Tarifaço e crise da água aceleram inflação em janeiro
A crise da água e reajustes de preços controlados pelo governo estão entre os principais fatores que levaram o IPCA (índice oficial de preços ao consumidor) ao maior nível em 12 anos.
Os preços medidos pelo indicador registraram em janeiro alta de 1,24%, maior valor apurado em um mês desde fevereiro de 2003. No acumulado em 12 meses, a inflação rompeu o limite da meta do governo e chegou a 7,14%, segundo o IBGE.
Editoria de arte/ Folhatress | ||
A crise da água apareceu no aumento superior a 8% na tarifa de energia. Também teve reflexo no preço de produtos alimentícios, com a produção afetada pela seca, e na tarifa de água e esgoto.
Ajustes do governo na área fiscal, com corte de subsídios e aumento da tributação, se refletiram não só na conta de luz, mas também na alta de preços de veículos e cigarros. Pesaram ainda no índice os reajustes sazonais do início de ano, como ônibus (8%) e metrô (9,2%), que estavam com a tarifa congelada em algumas capitais desde 2012.
Nos últimos 12 anos, o IPCA mensal só ficou acima de 1% nos três primeiros meses do governo Lula (2003-2010).
A previsão do mercado financeiro é que a inflação desacelere na comparação mensal a partir do segundo trimestre. Ainda assim, deve ficar acima de 1% até março, segundo Basiliki Litvac, economista da consultoria MCM.
Em fevereiro, apesar de uma desaceleração dos preços de alimentos e transporte público, entra em cena a alta nos tributos sobre combustíveis anunciada em janeiro e os reajustes nas matrículas escolares.
Em março, devem pesar o reajuste extraordinário das distribuidoras de energia e o aumento previsto da bandeira tarifária vermelha.
A expectativa do mercado é que a inflação acumulada em 12 meses ficará acima de 7% durante todo o ano, exceto em junho. É quase consenso que a meta de 2015, cujo teto é 6,5%, não será cumprida, o que não acontece desde 2003. Isso obrigaria o BC a divulgar uma carta para explicar publicamente as razões do descumprimento.
Também são poucos os economistas que acreditam que o IPCA chegará a 4,5% no fim de 2016, objetivo reforçado nesta semana pelo BC.
"É provável que essa meta central só seja alcançada em 2017. Seria necessário colocar a Selic [taxa básica] em 15% ou 16% ao ano para chegar na meta, mas com a economia fraca isso não vai acontecer", afirmou Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e responsável pela área econômica da CNC (Confederação Nacional do Comércio).
Para Adriana Molinari, analista de inflação da consultoria Tendências, a inflação deve fechar o ano entre 7,3% e 7,5%. A projeção até a semana passada era de 6,8%, mas foi elevada depois de novas estimativas oficiais sobre os repasses de custos do setor elétrico às tarifas.
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