IBGE afirma que errou e corrige dados sobre desigualdade no país
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou nesta sexta-feira (19) que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada ontem, continha erros. O problema teria ocorrido porque o peso das regiões metropolitanas foi superestimado em alguns Estados.
Segundo o instituto, equívocos no cálculo da pesquisa alteraram o índice de Gini, medida da desigualdade. O Gini do trabalho, que mensura exclusivamente a distribuição dos rendimentos do trabalho, passou de 0,496 em 2012 para 0,495 no ano passado, o que para o instituto indica uma estagnação.
Assibge, sindicato nacional de funcionários do IBGE, divulgou nota na noite desta sexta afirmando que a correção dos dados da Pnad "expressa a gravidade da situação a que chegou o IBGE".
Antes, o IBGE havia informado que o indicador tinha ficado em 0,498.
O índice vai de zero a um e quanto mais próximo de zero, melhor é a distribuição da renda do país.
Também mudou a estimativa do rendimento médio do trabalhador, que passou de uma expansão de 5,7%, divulgada na quinta-feira, para uma alta menor, de 3,8%.
A renda foi modificada de R$ 1.681 para R$ 1.651.
Outra mudança importante ocorreu na taxa de analfabetismo de 2013, que foi corrigida de 8,3% para 8,5%, pouco abaixo dos 8,7% de 2012.
A expansão do número de pessoas ocupadas também sofreu mudanças. Na quinta, foi divulgado um índice de 7,2%, alterado para 6,3% nesta sexta.
A taxa de desemprego se manteve em 6,5% no ano passado –acima do 6,1% de 2012.
O MOTIVO
De acordo com o IBGE, os problemas nos dados da Pnad ocorreram porque a Coordenação de População enviou projeções incorretas de sete Estados em que há mais de uma região metropolitana. É o caso de Ceará, Pernambuco, São Paulo, Paraná, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
A Pnad divulga resultados para cada unidade federativa e para nove regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre).
Nos Estados dessas nove regiões metropolitanas, a calibração dos dados é feita considerando a projeção de população para a região metropolitana da capital e para o restante do Estado, separadamente.
Nos sete Estados afetados pelo erro existem outras regiões metropolitanas, além das localizadas nas capitais.
De acordo com o IBGE, no processo de expansão da amostra da Pnad foi utilizada, equivocadamente, a projeção de população de todas as áreas metropolitanas em vez de usar apenas a projeção da região metropolitana na qual está inserida a capital.
Segundo Cimar Azeredo Pereira, coordenador do instituto, a renda das áreas metropolitanas é maior e o peso delas foi superestimado nos sete Estados. Desse modo, as maiores mudanças ocorreram na renda e no índice de Gini.
INTERFERÊNCIA
O diretor de pesquisas do instituto, Roberto Olinto, disse que não há interferência política na alteração dos resultados.
"A questão se resume a um erro técnico. Não houve a menor pressão nem interferência."
Para a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, apesar do erro, a análise dos dados continua a mesma. "A notícia não mudou. O Gini [medida da desigualdade] segue constante, estável."
A greve, segundo Olindo, não afetou o trabalho da Pnad nem a coleta dos dados, encerrada no começo deste ano.
Ele afirma que o erro foi identificado a partir de contatos de usuários da pesquisa, como consultorias e órgãos de governo. Entre eles, estão o Ipea e Ministério de Desenvolvimento Social.
Para Bivar, se for identificado que algum ato foi intencional, haverá punição.
"Precisamos avaliar o que ocorreu."
'CHOCADO'
Na noite desta quinta-feira, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) afirmou que o governo federal "está chocado" com os erros nos resultados da Pnad.
Questionada sobre eventual demissão de Wasmália Bivar, Belchior preferiu não se posicionar. O IBGE é uma entidade vinculada ao Planejamento.
"O governo decidiu duas coisas: constituir uma comissão de especialistas independentes pra avaliar a consistência da Pnad. Segundo, constituir uma comissão de sindicância pra encontrar as razões dos erros e eventualmente as responsabilidades funcionais porque isso aconteceu", disse a ministra.
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