análise
O premiê grego está perdendo o rumo
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, está perdendo toda a credibilidade, não porque sua posição seja inflexível na negociação com a Europa, mas porque parece biruta de aeroporto antigo: muda de posição conforme o vento.
Depois de romper a negociação, no fim de semana, Tsipras convocou um plebiscito para que o eleitorado grego decida se quer mais um pouco de austeridade, como exigem os credores da Grécia, ou prefere a incerteza de um rompimento, que, no limite, levaria o país a ter que sair do euro.
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A convocação do plebiscito parecia a última palavra, mas, depois, Tsipras fez uma nova proposta: pediu um pacote adicional de ajuda, o que a Europa rejeitou.
Por fim, na noite desta terça-feira, 30 de junho, mandou uma nova carta aos credores, vazada pelo "Financial Times", na qual aceita as exigências que antes rejeitara, desde que fossem feitas algumas modificações ("menores", segundo o jornal britânico).
O Eurogrupo, ou seja, o conglomerado de ministros de Economia da zona euro, esnobou Tsipras: disse que qualquer nova negociação teria que esperar o plebiscito de domingo, 5.
A carta do premiê de certa forma desmoraliza o plebiscito: se ele aceita, agora, exigências que antes rejeitara, como é que os eleitores podem votar "não" ao pacote europeu, como pede Tsipras?
E o que exatamente está em jogo: o pacote originalmente proposto pelos credores ou um novo pacote, amenizado pelas contrapropostas de última hora de Tsipras?
Aliás, é sintomático que dois cidadãos gregos sem cargos públicos, um engenheiro e um advogado, tenham entrado com recurso junto ao Conselho de Estado, a corte suprema local, para que declare inconstitucional e ilegal o plebiscito.
Uma das razões alegadas é correta: não haverá tempo para informar o público sobre o que, exatamente, ele está votando.
De fato, a cédula oficial remete o eleitor a um texto técnico de 10 páginas em que os credores detalham as medidas que pedem à Grécia.
É razoável supor que a mudança mais recente de Tsipras, ao remeter a carta que o FT vazou, se deva exatamente à mudança do vento interno, revelado na primeira pesquisa sobre a intenção de voto no plebiscito.
Publicada pelo jornal Efimerida Ton Synatkton nesta quarta-feira, 1, mostra que o voto contra o pacote perdeu 11 pontos percentuais de apoio desde que entrou em vigor o chamado "corralito", o fechamento dos bancos com limites para saques.
Antes dele, 57% dos pesquisados pretendiam votar "não", como pede Tsipras; depois, só 46% (37% preferem o "sim"; antes eram 30%).
O resultado é compreensível: cada vez mais, firma-se a convicção de que o voto, na prática, significa decidir sobre a permanência ou não da Grécia no euro.
Como as mais recentes pesquisas indicam que 65% querem ficar no euro, as chances de que o voto "sim" afinal prevaleça são no mínimo razoáveis —o que deixaria Tsipras sem apoio interno, após ter pedido o externo.
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