Ações da Petrobras têm maior tombo diário em três meses após balanço
As ações da Petrobras despencaram nessa quarta-feira (28) e empurraram a Bolsa brasileira para o vermelho, com avaliações negativas em relação ao balanço não auditado da companhia no terceiro trimestre de 2014. O documento foi divulgado nesta madrugada, com mais de dois meses de atraso.
A queda fez com que o valor de mercado da petroleira passasse de R$ 128,7 bilhões na última terça-feira (27) para R$ 114,8 bilhões nesta quarta. Em 2010, a cifra era de R$ 380,2 bilhões, segundo dados da Bloomberg.
A principal queixa dos analistas foi que o balanço não contabilizou o dinheiro perdido em desvios investigados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e nem a perda de valor recuperável de alguns dos ativos da Petrobras por efeito do escândalo de corrupção. O atraso na divulgação, prevista inicialmente para 14 de novembro, pretendia considerar tal ajuste.
Após subirem até 12% ao longo do dia, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, fecharam com desvalorização de 11,21%, para R$ 9,03. Já as ordinárias, com direito a voto, cederam 10,48%, para R$ 8,63. Ambas tiveram a maior perda diária desde 27 de outubro de 2014, quando as preferenciais caíram 12,33% e as ordinárias, 11,34%.
O desempenho empurrou o Ibovespa para baixo. O índice teve recuo de 1,85%, para 47.694 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,979 bilhões. Papéis de importantes setores, como bancos, siderurgia e mineração, também cederam, ajudando a sustentar a perda da Bolsa. A preocupação é que a crise na estatal prejudique outras empresas e afete o já enfraquecido desempenho econômico do país.
"A intenção da companhia de divulgar o balanço não auditado foi para atender as obrigações com os credores, mas se não tem baixa contábil, para que serve? O mercado trabalhava com uma baixa contábil entre US$ 5 bilhões podendo chegar à US$ 20 bilhões", diz Ricardo Kim, analista da XP Investimentos, em relatório.
"Só para se ter uma ideia, a Refinaria Abreu Lima teve um custo total de US$ 18,6 bilhões. O orçado inicialmente era em torno de US$ 3 bilhões, conteúdo local poderia ter encarecido, porém, uma refinaria deste porte não deveria custar mais do que US$ 6 bilhões, ou seja, só da Refinaria Abreu Lima poderia ter uma baixa contábil de US$ 12 bilhões", completa Kim.
"A decisão da Petrobras mostra que ela está tendo dificuldade para chegar a esse cálculo [de quanto será a baixa contábil]. Isso só aumenta a incerteza do mercado, que está preocupado com o prazo em que isso será definido", diz Henrique Florentino, analista da Um Investimentos.
"Ainda estamos falando do terceiro trimestre de 2014, sendo que nesta quarta-feira já começa a temporada de divulgação dos balanços do último trimestre do ano passado", afirma Florentino. "Deixando a baixa contábil de lado, operacionalmente a empresa não teve desempenho bom."
Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global, avalia que "a não divulgação da baixa contábil pela Petrobras significa que há uma dificuldade em conseguir chegar a esse número, o que pode indicar que a perda será ainda maior do que o que o mercado estava estimando."
Para Luis Gustavo Pereira, analista da Guide Investimentos, o fato de o conselho da Petrobras não ter chegado a um consenso sobre a baixa contábil "não é só ruim para ela". Segundo ele, "menores investimentos dela afetam, e de forma expressiva, os investimentos do país como um todo –algo que deve continuar contribuindo para a revisão do crescimento do PIB nas próximas semanas."
NO VERMELHO
O setor de bancos, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, cedeu. O Itaú caiu 2,04%, para R$ 33,60, enquanto o Bradesco recuou 2,39%, para R$ 35,14. O Banco do Brasil teve baixa de 4,30%, para R$ 22,01.
As ações de empresas do setor elétrico e de saneamento básico também sofreram. O mercado continua penalizando estes papéis pelas notícias de racionamento no país. A concessionária de saneamento do Estado de São Paulo, a Sabesp, mostrou desvalorização de 3,41%, para R$ 13,30.
Os papéis preferenciais da Vale, que chegaram a subir durante o dia, encerraram a sessão com perda de 0,82%, para R$ 16,85. As ações ordinárias da mineradora desvalorizaram-se 0,26%, para R$ 18,95. O preço do minério de ferro negociado na China –principal destino das exportações da Vale– caiu nesta quarta pelo sexto dia consecutivo.
Lá fora, predominou o clima de aversão ao risco nos mercados globais. A maioria dos índices de ações da Europa mostraram queda, ainda com cautela sobre a situação política na Grécia, após o líder esquerdista Alexis Tsipras ter se tornado o primeiro-ministro do país.
Nos Estados Unidos, a principal referência do dia ficou por conta da reunião de política monetária do Fed (banco central americano). A autoridade demonstrou novas preocupações com a inflação e sinalizou que não deve elevar a taxa básica de juros da economia até pelo menos o mês de junho. Uma alta tende a provocar uma retirada de recursos de países emergentes, como o Brasil.
CÂMBIO
A espera pela sinalização do Fed motivou a alta do dólar nesta quarta-feira. A reunião da autoridade terminou perto das 17h (de Brasília), mesmo horário que o mercado brasileiro fecha.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, chegou a subir mais de 0,5 ponto percentual ao longo do dia, mas fechou com ligeiro avanço de 0,07% sobre o real, cotado em R$ 2,578 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 0,23%, para R$ 2,577.
O Banco Central do Brasil deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, por meio do leilão de 2.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), por US$ 98,7 milhões.
A autoridade também promoveu um outro leilão para rolar 10 mil contratos de swap que venceriam em 2 de fevereiro, por US$ 488,5 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 89% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, equivalente a US$ 10,405 bilhões.
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