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Mostras políticas são destaque em pavilhões da Bienal de Veneza
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FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
O calor em Veneza, que chegou a 30º C, não se refletiu na seção principal da 54ª Bienal de Veneza. A mostra é aberta hoje ao público.
Veja fotos da Bienal de Veneza, que começa hoje
Por outro lado, o clima esquentou em grande parte das 89 representações nacionais, nas quais os artistas são escolhidos pelos próprios países, sem passar pela curadoria central, e nas quais foram apresentados temas altamente politizados.
Os EUA, com a dupla Allora & Calzadilla, abordam a cultura da guerra e da competitividade. A Polônia é representada pela artista de Israel, Yael Bartana, que retoma o tema do Holocausto.
A Dinamarca defende a liberdade de expressão numa mostra coletiva que traz até uma obra do cartunista Robert Crumb censurada pela "New Yorker" em 2009.
O Brasil, com o radical Artur Barrio, também apontou em sentido inverso ao tédio da mostra principal.
Filippo Monteforte/France Presse | ||
Obra sem título do artista plástico suíço Urs Fischer, que participa da principal seção da Bienal de Veneza 2011 |
BELICISMO
O barulho do tanque de guerra, cujos trilhos se movem com um atleta correndo sobre uma esteira de ginástica, já aponta para o tema abordado no pavilhão norte-americano: a competitividade que move uma guerra.
A obra se torna metáfora da própria Bienal, onde os países disputam o Leão de Ouro, a ser anunciado hoje.
Allora & Calzadilla ainda levam ginastas a fazer evoluções em poltronas de avião, na obra "Body in Flight (Delta)", e apresentam uma miniatura dourada da Estátua da Liberdade, só que com instrumentos bélicos, em "Armed Freedom Lyong on a Sunbed".
Tais obras mostram ainda que arte e política podem ser vistas com bom humor.
É o caso do suíço Hirschhorn, que aqui empacotou objetos de consumo, como celulares ou bonecas Barbie, em papel-alumínio, num ambiente cavernoso, como se a tecnologia atual apenas levasse o homem a retornar a condições pré-históricas.
VAZIO
São trabalhos intensos e complexos como esses que não são vistos em "ILLUMInazioni", o título da seção principal da Bienal.
Bice Curiger, em sua seleção de 83 artistas, optou por obras que se tornavam ilustrativas demais do tema ou que pouco agregavam a ele, constituindo uma mostra gélida como um corpo morto.
Conservadora, a exposição, já no nome, ainda reforça o conceito de nação num momento de crescimento do racismo e do preconceito contra imigrantes na Europa.
Para os artistas selecionados, a curadora perguntou: "A comunidade artística é uma nação?". Todos os que responderam tiveram os textos publicados no catálogo.
Não por acaso, a maior parte das respostas é negativa ao conceito de Curiger.
Como a de Barrio: "Claro que não. E, de qualquer jeito, a ideia de nação está ultrapassada".
SEM CONTEXTO
Mesmo o que poderia ser o fator surpresa, expor três obras monumentais de Tintoretto (1518-1594), revelou-se uma estratégia equivocada: retirando-o de seu contexto, a Galleria dell'Accademia, ele tornou-se apenas uma alegoria.
Melhor se viu na Bienal de Berlim, no ano passado, que incluiu Adolph Menzel (1815-1905), mas que devia ser visto onde permanece exposto, na Antiga Galeria Nacional.
Se o conceito de nação serve para algo nessa Bienal, é para reforçar estereótipos como os da origem de sua curadora: neutra, gélida e comedida --tudo aquilo que se costuma associar à Suíça.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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