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26/12/2012 - 12h02

Ex-agente da CIA elogia nova heroína de "A Hora Mais Escura"

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PAUL HARRIS
DO "OBSERVER"

A heroína de "A Hora Mais Escura", o controvertido novo filme de Kathryn Bigelow, se destaca por sua arma preferencial na caçada a Osama bin Laden: um cérebro rápido e impiedoso.

Ao contrário de outras espiãs retratadas na cultura pop dos Estados Unidos, Maya --personagem baseada em uma agente não identificada da verdadeira Agência Central de Inteligência (CIA)-- não usa o sexo para seduzir os inimigos e, diferente dos personagens de Angelina Jolie, não se esforça para provar que é tão competente quanto os homens no campo do combate físico. Em lugar disso, a força de vontade, a feroz determinação e o intelecto aguçado de Maya é que resultam na eliminação do homem mais procurado do planeta.

O retrato pareceu bastante convincente para alguém que conhece o tema de perto --Valerie Plame, uma conhecida ex-agente da CIA. "Na cultura popular, as mulheres agentes são em geral ou altamente sexualizadas ou altamente belicosas-- ou usam vestidos justos ou usam suas armas. Mas na verdade a principal arma de que você dispõe é seu intelecto", diz Plame, uma agente clandestina cuja exposição por funcionários do governo de George W. Bush em 2003 causou um grande escândalo político quanto ao período de preparativos para a guerra no Iraque.

Tom Betterton
Jessica Chastain, que interpreta Maya em "A Hora Mais Escura", o novo filme de Kathryn Bigelow
Jessica Chastain, que interpreta Maya em "A Hora Mais Escura", o novo filme de Kathryn Bigelow

"A Hora Mais Escura" é um relato dramático sobre a operação que resultou na morte de Bin Laden em seu esconderijo no Paquistão, em 2011. O filme, que já causou controvérsia por conta de cenas que mostram tortura de forma explícita, vem sendo apontado como um dos favoritos ao Oscar, e Jessica Chastain, que interpreta Maya, já foi indicada para um Globo de Ouro.

Mas Maya não está sozinha na atual paisagem da cultura pop norte-americana, no que tange as brilhantes espiãs. Em "Homeland", uma série televisiva de grande sucesso, a heroína é Carrie Mathison, interpretada por Claire Danes e renomada por sua grande argúcia analítica.

Há ainda outro seriado de espionagem, "Covert Affairs", que faz grande sucesso no canal USA e mostra uma jovem agente da CIA que oculta sua carreira de espionagem sob um suposto trabalho na Smithsonian Institution, em Washington. "Isso serve como um começo para que o público vá se acostumando com a ideia de que mulheres podem ter papéis decisivos no mundo da espionagem", diz Plame.

DISFARCE

É claro que o fato não é novidade para ela. Plame teve uma carreira de grande sucesso, incluindo extensos períodos de trabalho clandestino que só se encerraram quando ela teve seu disfarce exposto como resultado de uma controvérsia sobre uma investigação conduzida pela CIA que parecia contradizer as descrições oficiais sobre o programa de armas de Saddam Hussein.

Plame diz que as mulheres contribuem muito para o mundo da espionagem real. "As mulheres são mais antenadas. Elas leem a linguagem corporal melhor que os homens, e às vezes essas sutilezas são muito importantes", afirma.

Na vida real e na ficção, igualmente, as agentes muitas vezes precisam enfrentar sexismo --ou seja, além de enfrentar o inimigo, precisam também enfrentar seus chefes. O jornal "Washington Post" disse que a agente que inspirou o personagem Maya foi preterida para uma promoção. Em "Homeland", Carrie é prejudicada por seus superiores e forçada a deixar a agência. É uma situação que Plame --e outras mulheres em diversos campos profissionais-- conhece bem. "É claro que continuam a existir alguns dinossauros nos corredores da CIA", ela afirma.

Plame planeja contribuir para o mundo da espionagem fictícia com um romance a ser publicado no ano que vem e intitulado "Blowback", cuja protagonista é uma mulher. "A maneira pela qual as espiãs são representadas sempre me frustrou, e comecei a imaginar que eu poderia fazer melhor".

Mas o papel das mulheres nos serviços de inteligência ainda tende a permanecer oculto --o que talvez explique o sucesso de "A Hora Mais Escura" e de "Homeland". Bigelow, de fato, admitiu na semana passada que se surpreendeu ao descobrir o importante papel das mulheres na espionagem. "Ninguém imaginaria uma mulher tendo papel central naquele tipo de caçada, pelo homem mais perigoso do mundo, e isso me surpreendeu um pouco; aliás, me surpreendeu muito", disse a cineasta à revista "Time".

Mas as mulheres --e não só a agente que inspirou a personagem Maya-- tiveram papel central na operação, já desde antes do 11 de Setembro. Na semana passada, Michael Scheuer, antigo agente da CIA que comandou a unidade que tentava localizar Bin Laden, revelou que havia deliberadamente escolhido uma equipe com grande número de mulheres.

"As analistas mulheres parecem ter capacidade impressionante para perceber detalhes, padrões e relações --e, para ser franco, elas passam menos tempo conversando sobre aventuras passadas ou saindo para fumar", ele disse a Peter Bergen, jornalista que cobre a área de segurança na rede de notícias CNN.

Não que as mulheres da CIA sejam selecionadas pela delicadeza. No filme, Maya se preocupa obsessivamente com o trabalho, tem comportamento agressivo com relação aos colegas e participa de uma sessão de interrogatório na qual o acusado sofre abusos físicos --uma cena que reacendeu o debate sobre tortura nos EUA.

Na vida real, a agente da CIA que inspirou o personagem Maya supostamente teria ficado tão irritada com as condecorações recebidas por alguns colegas depois da operação contra Bin Laden que enviou e-mails a diversos deles afirmando que ela era a única a merecer reconhecimento.

A história talvez sirva para demonstrar que, embora mulheres tenham valor inestimável para a CIA, não deveria ser surpresa que se provem tão ambiciosas e duronas quanto os colegas homens. "São personalidades alfa, tanto as mulheres quanto os homens. Mulheres também podem ter ego", afirma Plame.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

 

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