Análise: Concessão de crédito dependerá do caminho escolhido
Dentre importantes desafios da economia política de 2015 a 2018 está o papel do crédito e sua capacidade em contribuir para o estímulo de um novo ciclo de expansão.
A concessão de crédito pelo sistema financeiro de qualquer país tem sua dinâmica associada, e, em muitos casos, dependente do ciclo de expansão e sustentabilidade do crescimento da economia.
SISTEMA FINANCEIRO |
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O crédito se confunde com o próprio ciclo econômico porque o consubstancia e dá amplitude na medida em que serve para antecipar a renda futura; assim, amplia a velocidade e a intensidade do crescimento econômico.
Atualmente, ter expansão vigorosa do crédito depende do crescimento econômico. Mesmo assim, o crédito pode ajudar a estimular um ciclo de expansão se houver melhora nos dois lados da equação, o da concessão pelos bancos e financeiras (oferta) e o dos tomadores: empresas e famílias (demanda).
Pelo lado da oferta, é importante mitigar riscos de empréstimos e ampliar a oferta de recursos disponíveis a custos competitivos no mercado. Medidas tomadas recentemente permitem avanços na regulação bancária, melhoria das garantias e ampliação dos prazos de empréstimos, aperfeiçoando as condições de concessão de crédito por bancos e financeiras.
A continuidade de avanços na legislação e a formatação de novos produtos adequarão ainda mais a oferta à atual condição da demanda.
Do lado da demanda reside a principal restrição para expansão do crédito. O tomador de crédito para consumo (famílias) enfrenta período de importantes restrições financeiras, como menor oferta de emprego, menor condição para ampliar a renda bruta, maior inflação e perda de poder aquisitivo e menor condição de liquidez, devido ao maior endividamento realizado em anos recentes.
Já as empresas enfrentam perdas de receita devido à baixa atividade econômica em um ambiente de custos operacionais altos e têm dificuldade em tomar novos empréstimos e administrar o fluxo de caixa com menor liquidez (ou liquidez inexistente, em alguns casos).
Para que haja maior demanda de crédito que a atual, cujo ritmo de crescimento é o menor da última década, é preciso identificar que prioridades a política econômica irá estabelecer e que vetores de crescimento privilegiará.
Se a escolha for pelo lado da demanda agregada da economia, buscando nova rodada de estímulo ao consumo e ao crédito, haverá resposta positiva; mas será lenta e insuficiente para uma rápida e consistente recuperação do crescimento econômico.
Se for pela ampliação da oferta agregada da economia, com estímulo a investimentos, produtividade e inovação, o resultado poderá ser mais amplo, criando condições para consumo e crédito terem expansão vigorosa.
Nesse caso, os prováveis polos de retomada de crescimento estarão em investimentos em infraestrutura, exportação de produtos de alto valor agregado e commodities agrícolas, investimentos em melhoria urbana, moradia, transporte, educação, saúde e serviços públicos, além de fomento a novos negócios e novas tecnologias.
Esse ciclo de expansão dirigido à retomada do investimento na economia terá efeito favorável para emprego, renda, consumo e crédito -nessa ordem. Sendo essa a agenda escolhida, a questão chave é saber quanto tempo passará entre a escolha, a implementação e o resultado econômico e financeiro.
NICOLA TINGAS é economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
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