Preservar tradição ajuda empresa a inovar, diz consultor italiano
Uma "organização imaginativa" é capaz de estimular a criatividade dos funcionários sem perder a conexão com o imaginário coletivo.
O especialista italiano em cultura e estratégia organizacional Davide Ravasi diz que cada vez mais empresas se dão conta de que "história é um poderoso instrumento para inovar preservando a relação com os consumidores".
Ravasi participa pela primeira vez, nesta quinta-feira (20), de um seminário no Brasil. O evento, organizado pela Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e o Grupo Votorantim, é aberto ao público.
O consultor falou com exclusividade à Folha.com. A seguir, trechos da entrevista.
VALOR E MUDANÇAS
Todas as companhias, em algum momento, precisam mudar, inovar em seus produtos. E isso pode ser mais difícil para as que construíram, ao longo do tempo, uma forte relação com os consumidores.
Nesse ponto, preservar as heranças é um poderoso instrumento para inovar sem perder esse contato com o público. Cada vez mais companhias têm se dado conta disso.
De outra forma, aumenta o risco de que um novo produto não seja bem recebido.
Na Itália, empresas como Piaggio, [fabricante da motocicleta Vespa], Alfa Romeo [automóveis] e Barilla [alimentos] são exemplos de corporações inventivas que souberam preservar, nos produtos, suas heranças.
No caso da Vespa, a relação com o público é tão forte que o nome acabou se tornando sinônimo de motocicletas do tipo "scooter".
MUSEUS E ARQUIVOS
Uma das ferramentas possíveis para manter as heranças vivas é criar um museu corporativo, o que tem sido adotado por várias companhias, especialmente dos setores automotivo e de alimentos e bebidas.
Divulgação |
Davide Ravasi, especialista italiano em gestão estratégica |
São espaços montados preferencialmente em fábricas e abertos a funcionários e visitantes em geral --que incluem desde fãs dos produtos a pesquisadores.
Os museus ajudam a aproximar os visitantes aos bastidores da criação dos produtos. E, internamente, reforçam a cultura da organização e ajudam, por exemplo, os designers de produtos a criar novidades que preservem as características importantes dos produtos antigos.
Esse tipo de espaço reúne conhecimento técnico, sobre o design dos produtos e sobre a marca, além de símbolos pertencentes à companhia.
Outra ferramenta, se não houver espaço físico ou recursos suficientes para a criação do museu, é espalhar, pelo próprio escritório, ou nos corredores, objetos relacionados à história da empresa. Ou ainda produzir arquivos e vídeos. Isso tudo ajuda a reforçar a cultura empresarial.
YOUTUBE
A própria Piaggio, a Harley Davidson [motocicletas] e a Coca-Cola têm vídeos interessantes sobre seus museus disponíveis no YouTube.
Empresas mais jovens, como as de tecnologia, têm material para tomar iniciativas como construir um museu, mas talvez não estejam ainda muito preocupadas com a relação futura com o consumidor.
Mas história é um ativo único, que pertence à cada empresa e não pode ser imitado. É importante manter a memória. Talvez, no caso da Apple [fabricante de produtos como o iPhone e o iPad], agora que Steve Jobs [fundador da companhia, que faleceu recentemente] não está mais por perto, eles possam seguir esse caminho.
Montar um museu não significa revelar os segredos dos novos produtos.
O que está exposto já faz parte da história. E, ainda mais no caso de tecnologia, o que é novo hoje passa a ser velho dentro de poucos meses.
RAIO X
Nome: Davide Ravasi
Idade: 40
Formação: doutor em administração pela Universidade Bocconi, em Milão
Atividades: consultor especialista em identidade, cultura e estratégia organizacional; professor de gestão estratégica e empreendedora
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Atualizado em 23/04/2024 | Fonte: CMA | ||
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