Aquisição bilionária deixa nas mãos de três empresas 60% do processamento mundial de cacau
A aquisição das operações de processamento de cacau da ADM (Archer Daniels Midland) pela Olam, anunciada nesta semana, por US$ 1,3 bilhão, arremessa a companhia à primeira divisão no campeonato do chocolate. E também deixa o setor sob o controle de três empresas.
A Barry Callebaut, companhia suíça de cacau e chocolate; a Cargill, trading de commodities norte-americana, uma empresa de capital fechado; e as operações de cacau recentemente expandidas da Olam responderão por aproximadamente 60% do processamento mundial de cacau, quando a aquisição da divisão de cacau da ADM for concluída.
Ana Paula Boni/Folhapress | ||
60% do cacau de todo o mundo será processado por três empresas |
Esse é o mundo das gigantes do chocolate.
O setor, que transforma as amêndoas de cacau em manteiga, pó e licor de cacau usados para produzir chocolates e flavorizantes para sobremesas e doces, vem passando por um processo de forte concentração de propriedade, nas últimas décadas, em razão de a atividade requer investimento intensivo de capital.
INÍCIO
Muitas das transações remontam à fusão entre a Callebaut, fabricante belga de chocolate industrial, e a Cacao Barry, da França, em 1996, que deu início à consolidação do setor.
No começo dos anos 1990, havia cerca de 40 processadores de cacau de porte significativo. Pouco mais de uma década depois, o número era de 9, e a ADM, a Barry Callebaut e a Cargill vinham dominando o setor desde então.
De acordo com a Conferência de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas, esse "ABC" do cacau respondia por 41% da capacidade mundial de processamento do fruto em 2006.
A ADM, em companhia da Cargill, mudou a natureza do comércio e do processamento de cacau nos anos 1990, quando levou ao setor seu conhecimento especializado sobre o comércio de grãos.
Desde então, as companhias de maior porte ganharam ainda mais poder ao expandir sua capacidade de processamento. Em 2013, a Barry Callebaut adquiriu as operações de processamento de cacau do grupo asiático Petra Foods, cimentando sua posição no topo do ranking.
Gerry Manley, diretor mundial de operações de cacau da Olam, deixou claro que a companhia precisa ser um dos líderes no segmento de processamento para permanecer "forte" como companhia, quando a empresa anunciou o acordo de aquisição com a ADM.
Seria possível afirmar que as tradings e os processadores de cacau estão simplesmente tentando acompanhar seus clientes –os fabricantes de chocolate.
Esse setor também viu rápida consolidação, com os cinco principais fabricantes, entre os quais Mars, Mondelez e Nestlé, respondendo hoje por mais de 65% das vendas totais de chocolate.
MARKETING
A importância das marcas mundiais e os crescentes custos de marketing e de pesquisa e desenvolvimento em um mercado cada vez mais internacionalizado e competitivo ajudaram a promover a consolidação.
De acordo com a Ecobank, 70% do valor de uma barra de chocolate fica com as companhias de cacau e chocolate e reflete investimentos em marketing e pesquisa e desenvolvimento; 17% do valor fica com o varejo, e 7%, com intermediários como as tradings.
Mas, à medida que os grandes do chocolate ganham força, os plantadores de cacau se veem cada vez mais pressionados.
Eles ficam com apenas 6% do valor de cada barra de chocolate, hoje, ante 16% nos anos 1980, diz Edward George, do Ecobank. "Parte muito pequena do valor se relaciona à matéria-prima", diz.
As grandes companhias de cacau e chocolate agora se uniram em torno de um plano de ação para encorajar o desenvolvimento de fontes "sustentáveis" de cacau.
Mas, a menos que a proporção do valor que cabe aos plantadores mude ou que o bolo todo cresça ainda mais, os agricultores terão pouco incentivo para continuar cultivando cacau.
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