aula de história, de política e de otimismo.
Para quem viu a história acontecer, é uma emoção, com o hino nacional na voz de Fafá de Belém, "Vai Passar", de Chico Buarque, e "Coração de Estudante", de Milton Nascimento. Ali, o Brasil estava de parabéns. Agora, o filme também.
TANCREDO, A TRAVESSIA
DIREÇÃO Silvio Tendler
QUANDO hoje, às 15h, no Cine Livraria Cultura, em São Paulo
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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