Diretora da S&P não descarta um novo rebaixamento da nota do Brasil
Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's (S&P), disse que um novo rebaixamento da classificação da dívida brasileira não está descartado. O país caiu ontem um degrau na escala de bons pagadores e, se for rebaixado novamente, pode perder o grau de investimento.
"Não significa que não vamos mudar. Quero frisar isso. Mas agora os riscos de um rebaixamento e de uma elevação estão equilibrados", disse à Folha, ao ser questionada sobre a perspectiva "estável" adotada para o país.
Segundo ela, o país pode ser rebaixado novamente se houver uma "forte deterioração" dos indicadores fiscais (receitas e gastos do governo) e um "abandono da política macroeconômica pragmática", que é o tripé formado por meta de inflação, câmbio flutuante e superavit primário (economia para pagar juros).
Lisa, principal responsável pela avaliação do Brasil na agência, está pessimista com a situação fiscal, mesmo após as eleições presidenciais. "Nunca é fácil fazer mudanças antes das eleições, mas, com todo o cenário previsto, também não acreditamos em uma forte mudança depois."
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Por que a S&P rebaixou o Brasil?
Nós sinalizamos o risco de rebaixamento em junho, quando mudamos a perspectiva para negativa. Desde então a situação piorou na área fiscal, com deficits mais altos, superavits primários [exclui gastos com juros] mais baixos e contínua atividade fora do orçamento [manobras fiscais]. E num contexto de baixo crescimento, o que reduz a arrecadação.
Na nossa opinião, a execução fiscal vai continuar com um crescimento mínimo, neste e nos próximos anos. Não será fácil atingir a meta de superavit neste ano. Também vemos outros riscos, como (o nível de endividamento) dos governos locais.
Se adicionarmos a isso algum enfraquecimento global, deixa menos espaço para manobrar os choques externos.
O que contou mais no rebaixamento: o aumento dos gastos ou o baixo crescimento?
É uma combinação. O crescimento no Brasil vai continuar baixo nos próximos anos. Há fatores cíclicos e estruturais. Entre os cíclicos, o aumento dos juros, que vai impactar a economia neste ano e no próximo. Entre os fatores estruturais, a força de trabalho está encolhendo.
Houve alguns importantes movimentos com as concessões, mas ainda é lento. O investimento em relação ao PIB é muito baixo. O crescimento não é significativo por causa do sentimento negativo entre os empresários, inclusive pela proximidade com as eleições. Com algumas desonerações fiscais sendo mantidas, vai ser mais difícil elevar a arrecadação e atingir a meta.
Qual foi a importância das eleições na sua decisão?
Nós incorporamos as eleições nas nossas projeções. Nunca é fácil fazer mudanças antes das eleições, mas, com todo o cenário previsto, também não acreditamos em uma forte mudança depois.
Esperamos uma queda no deficit a partir de 2015, como reflexo de uma política fiscal um pouco mais apertada. No entanto, há incertezas sobre o tamanho e o alcance.
Por que vocês mantiveram a perspectiva estável?
Isso reflete o fato que, apesar dos meus comentários negativos, há resiliência na economia brasileira. A dívida externa está crescendo, mas ainda é baixa. O deficit em conta corrente está crescendo, não é totalmente coberto por investimento direto, mas há grandes reservas internacionais. Há deterioração fiscal, mas a composição da dívida do governo ainda é sólida. Os superavits primários estão menores, mas o Brasil ainda tem um superavit.
Também acreditamos que há um comprometimento amplo com a política macroeconômica: sistema de metas de inflação, câmbio flutuante, e superávit primário.
O histórico de comprometimento com a política macroeconômica é um componente importante.
O que essa perspectiva estável significa? Até quando vocês não vão alterar a nota?
Olhamos para um horizonte de seis meses a dois anos. Não significa que não vamos mudar. Quero frisar isso. Mas agora os riscos de um rebaixamento ou de uma elevação estão equilibrados.
Isso é o que estamos sinalizamos aqui.
Alguns analistas estão especulando que a S&P pode rebaixar o Brasil de novo no ano que vem. É possível?
Não podemos dizer que não vamos. Com uma perspectiva estável, estamos olhando os riscos de elevação e de rebaixamento.
Quais são os riscos de uma elevação? Se tivermos uma política macroeconômica mais consistente, iniciativas para melhorar o resultado fiscal, um crescimento mais significativo, isso pode levar a uma elevação.
Por outro lado, podemos rebaixar o rating se houver deterioração forte dos indicadores fiscais e um abandono da política macroeconômica pragmática.
Mas isso não está no nosso cenário agora.
O Brasil foi rebaixado por seu cenário interno e não pela crise externa?
Sim. Nós achamos que o enfraquecimento interno dá menos margem de manobra para uma deterioração do cenário externo.
Qual é a sua perspectiva para os países emergentes?
Vemos muita volatilidade globalmente. O fim da expansão monetária nos EUA é positiva, porque significa que a economia americana está melhorando. Mas, se vamos caminhar para condições normais de financiamento, haverá um ajuste para os países emergentes.
E outro elemento central para a América Latina é a China. Um crescimento mais lento tem implicações para o crescimento dos países da região. Crescer 7% é muito diferente de crescer 10% para os preços das commodities e etc. E isso impacta na perspectiva de crescimento do Brasil.
A S&P rebaixou Eletrobras e Petrobras no mesmo nível que o Brasil. Mas a Petrobras tem uma dívida muito alta. Levaram isso em consideração?
É melhor conversar com nossos analistas setoriais. Mas nós vemos a Petrobras como uma estatal que tem um perfil consistente de longo prazo e fortes ligações com o governo, combinação que dá o rating.
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