'Melhor maneira de se rebelar é ser conservador', diz paladino gay de Trump

Milo Yiannopoulos, autodenominado ícone do conservadorismo, aposta no estilo espalhafatoso e lança livro no Brasil

[RESUMO] Milo Yiannopoulos, paladino de Trump, homossexual e autodenominado ícone do conservadorismo, aposta no estilo espalhafatoso para desancar minorias e colecionar polêmicas. Seu livro ‘Dangerous’ será lançado no Brasil em outubro; leia trecho da obra abaixo.

Se o troll da internet se transmutasse num ser do mundo real, veríamos provavelmente a carinha angelical de Milo Yiannopoulos na capa de seu livro “Dangerous”, que chega ao Brasil em outubro pela Faro Editorial com o subtítulo “O Maior Perigo É a Censura”.

Paladino do presidente americano Donald Trump, Yiannopoulos se define como um “ícone conservador” —mas conservadores moderados têm vergonha de se aliar a seus discursos rasos. Ele aposta na persona de maldito espalhafatoso e se vangloria de ser o “palestrante mais desconvidado do ano”.

Como aconteceu em 2017, na (UCLA) Universidade da Califórnia em Los Angeles, quando um grupo de estudantes de direita voltou atrás no convite após ouvir conselhos de um professor.

“Meu ponto não é que algumas pessoas ficaram ofendidas, mas que o palestrante é puramente malicioso”, disse o sociólogo Gabriel Rossman, uma das raras vozes conservadoras no campus. “Sua carreira inteira não é feita de argumento fundamentado, mas sim de performance artística de choque.”

Nascido no sul da Inglaterra, Yiannopoulos, 33, se mudou para os EUA e achou seu público ao fazer campanha para Trump. Foi repórter de tecnologia do jornal The Telegraph antes de entrar para o site ultraconservador Breitbart, cofundado por Stephen Bannon.

Ex-estrategista-chefe da Casa Branca de Trump, Bannon é o “desconvidado” ilustre do momento, após ter perdido o convite para o festival da revista New Yorker, no início do mês. 

Clássico incendiário de botequim, Yiannopoulos critica o que identifica como o ódio que as minorias sentem: “o Black Lives Matter odeia os policiais, as pessoas gordas odeiam as pessoas magras”. Vive, porém, de provocá-lo. É sua grande performance.

Procurava neonazistas e líderes da supremacia branca para pedir conselhos para suas matérias e discursos, como mostrou reportagem do site BuzzFeed News no final de 2017. 

Baseado em e-mails vazados, o texto também contava como gente de indústrias tipicamente liberais, como entretenimento, academia e música, procurava Yiannopoulos com frequência para desabafar, elogiá-lo ou reclamar das censuras advindas do mundo politicamente correto.

Antes de entrar no discurso tóxico, “Dangerous” (perigoso, em inglês) traz uma longa explicação sobre a presepada em que o autor se meteu ao falar a respeito do fato de ter sido abusado sexualmente, aos 13 anos, por um padre. 

Ao defender que a relação com menores pode ser consensual, foi chamado de pedófilo e caiu em desgraça: foi desconvidado para ainda mais eventos, perdeu o posto no Breitbart e o acordo com a editora Simon & Schuster, que lançaria “Dangerous”. O livro saiu em edição independente em meados de 2017.

A obra é pontuada por capítulos como “Por que [a mídia ou os gays ou os muçulmanos etc.] me odeiam”. O texto segue um modelo: fala bem das feministas originais ou dos esquerdistas do passado para depois desancar seus representantes atuais.

Yiannopoulos contextualiza a importância das feministas para garantir o voto das mulheres, se mostra conhecedor do assunto e, vejam só, tolerante! E depois martela o movimento com argumentos genéricos (“as feministas modernas não entendem o valor inerente e a beleza dos papéis de gênero”) e infantis (nenhum outro grupo minoritário “odeia com a mesquinhez alimentada pela TPM do feminismo”).

Sobre os gays, ele, homossexual assumido, escreve talvez o capítulo mais desconcertante. “Gays tradicionais, muitos dos quais se sentem felizes em tratar com desprezo a vida de, digamos, famílias conservadoras do Meio-Oeste [...], simplesmente não conseguem admitir a possibilidade de alguém tratar com desprezo suas próprias vidas”, escreve. 

