Crítica: Autor vê 'opressão' a criadores e consumidores de informação
O título do novo livro de Cory Doctorow, "Information Doesn't Want to Be Free" (a informação não quer ser livre), é enganoso. Ele explica um pouco melhor no corpo de seu ensaio de 192 páginas quase um manifesto: não é a informação que quer ser livre, mas as pessoas.
O bordão original, de que a informação quer ser livre (e grátis), nasceu há exatos 30 anos, na primeira e lendária Hackers Conference, na baía de San Francisco, e virou lema na luta contra as restrições tecnológicas do acesso à informação.
Doctorow segue na luta, mas precisando que as pessoas (os criadores e o público) é que querem a informação livre, contra a pressão dos intermediários (as empresas de conteúdo e as plataformas de tecnologia).
Doctorow, 43, ativista de direitos digitais e jornalista, um dos editores do blog "Boing Boing", é hoje mais conhecido como best-seller de ficção não necessariamente futurista, mas distópica, como em "Little Brother" (Tor Books, 2008).
Embora não ficção, "Information" vai pela mesma linha. Em sua distopia, divide o Big Brother de Orwell em dois: "Big Content", grandes empresas de conteúdo (estúdios de cinema e TV, principalmente), e "Big Tech", de tecnologia (Google, Amazon, Apple).
Como mostrou dois anos atrás no Brasil, Doctorow fala pelos cotovelos e tem um discurso cheio de reviravoltas, que se reproduz no livro, no qual também amontoa, sem maior didatismo, siglas e conceitos de internet.
A barafunda marca suas "três leis", arcabouço do livro. Era para ser uma só, mas o agente literário de Doctorow sugeriu três, como fez o escritor Arthur C. Clarke com suas leis sobre ciência e tecnologia –e também Isaac Asimov, sobre robótica.
A primeira e mais importante, a verdadeira "Doctorow's Law", afirma: "Toda vez que alguém coloca uma fechadura em algo que pertence a você e não fornece a chave, essa fechadura não está lá em seu benefício".
Vale sobretudo para as leis atuais de direitos autorais e os sistemas de DRM (gerenciamento de direitos digitais), que transferem dos criadores e do público o controle sobre os livros ou filmes para as mãos dos intermediários.
O futuro da internet não deveria ser uma disputa para ver se Hollywood ou Google fica no controle. "Big Content" e "Big Tech", pelo que já se observa, começam a se acertar "em prejuízo de todas as outras pessoas".
ALTERNATIVAS
Na alternativa idealizada por Doctorow, é possível às pessoas criar e até ganhar o bastante para viver sem apelar aos "homens do meio", aproveitando-se da capacidade de disseminação própria e livre da internet.
A cantora Amanda Palmer escreve, em sua introdução ao livro: "Somos uma nova geração de artistas, apoiadores e consumidores que acreditam que o velho sistema pelo qual trocávamos conteúdo e dinheiro está morto. Não morrendo: morto".
Muito do que está em "Information" o escritor e ativista já trata publicamente há anos –e abordou na visita ao Brasil, quando até saudou o Marco Civil por defender direito autoral sem ceder às fechaduras dos intermediários.
Porém, sendo Brasil, Doctorow observou que um livro seu não sairia em e-book aqui, porque "nem uma única empresa de comercialização de livros eletrônicos no mercado brasileiro se dispõe a dispensar DRM".
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INFORMATION DOESN'T WANT TO BE FREE
AUTOR Cory Doctorow
EDITORA McSweeney's
QUANTO US$ 22 (192 págs.)
AVALIAÇÃO Bom
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