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31/08/2011 - 20h26

'Para mim, atuar tem a ver com desaparecer', diz Rachel Weisz

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CAROLE CADWALLADR
DO "GUARDIAN"

A última vez em que o "Observer" entrevistou Rachel Weisz foi muito diferente. Era 2005, e Weisz ainda não fazia parte da "A-list" de Hollywood. "O Jardineiro Fiel", o filme pelo qual ela receberia um Oscar, estava prestes a ser lançado. E fazer uma entrevista com um jornalista do "Observer" envolveu um almoço tranquilo em um restaurante da moda em Manhattan, e depois, observou o entrevistador, Sean O'Hagan, "ela me telefona para elogiar um conto de Tobias Wolff cujo título lhe escapa".

Hmmm. Digamos simplesmente que desta vez não houve almoço. Não houve nenhum restaurante nova-iorquino casualmente glamuroso. E a gente não vai se falar mais tarde para discutir nossos livros favoritos. Para falar a verdade, não chega a haver um encontro. Rachel deveria estar em Detroit para rodar seu filme mais recente: "Oz: The Great and the Powerful", uma história que antecede "O Mago de Oz". Mas eu não sou autorizada a visitá-la no set. O acesso é proibido. Em Nova York, também não é possível. A agente publicitária de Weisz nos Estados Unidos insiste que ela não dará uma entrevista cara a cara sob hipótese alguma. Assim, embora esta seja a única entrevista que ela fará para divulgar sua atuação em um novo drama da BBC, "Page Eight", escrito e dirigido por David Hare, o que me dizem é que terá que ser feita pelo telefone.

Não posso deixar de refletir que é uma pena. Rachel Weisz é linda e fascinante na tela, e, tendo lido nas entrelinhas, não tenho dúvidas quanto ao efeito dessa beleza também na vida real. Os entrevistadores homens tendem a estremecer. As mulheres se deparam com seu lado lésbico interior. Em uma entrevista, até mesmo um cachorro que está de passagem parece maravilhado.

Stephen Lovekin/France Presse
Atriz Rachel Weisz em evento em Nova York em julho passado
Atriz Rachel Weisz em evento em Nova York em julho passado

"Quando Weisz chega", escreveu O'Hagan em 2005, "a impressão que passa é que acabou de sair de uma passarela. Ela atravessa a sala parecendo totalmente cool, num vestidinho preto e salto alto. Cabeças se viram, garçons correm para atendê-la, drinques gelados aparecem ao seu lado como que num toque de mágica."

Eu, por outro lado, ganho uma linha telefônica cheia de ruído --e uma revelação. Ela não está em Detroit, afinal. Está a menos de uma milha daqui! Mas, mesmo assim, não vai se encontrar comigo cara a cara.

"Sinto muito, muito mesmo", ela diz, quando finalmente consigo falar com ela.

Não sabíamos que você ia estar na Inglaterra, digo eu.

"Eu também não sabia. Simplesmente aconteceu. Vim apenas para ver minha família, e aí vou embora outra vez. Sinto muito."

É difícil entender o que está acontecendo. "Sempre faço minhas entrevistas cara a cara", me diz Weisz. É verdade --ou era, pelo menos. Mas a verdade é que as circunstâncias de vida de Rachel Weisz mudaram de modo dramático nos últimos meses.

Em novembro passado, ela e seu parceiro, o diretor de cinema Darren Aronofsky, com quem Rachel tem um filho de 5 anos, Henry Chance, anunciaram que estavam se separando. Um mês depois veio à tona o namoro dela com Daniel Craig --eles tinham trabalhado juntos em um filme, "Dream House", na primavera passada--, e depois disso ele se separou de Satsuki Mitchell, sua noiva havia anos.

E então, dois meses atrás, veio à tona que Weisz e Craig tinham se casado em uma cerimônia íntima em Nova York, com a presença apenas do filho dela, da filha adolescente dele e de dois amigos da família.

Circularem na internet rumores de que ela estaria grávida --será por isso que ela não quer me encontrar pessoalmente? Ou isso pode ser a influência de Daniel Craig, conhecido por ser de poucas palavras, que se nega a falar sobre sua vida pessoal, nunca; e as únicas fotos dos dois juntos o mostram olhando para o fotógrafo com expressão ligeiramente assassina.

Ou então seria simplesmente, como diz Weisz, algum mal-entendido bizarro? ("Me disseram que você não queria ir a Nova York", ela diz.)

Quem sabe? Mas passa pela minha cabeça que o fato de ter de repente virado metade de um casal muito famoso pode ter mudado as coisas. Estará Weisz se sentindo um pouco perseguida?

"Na realidade, não me sinto nem um pouco perseguida."

"Mas vocês tomaram uma decisão, como casal, de não falar com a imprensa?"

