Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/08/2011 - 09h19

Principal produtor musical dos anos 2000, Kassin lança CD solo

Publicidade

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Era 1984 --um ano antes do primeiro Rock in Rio. Kassin tinha dez anos e morava com os pais no apartamento 306, terceiro andar de um prédio da rua República do Peru, Copacabana.

Exatamente embaixo dele, no 206, vivia o casal de compositores Edson e Tita Lobo. Ele, também um baixista --dos melhores surgidos com a bossa nova, na virada dos 50 para os 60. Ela, violonista e cantora.

Recebiam em casa, quase todas as noites, outros artistas ligados àquele movimento --que, então, estava longe de fazer parte da programação regular das rádios. E os saraus, animados, rolavam noite adentro.

Aluno de Edson, Kassin começou a frequentar as festas. Levava para as noitadas seu gravadorzinho de rolo e registrava toda aquela música. Era, ainda que ele não soubesse disso, a primeira incursão no que viria a ser, menos de dez anos depois, a sua profissão.

Alexandre Rezende/Folhapress
Kassin no Hotel Quality Imperial
Kassin no Hotel Quality Imperial

Hoje, aos 37 anos, ele é o principal produtor musical do país. Se o conceito "melhor" soaria por demais subjetivo, Kassin pode ser chamado, sem erro, de "o mais requisitado". É também aquele com maior trânsito entre o universo independente e o mainstream.

Pilotou trabalhos de Caetano Veloso e de Mallu Magalhães, de Vanessa da Mata e de Totonho e os Cabra, de Los Hermanos e de Ana Carolina. Neste ano, entrega o novo da Nação Zumbi.

É com essa longa e eclética experiência prévia que ele coloca agora nas lojas seu primeiro álbum solo, "Sonhando Devagar".

Esse não é, no entanto, o primeiro trabalho em que se envolve como artista --e não apenas como produtor.

Antes, atuou nos dois discos de Acabou la Tequila, banda que fundou em meados dos anos 1990 e que foi considerada, por Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, uma das influências do Los Hermanos.

Depois, em 2001, tornou-se o terceiro elemento do trio +2 (que acabou neste ano), ao lado de Domenico Lancelotti e Moreno Veloso. Na sequência, virou um dos quase 20 membros da Orquestra Imperial, em que atua até hoje.

No meio disso, criou o Artificial, projeto experimental em que usava apenas sons de jogos eletrônicos. Sob a alcunha Artificial, também lançou um CD.

"Por eu ter vontades estéticas diferentes, acho um pouco injusto convidar alguém para 'o show do Kassin' e, quando ele chega, só toco 'gameboy' no palco", diz. "Optei por chamar de Kassin só meus trabalhos que envolvem canções."

Ele afirma que não tem nenhuma vontade de seguir uma carreira de cantor. Tem muito mais prazer em conseguir realizar um álbum --dele ou de outra pessoa-- do que em encarar o cotidiano dos palcos.

GERAÇÃO 2000

Por sua aparição cada vez mais frequente em fichas técnicas de álbuns desde a estreia como produtor, em 1996, Kassin acabou por imprimir sua marca na geração 2000.

O que há de mais importante, esteticamente, nesses novos artistas --e a sonoridade que seus trabalhos trouxeram? Em que eles de fato colaboram para a evolução da nossa tradição musical, historicamente tão rica?

Segundo Kassin, a identidade de cada época é relacionada às mudanças tecnológicas. Bateria eletrônica: anos 80. Samples: anos 90. E assim por diante.

"O surgimento de novas coisas vai dando a cara e o jeito de fazer música durante um tempo. Hoje em dia, pouca coisa tecnológica é inventada. O que temos de mais novo é a possibilidade de muitas edições, de misturar isso."

Quanto a ter de lidar com o peso do passado da música brasileira, Kassin diz que se sente "no mesmo caldeirão" de Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e de todos os nossos medalhões. Nem mais, nem menos.

"Não me sinto inferiorizado por ninguém", diz. "Ou melhor: só me sinto inferiorizado pelo Jorge Ben, que é o grande e supremo orixá da música brasileira."

É que tudo o que produziu até hoje, ele diz, vem das memórias do apartamento de Edson e Tita. Mesmo os trabalhos mais roqueiros.

"Quando eu penso em fazer rock, quero que soe que nem aquilo", diz. "João Gilberto é o Kraftwerk do Brasil --uma estética imutável por 50 anos que se mantém fresca por todas essas décadas. Quem não quer soar assim?"

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página