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"Invejava suas milhas acumuladas", brinca Verissimo, em mesa que homenageou Moacyr Scliar
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JOSÉLIA AGUIAR
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Quem deu o mote foi Luis Fernando Verissimo: Moacyr Scliar era um "escritor em trânsito", concordaram os participantes da mesa que o homenageou na noite desta sexta-feira, o segundo dia da 15ª Bienal do Livro do Rio.
Scliar estava em vários lugares ao mesmo tempo, em eventos literários de todo o mundo. "Invejava seu talento, sua estampa de príncipe russo e suas milhas acumuladas", brincou Verissimo, fazendo a platéia rir durante a simpática mesa em homenagem ao autor de "O Centauro no Jardim", que morreu este ano, aos 73 anos.
Luis Augusto Fischer, crítico literário que também vive em Porto Alegre, disse que Scliar estava sempre disposto a conversar com todas as platéias. "Se uma escola do interior o chamasse para falar com alunos que leram o livro dele, ele ia", afirmou Fischer. "Era muito generoso, ao contrário de escritores até mais novos. Ele nunca se entediava em falar com jovens".
Paula Giolito/Folhapress | ||
O escritor Luís Fernando Verissimo durante homenagem ao escritor Moacyr Scliar |
Os convidados contaram episódios em que Scliar demonstrou o quanto era cordial e generoso com quem convivia e disciplinado para escrever. Em qualquer lugar, pegava o notebook e conseguia se concentrar para escrever um capítulo de romance ou uma nova crônica.
As influências judaica, gaúcha e "brasileira" do autor, que também exerceu a medicina, também foram destacadas. "O trabalho de escritor dele era o de um médico de saúde pública", definiu Luiz Schwarcz, que o editava na Companhia das Letras. Schwarcz anunciou que dois volumes de crônicas de Scliar, publicadas em jornais e algumas inéditas, já começaram a ser organizadas pela casa editorial.
Domício Proença Filho lembrou histórias da convivência com Scliar como imortais na Academia Brasileira de Letras. Scliar lhe dizia que era preciso abolir o fardão. "Respondia para ele: se não tiver fardão, a Academia vai perder metade do seu significado". Proença contou que Scliar, assíduo nos encontros que ocorriam às quintas, sempre dava aos colegas conselhos sobre saúde.
Na mediação do debate, Italo Moriconi endereçou à viúva, Judith Scliar, sentada na platéia, a última pergunta: "Ele lhe enviou muitas cartas de amor"? Judith respondeu que sim.
As mesas do Café Literário prosseguem hoje com autores como Ana Maria Machado, Ferreira Gullar, Amitav Ghosh e Abraham Verghese.
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