"Acho que nós dois... sim", ela responde com simplicidade, e fica à espera da próxima pergunta. Na realidade, outra condição da entrevista é que eu não faça perguntas sobre Daniel Craig. De qualquer jeito, seria difícil para ela fazer isso, considerando que em agosto Craig falou a uma revista que falar sobre Weisz para a imprensa seria "como atirar nela pelas costas".

Por outro lado, Henry, seu filho, que está sentado no banco de trás do carro com a babá, está louco para participar da entrevista. Em dado momento, quando Weisz está falando sobre a escassez de diretoras do gênero feminino em Hollywood, uma voz fina se eleva: "O que é gênero feminino?"

"Quer dizer menina, meu amor", fala Weisz. E depois: "Sim, isso mesmo. Quer dizer que já há meninos suficientes" (me pergunto como isso pode ser repetido para o papai de Henry, um diretor menino).

Em todo caso, é uma ilustração perfeita do que envolve ser uma mãe que trabalha. "É difícil. Mas é difícil e complicado para todas as mães do mundo que trabalham. Sinto que sou uma entre as muitas mães. E tenho só um filho. Conheço mães que trabalham e que têm três ou quatro filhos. É um desafio, sem dúvida, mas é um desafio maravilhoso poder fazer as duas coisas."

Rachel Weisz foi criada no subúrbio verdejante de Hampstead Garden, ao norte de Londres, por sua mãe, psicoterapeuta de Viena, e seu pai, um inventor húngaro. Pergunto se o fato de sua mãe ser psicoterapeuta a fez refletir sobre como ela está criando seu próprio filho.

"Acho que não. Para mim, ser mãe é uma coisa muito instintiva."

Atuar também é algo instintivo. Weisz diz que não sabe ao certo de onde veio seu desejo de atuar. "Não fui estrela da peça de teatro da escola. Eu não subia sobre a mesa para cantar. Era um segredo, na realidade. Não sei. Para mim, tem a ver com desaparecer. Quando as pessoas pensam em atuar, geralmente pensam nas pessoas que gostam de se exibir. Mas, para mim, o que é mais importante é que você desaparece dentro de outra pessoa."

Na realidade, seus anos de adolescência foram problemáticos, embora Weisz relute em falar sobre isso. Seus pais se divorciaram. Ela passou por três escolas particulares caras, só para meninas. Geralmente se diz que ela foi expulsa das duas primeiras, mas, na última vez em que o "Guardian" publicou isso, a mãe de Weisz escreveu ao jornal para dizer que não era verdade. Weisz diz que tinha "um problema com a autoridade", e, quando observo que, nas mulheres, isso geralmente está ligado a algum problema com o pai, ela responde: "Hmmm. Não sei. Acho que não há nada de errado com um pouco de desrespeito sadio."

A própria mãe de Weisz quis ser atriz quando jovem; foi ela quem fez fila para comprar ingressos para "Rei Lear" para sua filha, em 1986, e o fato de ter assistido à peça "foi uma das razões que me inspirou a ser atriz", diz Weisz. Na realidade, foi o fato de ter visto um ator em particular: Bill Nighy.

"Foi uma das melhores atuações que já vi. Foi como se Mick Jagger tivesse subido ao palco, ou algo assim. Foi extraordinário."

Duas décadas e meia mais tarde, ela finalmente está tendo a oportunidade de contracenar com ele. "Eu era fã, uma fã de verdade. Eu ia vê-lo atuar, depois ia ao camarim e batia na porta. Ele sempre me disse que eu gostei dele antes que qualquer outra pessoa. Sempre dissemos 'vamos encontrar alguma coisa para fazer juntos'."

"Só encontramos quando David Hare nos ofereceu 'Page Eight'. Portanto, demorou para acontecer: duas décadas."

O resultado é um thriller de espionagem do tipo que simplesmente não é mais feito. Ou pelo menos não é feito para a TV, como este. Nighy é Johnny Worricker, um agente do MI5 à moda antiga decente, não corrompido, cada vez mais deixado de escanteio que está sendo forçado a lidar com as realidades do mundo pós-Iraque. O tema é grande _a realpolitik pós-Blair de como um governo lida com suas próprias agências de inteligência. E o elenco é verdadeiramente estelar. Michael Gambon faz o diretor da seção, e Ralph Fiennes é o primeiro-ministro.

É o primeiro trabalho de Hare na direção em 14 anos, e, quando fez sua première no Festival de Cinema de Edimburgo, este ano, o "Guardian" elogiou a "química natural entre Nighy e Gambon". Enquanto isso, Rachel Weisz está tão magnética quanto sempre na tela. É difícil tirar os olhos dela, que habita o tipo de personagem que ela vem fazendo cada vez mais nos últimos anos: uma mulher de paixão, engajada. Mas o "Guardian" observou que "a diferença de 20 anos de idade entre Nighy e Weisz é o tipo de coisa que pode suscitar ironias".

