BC mantém ação para segurar dólar e celebra efeito na inflação
Depois de nove altas consecutivas dos juros sem efeitos visíveis, a política antiinflacionária do Banco Central reencontrou um antigo aliado –o dólar barato.
Cada vez mais explicitamente, o BC chama a atenção para a inesperada queda das cotações da moeda americana ao rebater o pessimismo do mercado e da população com a alta dos preços.
Mais discretamente, a instituição colabora para a apreciação do real no mercado de câmbio, o que reduz o custo das importações e pode ser o último recurso para fechar o ano com inflação abaixo do teto de 6,5%.
Em exposição nesta quarta-feira (16) a empresários, o presidente do BC, Alexandre Tombini, apresentou uma lista de 20 moedas, na qual a brasileira teve a segunda maior valorização do ano em relação ao dólar.
A variação foi de 5,5% até 15 de março, inferior apenas à da rupia indonésia e superior às medidas em países como Japão, Índia, México, Rússia e Chile. A cotação, que iniciou o ano em R$ 2,36, fechou ontem em R$ 2,24.
Trata-se de um contraste com o cenário do ano passado, quando as perspectivas de recuperação da economia dos Estados Unidos levaram o dólar a subir quase 15% no mercado brasileiro.
"Havia forças que estavam se contrapondo ao combate à inflação. Recentemente, vimos uma tranquilidade maior do mercado internacional, se refletindo inclusive na moeda brasileira", disse Tombini ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
MUDANÇA
Em tempos não muito distantes, a queda do dólar era uma má notícia para a equipe econômica –até 2012, o BC comprava a moeda americana para elevar a cotação, porque preferia ajudar as exportações a aproveitar a oportunidade de conter a inflação.
Agora as intervenções do BC no mercado têm o sentido oposto. Desde o ano passado, a instituição oferece diariamente contratos que garantem aos compradores proteção contra os riscos de uma desvalorização cambial.
Com as operações, que hoje chegam a US$ 1 bilhão por semana, o BC diminui, na prática, a procura por dólares –porque importadores e empresas endividadas não precisam comprar a moeda antecipadamente para se prevenir de uma alta da cotação.
O BC havia se comprometido a manter a oferta até junho, mas tem ido além disso: também está renovando a grande maioria dos contratos que vencem, o que não era parte obrigatória da estratégia anunciada.
Para a LCA Consultores, a taxa de câmbio já se valorizou além do que seria esperável –mesmo considerando a entrada de dólares atraídos pela elevação dos juros de 7,25% para 11% ao ano.
"É hora, portanto, de questionar o fôlego desta tendência, apesar do interesse do governo nela", diz a consultoria, em boletim distribuído aos clientes.
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