Diário de Berlim: Turcos da Alemanha votam pró-Erdogan em referendo

Crédito: Vincent Kessler - jul.2016/Reuters A supporter of Turkish President Tayyip Erdogan waves a Turkish flag during a pro-government protest in Cologne, Germany July 31, 2016. REUTERS/Vincent Kessler ORG XMIT: RSP45
Manifestação de apoiadoras do presidente turco Erdogan em Colônia, na Alemanha

SILVIA BITTENCOURT

Causou espécie entre os alemães o fato de mais de 400 mil turcos aqui residentes terem votado "sim" no último dia 16, no referendo que deu mais poderes ao já autoritário presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Os turcos, dizem os alemães, gozam aqui das liberdades de um Estado de Direito, mas parecem não ser contra a perseguição a opositores políticos ou se opor à instituição da pena de morte na Turquia.

Observadores menos alarmistas ponderam que foram às urnas menos de 50% dos turcos radicados na Alemanha aptos a votar –ou seja, a maioria não se manifestou. Dos que votaram, porém, 63% apoiaram Erdogan (na Turquia, foram 51%).

Isso acirrou o clima já tenso entre os dois países, marcado nos últimos meses por acusações de espionagem, pela perseguição a humoristas e jornalistas alemães e pela proibição, por parte da Alemanha, de comícios promovidos aqui por políticos turcos. No auge da crise, Erdogan chegou a afirmar que a chanceler Angela Merkel estaria adotando "práticas nazistas".

PASSAPORTE

O resultado do referendo influencia a campanha eleitoral alemã –a população vota em setembro–, porque retoma um tema polêmico: a dupla nacionalidade para estrangeiros. Desde 2014, turcos nascidos na Alemanha não precisam optar por um dos passaportes quando atingem a idade adulta.

Para políticos de correntes diversas, o último pleito mostrou que a dupla nacionalidade não colaborou para a integração dos turcos na Alemanha. Até o deputado federal Cem Özdemir, dos Verdes, defende agora a revisão do instituto, já que os jovens alemães descendentes de turcos não teriam mais uma relação forte com a terra natal de seus pais ou avós.

Sua proposta vem recebendo críticas por parte dos correligionários, porque ela se aproximaria das reivindicações do partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha). Além disso, não há levantamento indicando que a maioria dos detentores da dupla nacionalidade tenha votado pelo "sim" no referendo.

RESGATE

Um avião abandonado há anos em Fortaleza poderá ganhar um memorial na Alemanha. É o que planeja o governo para o Landshut, aeronave da Lufthansa sequestrada por palestinos em outubro de 1977. A ação aconteceu em meio ao "outono alemão", período marcado pela intensificação dos crimes cometidos pelo grupo terrorista de extrema esquerda RAF (Fração do Exército Vermelho).

Os palestinos sequestraram 87 passageiros e cinco tripulantes que iam de Palma de Maiorca (Espanha) a Frankfurt visando à libertação de terroristas da RAF presos na Alemanha. O capitão da aeronave foi morto. O sequestro terminou cinco dias depois em Mogadíscio (Somália), quando um comando alemão libertou os reféns.

O Landshut (batizado em homenagem a uma cidade bávara) voou alguns anos pela Lufthansa, até ser vendido em 1985 para os Estados Unidos. Tornou-se avião de carga e passou por vários proprietários estrangeiros –entre eles a empresa brasileira TAF–, até fazer sua última aterrissagem em Fortaleza, em 2008, e virar sucata.

Agora, o governo alemão pensa em recomprar a aeronave e transportá-la para cá, onde alguns fragmentos seriam expostos num museu em Bonn. Não está descartada, porém, a construção de um memorial para o avião inteiro. Quase 40 anos depois do "outono alemão", até as vítimas do sequestro do Landshut apoiam a ideia.

ARTE TEMPORÁRIA

Faz décadas que paredes e muros grafitados se tornaram atrações turísticas de Berlim. Alguns grafites até se eternizaram na cidade, como "O Homem Amarelo", dos irmãos brasileiros Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como Osgemeos, exposto desde 2005 no bairro de Kreuzberg.

Bem menos tempo vão durar as dezenas de obras participantes do projeto "The Haus", recém-grafitadas numa antiga agência bancária da Nuernberger Strasse, n° 68, perto da Ku'damm –importante avenida do oeste de Berlim.

O prédio será derrubado em junho e, com ele, grafites e instalações de nomes importantes da arte de rua, como a dupla suíça One Truth, o berlinense El Bocho e o coletivo alemão Drink and Draw. Cada participante do projeto recebeu uma sala desse museu temporário para realizar suas criações.

O brasileiro Paulo Consentino, por exemplo, fã de futebol, retratou o "selinho" dos jogadores alemães Bastian Schweinsteiger e Lukas Podolski na Copa de 2014. A obra faz referência ao "Beijo Fraterno", grafite do Muro de Berlim que ilustra um beijo entre Leonid Brejnev e Erich Honecker, antigos líderes comunistas.

SILVIA BITTENCOURT, 51, jornalista, é autora de "A Cozinha Venenosa" (Três Estrelas)

Erramos: o texto foi alterado
O texto informou que mais de 400 mil turcos que residem em Berlim votaram
"sim" no plebiscito que ampliou os poderes do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Na verdade, o número se refere aos turcos residentes em toda a Alemanha que votaram dessa forma.
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