Reservas internacionais brasileiras têm poder de fogo limitado, diz banco
Considerada uma das principais defesas do Brasil à turbulência nos mercados globais, as reservas internacionais em poder do Banco Central não são tão elevadas quanto propaga o governo, afirma o banco norte-americano Bank of America/Merrill Lynch.
Levantamento feito pelos economistas David Beker e Claudio Irigoyen mostra que as reservas estrangeiras do país (US$ 378 bilhões) são inferiores ao estoque de investimentos estrangeiros no mercado financeiro do Brasil (em ações e títulos do governo, por exemplo).
Essa quantia somava US$ 415 bilhões em junho e é volátil, ressaltam os analistas.
Embora não preveja uma fuga maciça desses capitais do país, Beker, que é estrategista-chefe do banco no Brasil, diz que a comparação indica que o governo tem poder de fogo limitado para segurar a alta do dólar no Brasil.
"O BC não tem muito o que fazer contra a apreciação do dólar. Pode até amortecê-la, mas não pode conter uma tendência mais forte", diz.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Para sair do país, o investidor tem que converter suas aplicações em reais para dólar, o que impulsiona a cotação da moeda americana.
Para Sidney Nehme, da NGO corretora de câmbio, a participação de estrangeiros é relevante, principalmente porque a nota de crédito do Brasil está sob revisão nas agências de risco.
"Se houver o rebaixamento, muitos fundos terão que sair do Brasil por restrições nas regras de investimento", observa. "Esse é o receio."
A S&P ameaçou rebaixar o Brasil devido à piora das contas públicas e ao menor crescimento da economia.
Na avaliação de Beker, a limitação das reservas tem estimulado o BC a optar por operações financeiras para domar a alta do dólar.
Nessas negociações, são oferecidos títulos do governo a investidores e empresas que buscam a moeda americana.
Ontem, o BC vendeu o equivalente a cerca de US$ 1 bilhão a investidores.
Beker observa que, com a estratégia, o BC já colocou nas mãos do mercado US$ 32 bilhões à miúde.
A cifra já se aproxima do recorde injetado pela autoridade monetária (US$ 37 bilhões) em 2003. Naquele ano, o BC buscava enfraquecer o dólar após a crise de confiança com a eleição de Lula.
"As reservas são colchão importante, mas, num cenário de estresse e saída de capitais, ela não será capaz de evitar a depreciação do real", dizem os analistas do BofA/Merrill Lynch, em relatório.
O BC não quis comentar o levantamento do banco.
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