análise
Medo do desconhecido faz UE entrar na campanha do plebiscito
O medo de que a Grécia veja obrigada a abandonar o euro, o que jogaria a Europa em território desconhecido, levou lideranças europeias a entrar de peito aberto na campanha para o plebiscito de domingo, 5, em que os gregos decidirão se aceitam o pacote proposto pelos credores.
"Um voto 'não' significaria que a Grécia está dizendo não à Europa", decretou, por exemplo, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo do conglomerado europeu.
Por que a Europa teme a saída da Grécia, se representa só 2% da economia europeia?
Primeiro, porque seria entrar "em território desconhecido", como disse ao "Financial Times" o analista Huw Pill, da Goldman Sachs.
Segundo: as consequências político-institucionais de levar a Grécia à quebra seriam potencialmente tão dramáticas quanto as econômicas.
Diz, por exemplo, Dimitar Bechev, pesquisador visitante do Instituto Europeu da London School of Economics: "A saída da Grécia provaria que a integração europeia é reversível e não conduz à convergência em prosperidade e padrões de governança".
Reprodução | ||
Cédula do plebiscito que será realizado na Grécia neste domingo, 5 de julho |
FRONTEIRA SENSÍVEL
Emenda Thanos Dokos, da Fundação Helênica para Política Europeia e Externa: "A Grécia tem uma das fronteiras externas mais sensíveis da UE, no contexto da imigração [a outra grande tragédia contemporânea para a Europa]. O gerenciamento da fronteira estaria além da capacidade de um país em bancarrota".
Por isso, a liderança europeia pede o voto "sim" ao pacote por ela apresentado aos gregos, que impõe austeridade adicional em troca de socorro financeiro, sem o qual os bancos gregos quebram.
O eleitorado terá que decidir, no domingo, se dói mais a navegação por território desconhecido ou a austeridade, cujos resultados, estes sim, são conhecidos.
A OCDE, o clubão dos países mais industrializados, em seu relatório de meio de ano, informa que o PIB grego em 2014 (sem austeridade adicional) só crescerá 0,1% (detalhe: a avaliadora de risco S&P prevê queda de 3%); que a dívida pública ficará em 185% do PIB (estava, no fim de 2014, em 175%); e que o desemprego continuará na escandalosa casa dos 25% (mais exatamente 25,7%).
É com base nesses números que o premiê Alexis Tsipras pede o "não", com o que aprofunda o confronto com os europeus. Mas ele também não sabe se, caso sua posição seja aprovada pelo eleitorado, os números não se tornarão ainda mais tenebrosos.
Chegou-se, pois, a uma situação na qual não haverá ganhadores claros, vença o "sim" ou o "não".
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