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27/06/2012 - 15h20

Richard Dawkins faz crítica furiosa a livro de E.O. Wilson

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VANESSA THORPE
DO "GUARDIAN"

Uma discordância entre dois gigantes da teoria genética, Richard Dawkins e E.O. Wilson, virou uma disputa entre dois campos acadêmicos rivais, num esforço para entender como evoluem as espécies.

A disputa entre estudiosos foi motivada pela publicação de uma resenha impiedosa do novo livro de Wilson, "The Social Conquest of Earth" (A conquista social da Terra), publicada na revista "Prospect" este mês.

Escrita por Dawkins, autor dos livros populares e influentes "O Gene Egoísta", "O Relojoeiro Cego" e "Deus - Um Delírio", a resenha vem suscitando mais cartas e comentários on-line que qualquer outro artigo na história recente da revista. Nela, Dawkins ataca a teoria de Wilson, descrevendo-a como "implausível e sem fundamentos".

Michael Stravato - 7.out.11/The New York times
Richard Dawkins foi o último a entrevistar Christopher Hitchens (de costas); os dois se encontraram em Houston
Richard Dawkins foi o último a entrevistar Christopher Hitchens (de costas); os dois se encontraram em Houston

"Não estou sendo jocoso quando digo, com relação ao livro mais recente de Edward Wilson, que há capítulos interessantes e informativos sobre a evolução humana e sobre os hábitos dos insetos sociais (que ele conhece melhor que qualquer outro homem vivo), e foi uma boa ideia escrever um livro comparando esses dois pilares da evolução social, mas, infelizmente, somos obrigados a abrir caminho entre muitas páginas de interpretações errôneas e francamente perversas da teoria da evolução", ele escreve.

O biólogo evolucionário de Oxford de 71 anos enfureceu muitos leitores ao arrolar outros acadêmicos conceituados que, afirma, estão de seu lado quando se trata de representar com precisão o mecanismo através do qual as espécies evoluem.

Num artigo curto redigido prontamente em resposta à resenha negativa de Dawkins, Wilson também se mostrou claramente aborrecido com essa tentativa de surpreendê-lo pela retaguarda.

"De qualquer maneira", escreve Wilson, "traçar listas como essa é inútil. Se a ciência dependesse da retórica e de pesquisas de opinião, ainda estaríamos queimando objetos com flogisto [um elemento mítico, semelhante ao fogo] e navegando com mapas geocêntricos."

Edward Wilson, 83, é professor em Harvard de biologia evolucionária; ficou famoso no início dos anos 1970 com seu estudo das espécies sociais, em seus livros "The Insect Societies" e "Sociobiology". Ele é reconhecido internacionalmente como "pai da sociobiologia" e é a maior autoridade mundial em formigas.

Para os observadores leigos, a briga é sintoma da longa e controversa evolução da própria ideia da evolução. À sua origem está uma disputa sobre se a seleção natural --a teoria da "sobrevivência do mais apto" proposta inicialmente por Charles Darwin em 1859-- ocorre apenas para preservar o gene único.

Wilson defende a "teoria da seleção em níveis múltiplos", um desenvolvimento da ideia da "seleção por parentesco", segundo a qual outras prioridades biológicas, sociais e até mesmo ambientais podem ser responsáveis pelo processo.

Mas Dawkins está longe de persuadido: "Wilson agora rejeita a 'seleção por parentesco' e a substitui pelo revival da 'seleção de grupo' --a visão mal definida e pouco coerente de que a evolução seria movida pela sobrevivência diferencial de grupos inteiros de organismos".

"HOMENS DE PALHA"

A divergência faz parte de uma longa tradição de tentativas de acadêmicos de aplicar teorias apresentadas por Darwin de forma provisória em "A Origem das Espécies".

De acordo com um especialista em evolução e desenvolvimento, o professor Georgy Koentges, da Universidade de Warwick, o problema central é a impossibilidade de definir a "aptidão", quer seja em organismos, órgãos, células, genes ou mesmo regiões de DNA regulador de genes. Por essa razão, Koentges vê tanto Dawkins quanto Wilson como "homens de palha" nesta discussão.

"Dawkins usa muita retórica desnecessária em sua resenha", disse Koentges no fim de semana. "Geralmente ele é pontual e preciso, mas é preciso apontar que alguns de seus argumentos são baseados em modelos mais antigos do cálculo de aptidão. A dificuldade consiste em associar o que Darwin qualificou como 'aptidão' a uma característica genética específica. Eles estão tentando definir condições básicas de aptidão que eles creem que funcionam por períodos de tempo muito longos."

"Isso é uma fantasia. Não existe um gene bom ou ruim. As coisas não funcionam com essa simplicidade. Os genes são usados e reutilizados em contextos diferentes, cada um dos quais pode ter um valor geral diferente de aptidão para um organismo ou um grupo dados."

Em sua velhice, Darwin disse que gostaria de ter intitulado sua teoria de "teoria da preservação natural"., ao invés de "seleção", mas que mesmo a preservação de determinados genes ao longo do tempo não constitui prova de que esses genes sejam bons.

"Para dar um exemplo humano simples: uma pessoa dotada do conjunto perfeito de genes para caminhar com duas pernas pode ter morte precoce se atirar-se do alto de um penhasco", disse Koentges.

"Do mesmo modo, há muitas coisas que sobrevivem na biologia sem ter qualquer finalidade benéfica, como os mamilos masculinos. Elas são 'espectadoras' de outros processos importantes. Resultam de processos genéticos subjacentes que, no sexo oposto, são essenciais para nossa sobrevivência como mamíferos."

Como outros cientistas que comentaram a disputa entre Wilson e Dawkins, Koentges detecta a rixa antiga entre aqueles que focam exclusivamente o gene e os que o enxergam como "um insulto antropológico a nosso sentimento de crença em nós mesmos".

"O campo já avançou, e todos nós devemos fazer o mesmo", diz Koentges.

Tradução de CLARA ALLAIN.

 

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