Voltada para dentro, industrialização não criou eficiência
O Brasil fez uma opção clara desde o início da sua industrialização: um modelo voltado para dentro, através da substituição de importações.
Países como a Coreia do Sul optaram por fortalecer exportações e entrar de cabeça na competição internacional. Tais escolhas foram determinantes nos rumos dos países.
O modelo brasileiro foi adotado por imposição das necessidades nos anos 1930.
A crise internacional causada pelo crash da Bolsa de Nova York em 1929 fez as exportações do país --majoritariamente café-- desabarem.
Sem divisas para importar --e quase tudo era importado na época--, a solução foi começar a fabricar por aqui.
O então presidente Getúlio Vargas comprou o tom nacionalista ("o petróleo é nosso") e se esforçou para que o país tivesse indústria de base. A CSN é de 1941; a Vale, de 1942.
Ao longo das décadas seguintes, intelectuais (como os membros da Cepal) e governantes (como JK e os militares) mantiveram o olhar para dentro. O parque industrial dobrou a participação no PIB entre a década de 1950 e a de 1980, ultrapassando 25%.
Mas, sem ter de competir com o mundo, as fábricas brasileiras nunca foram produtivas ou inovadoras.
E 1984, o Brasil fechou o mercado da informática para empresas nacionais. Como os produtos locais eram ruins, todo o país perdeu competitividade. A abertura só aconteceu com o governo Fernando Collor, no começo dos anos 1990. A medida era uma forma de combater a inflação, o grande fantasma da época.
O governo FHC seguiu com a abertura, facilitando a importação e mantendo o real valorizado. Os baratos importados foram fundamentais para o sucesso do Plano Real.
Tal abertura, entretanto, escancarou as ineficiências da indústria brasileira. No começo do século 21, aparece a China, ultracompetitiva, ameaçando de morte setores tradicionais do país --roupas, calçados, brinquedos...
A participação da indústria no PIB voltou a ser o que era nos anos 1950, mostrando que todo o esforço não foi suficiente para ensinar nossas fábricas a andarem sozinhas.
Algo da abertura tem sido revertida nos últimos anos, nos governos do PT.
ABRIR OU FECHAR
É fato que vários países hoje liberais já adotaram o protecionismo. Antes de defender a abertura de mercados, o Reino Unido, nos séculos 15 e 16, fez tudo para se fechar contra a pujante produção têxtil dos Países Baixos.
Depois foi a vez de o Reino Unido ser vítima do protecionismo dos EUA. O norte industrial, vencedor da Guerra de Secessão, não queria competição externa. Os EUA se mantiveram mais ou menos fechados até a Primeira Guerra.
Um defensor radical do protecionismo foi Alexander Hamilton, primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos (1789-1795), hoje na nota de dez dólares.
No que se refere aos produtos agrícolas, ainda hoje EUA e Europa impedem a entrada de produtos estrangeiros mais competitivos.
O problema do protecionismo é que é difícil acabar com ele. Políticas de proteção à indústria nascente acabam seguindo vivas por décadas.
Grupos diretamente interessados tendem a ser muito mais organizados do que a população em geral. Como mostra o caso brasileiro, as barreiras só caem quando são obstáculo à resolução de uma crise (como a inflação) ou quando outro grupo organizado emerge e passa a defender seus próprios interesses.
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