Weisz se irrita quando menciono isso. "Não sei ao certo qual é a idade de Bill. Você sabe? Eu tenho 41 anos. Seria preciso procurar no Google. A gente não transa. Há um beijo muito delicado no último quadro do filme, que é cheio de ternura. Eles se ligam pelo coração e eles têm muita empatia. De qualquer jeito, acho que pessoas de todas as idades são capazes de se apaixonar. Isso não me incomoda."

É minha imaginação, ou é simplesmente a linha telefônica cheia de ruídos? Mas a impressão que tenho é que Weisz alterna entre charme total e uma certa atitude defensiva, um pouco agressiva. Ela não pára de me dizer que minhas perguntas são ótimas _e, depois, de se recusar a respondê-las.

Tento falar com ela sobre o envelhecer, mas ela diz que ter completado 40 anos "não foi um marco tão importante assim". E a pressão para se manter bela? "Acho que, como ator ou atriz, você precisa se cuidar. É como ser um atleta. É preciso se cuidar, é preciso fazer exercícios."

Mas você já pensou que em algum momento pode querer levantar alguma coisa ou levar alguns pontinhos?

"Putz. Me pergunte daqui a alguns anos. Ainda me sinto um pouco jovem para isso. Talvez eu esteja iludida. Não tenho um problema filosófico com quem faz isso. Isso é da alçada de cada um. Pessoalmente, vou ter que ver como fico." Por enquanto ela está se saindo muito bem, e não lhe faltam papéis. Depois do filme sobre Oz, ela começará a rodar o novo filme sobre Bourne.

"Existem tensões na família?", pergunto. "Com Daniel sendo James Bond, você se sente desleal por estar atuando na outra grande franquia de espionagem?"

"Não, não há tensão nenhuma. Há um B, um O e um N, mas são muito diferentes. Bourne é americano, e eu vou estar fazendo uma americana. E Bond é muito, muito inglês. Culturalmente falando, as duas coisas são muito diferentes."

Logisticamente falando, porém, um casal de dois atores em um relacionamento novo, com um filho pequeno, não deve ser a coisa mais fácil do mundo. Weisz me diz que Henry irá com ela e a babá a Detroit para filmar "Oz", mas as aulas dele começam em setembro. "Isso vai afetar as coisas", diz ela. "Vai depender um pouco dele. Talvez ele não queira vir. Até agora ele tem vindo com uma babá e ficado no set."

Em entrevistas passadas, Weisz disse que atuar é fazer escolhas: fazer as escolhas certas, não fazer as erradas. "Isso mesmo", diz ela. "É como a vida. Você nunca sabe, na hora, como as coisas vão acabar depois." Ela diz que ainda é loucamente ambiciosa. Mas o fato de ter um filho em idade escolar vai, inevitavelmente, afetar suas escolhas. "Há certas coisas que agora estão fora de questão."

Se você é casada com outro ator, deve ser tentador fazer um filme juntos simplesmente para que vocês possam passar algum tempo no mesmo lugar?

"Já fizemos um. Talvez um dia destes. Não estamos pensando nisso neste momento. Nos ofereceram algumas peças."

Isso é algo que você quer fazer? Mais teatro?

"Sim, eu adoraria fazer uma peça no ano que vem."

Considerando que no ano passado ela recebeu um prêmio Olivier de melhor atriz por sua atuação em "Um Bonde Chamado Desejo", no Donmar de Londres, com certeza ela poderá escolher o papel que quiser.

Mas o fato é que as coisas geralmente são oferecidas de bandeja a Rachel Weisz, fato que ela reconhece. Aos 15 anos ela ganhou um papel em um filme importante de Hollywood, "King David", contracenando com Richard Gere, mas seu pai não deixou que ela aceitasse. Ela diz que não foi um golpe realmente terrível "porque eu não estava louca para ser atriz. Isso foi algo que surgiu mais tarde. Simplesmente surgiu na minha vida."

E voltaria a surgir a sua vida mais tarde, depois de estudar em Cambridge. Quando pergunto sobre as lutas de seus 20 anos --Weisz já disse no passado que houve dias em que teve dificuldade em sair da cama e que passou um longo período em terapia--, ela dia: "Acho que reclamar da vida difícil que eu tive quando tinha 20 anos seria de mau gosto. Tive uma vida muito privilegiada, você não acha? Olhando de fora, parece ótima, não?"

Parece, sim. Mas, quando ouço a fita, mais tarde, não consigo entender exatamente qual é o tom dessa observação. É verdade que Weisz recentemente foi viver com James Bond, mas alguém que acaba de encerrar uma relação de nove anos e divorciar-se do pai de seu filho não viveu só coisas agradáveis, certo?

Ela estaria sendo irônica? Ou apenas superliteral? Não sei ao certo. Mas desconfio que, por enquanto, olhar Rachel Weisz desde fora é o mais perto que qualquer pessoa vai conseguir chegar.

Tradução de Clara Allain

 

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