ANÁLISE
Turbulência na China é mais uma péssima notícia para o Brasil
Sam Yeh/AFP | ||
Homem analisa gráfico de ações em Bolsa asiática |
A turbulência chinesa é mais uma péssima notícia para o Brasil em um momento já muito grave para a economia nacional, que sofre com uma recessão que pode superar 1,5% neste ano e com uma alta perigosa do desemprego.
Ainda não está claro se estamos diante do estouro da tão temida "bolha" de ações chinesa ou de uma forte oscilação de curto prazo. Vai depender da duração do solavanco e da contaminação da economia real no país.
Mas, se a situação piorar, o Brasil pode ser atingido duramente por três canais principais de contágio. O primeiro é o efeito manada.
Criou-se no mercado a percepção até um pouco exagerada de que se a China vai mal é preciso automaticamente vender também ativos brasileiros. Nesta quarta-feira, o dólar subiu 1,27% e fechou a R$ 3,229, o maior patamar em três meses, enquanto o Ibovespa cedeu 1,07%.
A segunda forma de contaminação é o comércio exterior, já que a China é o principal parceiro comercial.
O preço do minério de ferro caiu 10% só ontem para US$ 44,59 por tonelada, e as ações da Vale recuaram 4%. Desde o início de junho, o minério já caiu quase 30%.
Essa nova rodada de queda do minério é uma pá de cal no que já vinha mal. No primeiro semestre, as exportações brasileiras desse produto recuaram 49%, basicamente por causa de preços baixos.
A fatia do minério na exportação caiu de 12,7% no primeiro semestre de 2014 para 7,6%. É provável que, neste ano, o minério perca o posto de principal item da pauta de exportação pela primeira vez desde 2004, diz José Augusto de Castro, da AEB, que reúne os exportadores.
Por fim, a terceira e mais perigosa via de contágio da crise chinesa é a retração nos investimentos diretos do país asiático no Brasil.
Na recente visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, a China sinalizou com uma injeção de US$ 35 bilhões no Brasil, principalmente em infraestrutura.
As autoridades brasileiras saíram do encontro com a sensação de que tinham encontrado na China uma alternativa de financiamento, que substituiria a falta de apetite por ativos brasileiros.
"Na turbulência, a tendência dos chineses é pisar no freio, principalmente fora do país. Ainda é cedo para dizer que o dinheiro não virá, mas é preciso estar atento", diz Marcos Troyjo, diretor do BRICLab, da Universidade de Columbia, nos EUA.
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