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15/06/2011 - 07h28

Mostra revela filmes que anteciparam revolução no mundo árabe

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ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Uma das primeiras sequências de "Microphone", filme dirigido pelo egípcio Ahmad Abdallah, de 33 anos, mostra um grupo de hip-hop, tentando convencer o funcionário do Ministério da Cultura a incluí-los num show.

O burocrata não entende a razão de ser daquelas letras que transpiram revolta. Sugere que os jovens rimem palavras românticas. "Estamos cansados de canções românticas", replicam eles.

A cena resume o descompasso entre velho e novo, entre oficial e underground que "Microphone", mesclando ficção, documentário e música, consegue captar de maneira original e divertida.

É simbólico que o filme tenha sido o escolhido para dar a largada à 6ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. O evento, que começa hoje para convidados e amanhã para público, reúne 15 filmes vindos de países como Tunísia, Egito, Síria, Emirados Árabes, Iraque, Argélia e Marrocos.

Inicialmente prevista para setembro, a mostra foi antecipada em função das revoltas que eclodiram na região.

É que as curadoras, ao garimpar os títulos que trariam para São Paulo, se deram conta de que, naquelas imagens, encontrava-se um prenúncio dos acontecimentos que o mundo pararia para ver no início deste ano.

Divulgação
Cena do filme "Microphone", do diretor egípcio Ahmad Abdallah, que percorre a cena underground de Alexandria
Cena do filme "Microphone", do diretor egípcio Ahmad Abdallah, que percorre a cena underground de Alexandria

FOME DE LIBERDADE

"Nos últimos quatro anos, temos visto o nascimento de uma geração de realizadores que surge como um sopro de ar fresco", diz a curadora tunisiana Dora Bouchoucha.

"O ativismo da nova geração no campo do cinema não só reflete os recentes acontecimentos como mostra que, em todos os domínios, os jovens estavam famintos por liberdade, justiça e democracia", diz Bouchoucha.

Isso não significa, porém, que a seleção seja composta por filmes essencialmente políticos. Há espaço para o riso e para o romance nessa produção que, não raro, tem de driblar a censura com metáforas ou, simplesmente, jamais estreia nas salas locais.

Dentre os filmes trazidos para São Paulo há desde uma grande produção como "Fora da Lei", do francês de origem argelina Rachid Bouchareb, até filmes de baixíssimo orçamento, como "Microphone" e "VHS Kahloucha", que o tunisiano Nejib Belkadhi bancou sozinho.

Também variável é o nível de problemas que cada realizador enfrentou. "A censura existe em todos os países árabes, mas em diferentes graus", pontua Bouchoucha.

Na Tunísia, por exemplo, o cinema tendia a ser usado pelo governo como espécie de álibi, para mostrar que havia liberdade na política cultural. "O cinema não era temido pelo regime porque raramente os filmes conseguem distribuição efetiva."

Mas também nesse ponto há exceções. A comédia futebolística "Um a Zero", da egípcia Kamla Abu Zekri, de 36 anos, fez um enorme sucesso no próprio país.

Num caso como esse, de um filme mais voltado ao entretenimento, a resistência muda de lugar no mapa. "Muitos diretores são ignorados pelo ocidente quando tentam fazer filmes mais leves, de entretenimento", observa Bouchoucha.

Mas, tanto quanto "O Filho da Babilônia", filme denso e triste passado no Iraque logo depois da queda de Sadam Hussein, ou "Porto da Memória", documentário sobre o porto de Haifa, "Um a Zero" espelha os jovens que ocuparam a Praça Tahrir e os manifestantes que puseram fim à era Gaddafi, na Líbia.

A Líbia, por sinal, não estará na mostra. "O Gaddafi não permitia que se fizesse cinema", diz Soraya Smaili, diretora do Instituto Cultural Árabe do Brasil. "Quem sabe na próxima edição."

 

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