Grupo japonês promete manter independência do 'Financial Times'
O grupo japonês de mídia Nikkei Inc. declarou nesta sexta-feira (24) que a independência editorial do jornal britânico Financial Times está garantida após tê-lo comprado da editora Pearson.
O CEO do grupo, Tsuneo Kita, deu uma entrevista coletiva aos jornalistas japoneses para explicar a transação de £ 844 milhões (US$ 1,3 bilhão, ou R$ 4,32 bilhões) anunciada na quinta-feira (23).
Niklas Halle'N/AFP | ||
Lançado em 1888, o 'Financial Times' tem uma equipe de cerca de 500 jornalistas e ao menos 720 mil assinantes |
Segundo ele, a independência do FT, um dos mais renomados jornais do mundo, está "assegurada". "O FT continua sendo o FT, e isso permanece inalterado. Estará mais forte após essa aquisição", disse.
Ele afirmou ainda que o grupo tem "total confiança" no atual editor-chefe do jornal, Lionel Barber. "Mesmo após a aquisição ser concluída, os jornalistas e funcionários do FT devem continuar seu trabalho em busca de um jornalismo de qualidade", afirmou.
Segundo o comando do Nikkei, não há planos para integração editorial entre os jornais do grupo e o FT, mas poderá haver uma união física, ou seja, operarem no mesmo prédio em cidades onde os dois veículos atuarem.
Kita justificou que a aquisição faz parte de uma estratégia do Nikkei de expandir globalmente seus negócios, com foco na Ásia, em reação às dificuldades do mercado japonês.
Durante a entrevista, o CEO deu detalhes da negociação. Segundo ele, há cinco semanas o grupo japonês foi procurado pela Pearson, dona do FT, para discutir o interesse em comprar o jornal.
Depois de reuniões, ele foi a Londres no começo desta semana definir os últimos detalhes. O martelo, diz, foi batido nesta quinta por teleconferência com o presidente da Pearson, John Fallon.
Na negociação, os japoneses teriam vencido a disputa com a editora Alex Springer, responsável pelo jornal alemão "Bild".
O acordo inclui o "Financial Times", o site do diário, o "FT.com", e a revista "The Banker", mas não inclui a suntuosa sede do FT na beira do Tâmisa, em Londres, nem os 50% que a editora tem de participação no Economist Group, que edita a revista "The Economist".
EDUCAÇÃO
No cargo desde 2013, o presidente da Pearson, John Fallon, disse que o grupo decidiu vender o jornal -do qual era dono desde 1957- para priorizar o setor educacional, responsável por 90% da receita.
Diante da queda nos lucros e de dificuldades no mercado americano, a Pearson tem se reestruturado -há dois anos, comprou no Brasil a rede de escolas de idiomas Wizard por R$ 2 bilhões.
Fallon, de fato, nunca se comprometeu em manter o FT no grupo, ao contrário da antecessora, Marjorie Scardino, que, quando no cargo, declarou que a Pearson só venderia o jornal se passassem por cima de seu "cadáver".
"Atingimos um ponto de inflexão na mídia, levado pelo crescimento explosivo do mobile e das redes sociais", disse Fallon.
"Nesse novo ambiente, a melhor formar de assegurar o sucesso comercial e jornalístico do FT é ser parte de uma companhia digital global." O acordo deve ser concluído até o fim do ano.
Lançado em 1888, o "Financial Times" tem uma equipe de cerca de 500 jornalistas e ao menos 720 mil assinantes, sendo 70% no digital, e o restante, no impresso.
Criado em 1876, o grupo Nikkei tem 3.000 funcionários e é o maior conglomerado independente de mídia da Ásia. Edita um jornal que leva o mesmo nome, concentrado em economia e negócios, com tiragem diária de 3 milhões de exemplares e considerado um patrimônio pelos japoneses.
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