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04/04/2013 - 03h00

Análise: Maior desafio foi decifrar informações em "big data" de um mundo sigiloso

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MARCELO SOARES
DE SÃO PAULO

Em outubro de 2012, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) convidou a Folha, onde trabalham dois de seus membros, a participar de um projeto sigiloso de investigação de lavagem de dinheiro.

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Tratava-se de um dos mais desafiadores projetos de investigação jornalística transnacional no mundo.

Oitenta e seis membros do ICIJ, em 46 países, ajudaram a analisar os mais de 260 gigabytes de planilhas, memorandos e mais de 2 milhões de e-mails trocados entre funcionários e clientes de duas provedoras de serviços de abertura de empresas "offshore": TrustNet e Commonwealth Trust Limited. Gerard Ryle, repórter australiano e diretor do ICIJ, recebeu os discos rígidos que formaram a base do projeto numa correspondência anônima.

Aberto, o material permitiria espiar pela fechadura como funciona o lado mais sigiloso do mundo das finanças. O projeto levou 15 meses, no que Ryle apelidou de "slow journalism".

Os dados são mais reveladores que os telegramas vazados em 2010 pelo Wikileaks, embora mais difíceis de analisar. Enquanto os telegramas tinham marcações claras de origem e tema em seus cabeçalhos, os dados de empresas "offshore" não eram nada estruturados.

A parte mais reveladora de um e-mail não está no endereço ou na linha de assunto, e parte dos documentos estava em imagens escaneadas --ilegíveis em busca na maior parte dos computadores. Bem-vindo ao mundo do "big data".

Para abrir os dados, o ICIJ obteve licenças especiais de um software da empresa NUIX, que permite vasculhar grandes dados desestruturados com buscas por palavra-chave. Esse software também converte imagens em texto pesquisável, permitindo localizar nomes em contratos escaneados, por exemplo. Como o software era restrito, e devido ao sigilo necessário, as consultas poderiam ser feitas apenas num computador desconectado da internet, instalado numa sala do ICIJ preparada para receber visitas de seus membros participantes do projeto.

A Folha passou cinco dias testando nomes de personagens da política e do meio empresarial brasileiros para tentar descobrir conexões nacionais. Foram testados todos os citados pela CPI do Banestado, por exemplo.

Nenhum dos mais famosos casos brasileiros de lavagem de dinheiro, porém, constava no banco de dados.

Como há forte concorrência no mercado de abertura de empresas "offshore", é provável que as empresas "laranjas" tenham sido abertas em concorrentes das firmas que tiveram seus dados vazados. Advogados brasileiros de grandes bancas tributaristas, porém, apareceram tratando de casos relacionados a outros países.

Isso não torna as revelações do ICIJ menos relevantes para o Brasil. Brasileiros que lavam dinheiro no exterior usam a mesma "tecnologia".

MARCELO SOARES, assim como o colunista FERNANDO RODRIGUES, é membro do ICIJ

 

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