Em 2013, ele se revelou contrário ao casamento gay porque “reforçava a ideia de que ser gay é uma escolha de estilo de vida normal ou aceitável, o que não é, e não deveria ser”.

No final, Yiannopoulos quer normalizar o ódio que ele mesmo desdenha. “Dangerous” é um manual do troll para os que não querem deixar suas bolhas. 

Fernanda Ezabella é jornalista baseada em Los Angeles.

 

“A melhor maneira de se rebelar é ser conservador”

Milo Yiannopoulos, ex-editor do Breitbart News

Sou muito polêmico, conhecido e perspicaz para que os artigos indignados publicados pelos principais veículos do mundo sumam comigo. Queridos, é de Milo que estamos falando.

Os guerreiros da justiça social, o establishment conservador e a grande mídia me rotularam de todas as formas: sexista, misógino, homofóbico, antissemita que se odeia, islamofóbico, transfóbico, racista, fascista, direitista alternativo, supremacista branco, nazista e, finalmente, “defensor da pedofilia”. 

Só não me acusaram de torturar gatinhos. Então, de antemão, afirmo: não torturo animaizinhos. Eu os mato rapidamente.

Meu ego é imenso, mas não a ponto de não admitir quando digo algo estúpido. Ganho a vida falando abertamente, sem rodeios e com frequência. Não planejo nem memorizo argumentos antes de aparecer em um programa, acho isso entediante.

Ainda que pareça que a posição de vítima seja a melhor maneira de ganhar a vida, garanto que não é. Você é incrível e inteligente demais em relação a tudo isso. 

É mais fácil falar do que fazer, eu sei, mas é o meu conselho. Supere isso! Por mais que suas experiências sejam ruins, o vitimismo e a autopiedade são para pessoas que não compram meu livro. É a prisão delas. Devemos desafiar as forças de opressão da sociedade, e não conseguimos fazer isso a partir de uma sessão de terapia.

Não sou hipócrita. Falo a verdade. Sempre. Esse é o meu maldito problema. Bem diante dos fatos, as fake news insinuavam o contrário; por isso, o presidente Trump as rotulou (corretamente) de “inimigas do povo”. Mas essa é a tendência do pessoal da grande mídia. Eles não têm nenhum problema em dizer ao público que preto é branco, em cima é embaixo, dois mais dois é igual a cinco.

Não surpreende que os universitários se refugiem em espaços seguros quando ouvem que estou chegando; a base trepidante de mentiras que sustenta a visão de mundo progressista tornou‑se tão frágil que até o mais leve discurso contrário é suficiente para destruí‑la. Levo uma bomba de nêutrons quando um canivete funcionaria igualmente, e os resultados são sempre espetaculares.

Não sinto animosidade ou ódio pela juventude que se esconde atrás de espaços seguros e programas de bloqueio nas redes sociais para proteger sua visão de mundo. Sua fragilidade é resultado da covardia de uma geração mais velha e de sua incapacidade de separar a ficção do alto astral das realidades difíceis. 

Eles queriam desesperadamente acreditar que todos são iguais e que todos nós podíamos nos dar bem, e agora seus filhos engoliram as mentiras em que eles mal acreditavam. Alertas de gatilho e sessões de terapia são o resultado. Só porque tenho simpatia pelos chorões, não presuma que pretendo pegar leve com eles. Não vou, e você também não deveria.

Livres pensadores e ativistas culturais, criem coragem. Ao longo da história, sempre houve mitos e irracionalidades a derrotar, e sempre existiram aqueles que os defenderam até o fim amargo e lacrimoso. A verdade, assim como a liberdade, deve ser batalhada em todas as gerações. Se você estiver lendo este livro, provavelmente será uma das pessoas que batalham por isso. Parabéns!

É ótimo pertencer à contracultura, e nós pertencemos. Há 20 anos, os conservadores proibiam os videogames porque os achavam ofensivos. Agora, os progressistas estão fazendo a mesma coisa. Mesmo os heróis rebeldes de minha juventude amoleceram.

Atualmente, a melhor maneira de se rebelar é ser conservador; ou simplesmente liberal na economia e nos costumes. Os conservadores não são mais as elites culturais, censurando a mídia esquerdista dissidente. Os esquerdistas são as elites culturais, censurando os conservadores dissidentes. Como resultado, uma força jovem admiravelmente rebelde surgiu na rede. É destemida e subversiva. E eu sou sua bicha mais maldita. 

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