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Eleição reaviva discussão sobre requisitos para entrar na ABL
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FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Merval Pereira, quem diria, foi parar nos "trending topics".
Ao ser eleito anteontem para uma cadeira da ABL (Academia Brasileira de Letras), o jornalista carioca --colunista de "O Globo" e comentarista do canal Globonews e da rádio CBN-- tornou-se um dos temas mais comentados no Twitter.
Virou assunto por reavivar uma surrada discussão: quem merece entrar na ABL e quais os requisitos para isso?
Pereira, dois livros publicados (uma reunião de artigos, sozinho, e uma série de reportagens, em coautoria), venceu com folga (25 votos a 13) o escritor Antônio Torres, 17 obras publicadas, entre romances, contos e crônicas.
A nova controvérsia deriva, na verdade, de um debate tão antigo quanto a ABL, fundada em 1897.
Em seu discurso naquele ano, Joaquim Nabuco (1849-1910), um dos fundadores, defendia a expansão dos limites da casa. "Algumas das nossas individualidades mais salientes nos estudos morais e políticos, no jornalismo e na ciência, deixaram de ser lembradas. A literatura quer que as ciências, ainda as mais altas, lhe deem a parte que lhe pertence em todo o domínio da forma."
A abertura é, ultimamente, uma política deliberada do presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça.
Shows de samba na sede e condecorações a boleiros se inserem nesse quadro.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
CLUBE
O crítico literário Fábio Lucas, membro das academias Paulista e Mineira de Letras e candidato derrotado à ABL em 2008, considera que a casa está exagerando na dose.
"As academias [a ABL e as estaduais] estão reunindo mais notáveis de outras áreas do que da literatura. É justo que aspiremos um maior número de escritores."
O romancista Cristóvão Tezza aponta que a diversidade resulta do caráter clubístico da ABL. "É uma instituição privada, um clube, que estabelece seus próprios critérios e vive sob o impacto de ondas políticas."
Tezza diz não ter a menor vontade de integrar o clube.
Apontado como candidato imbatível, caso queira concorrer (o que considera "fora de cogitação"), o poeta Ferreira Gullar, colunista da Folha, avalia que é difícil uma casa nos moldes da ABL se manter fora do jogo de interesses e pressões políticas.
"Não pertenço a nenhuma instituição para não ter de lidar com esses problemas. Já tenho problemas demais", diz, ressalvando que considera Merval Pereira um escritor e um homem inteligente.
O jornalista e acadêmico Cícero Sandroni, que já presidiu a ABL, destaca o componente político de uma eleição na casa. "O Merval é um homem da mídia, alguém que, na política brasileira, tem importância. Isso pesa para alguns acadêmicos."
Como convém à ABL, um lugar de políticos no sentido mais amplo do termo, mesmo os que votaram contra Pereira já o acolhem.
"Votei no Torres, mas não quer dizer que não queira o Merval. Ele vem nos ajudar a construir uma academia mais ampla", diz Sandroni.
"Nem sempre a academia elegeu literatos. Muitos jornalistas foram e são acadêmicos, inclusive meu antecessor na cadeira 34, Carlos Castelo Branco. Claro que recebo prazerosamente o Merval como meu novo confrade", disse João Ubaldo Ribeiro, eleitor de Torres.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Colaborou FÁBIO GRELLET, do Rio
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