Escândalo de emissões da Volkswagen é vingança da realidade
Ralph Orlowski/Reuters | ||
Ações da Volkswagen caem após empresa se envolver em escândalo sobre poluentes |
"As velhas realidades do diesel já não se aplicam", a Volkswagen diz em sua publicidade nos Estados Unidos para veículos acionados por um combustível que costumava causar "mau cheiro, fumaça e lentidão". Agora, parece que os esforços da Volkswagen para mudar a realidade dos veículos acionados a diesel podem ter incluído trapacear em testes federais.
A queda abrupta nas ações da Volkswagen segunda-feira, que chegaram a se desvalorizar 22,8% na maior queda diária já registrada, reflete a seriedade do que ela é acusada de fazer: enganar propositalmente a Agência de Proteção Ambiental (EPA) norte-americana ao usar software que fazia com que os motores diesel de carros como o Golf e o Jetta parecessem menos prejudiciais ao meio ambiente do que de fato são.
O simples fato de que Martin Winterkorn, presidente-executivo da Volkswagen, tenha admitido em público que "violamos a confiança dos nossos compradores e do público" é suficiente para transformar a situação em séria crise para a companhia que deseja superar a Toyota como maior fabricante mundial de veículos em 2018.
A posição de Winterkorn, que alguns meses atrás derrotou uma tentativa de Ferdinand Piëch, antigo presidente do conselho da Volkswagen, para desestabilizá-lo, volta a estar em risco. O conselho supervisor da Volkswagen se reúne na sexta-feira e um item da agenda é a extensão de seu contrato até 2018. Agora, o conselho terá de responder à crise.
Iludir as autoridades regulatórias e o governo é uma das coisas mais sérias que uma companhia pode fazer. Um exemplo foi a manipulação da taxa Libor, de referência de juros interbancários, por operadores de bancos como o Barclays, UBS e Royal Bank of Scotland, que resultou em acusações criminais, multas e acordos extrajudiciais em valor de mais de US$ 3,5 bilhões.
A Volkswagen agora não só enfrenta indenizações que podem chegar aos bilhões de dólares como a possibilidade de indiciamentos criminais. Winterkorn, que anunciou uma investigação interna e prometeu que não toleraria "qualquer tipo de violação da lei ou de nossas regras internas", é o mais alto executivo da Volkswagen a sofrer pressão.
A crise também cria problemas para os esforços das montadoras europeias, entre as quais a Volkswagen, para converter o mercado dos Estados Unidos ao uso do diesel menos poluente. Os consumidores norte-americanos, sob a influência de gerações anteriores e mais poluentes de motores diesel, e as autoridades regulatórias do país, que impõem padrões ambientais severos, já eram difíceis de convencer antes do acontecido.
As provas contra a Volkswagen, combinadas ao fato de que a companhia já pediu desculpas, são muito sérias. Em sua queixa oficial, a EPA detalha como "um sofisticado algoritmo de software" foi usado para alterar os níveis de emissões dos veículos a depender de seu uso comum ou em testes.
Existe uma ligeira ambiguidade na queixa - o texto afirma que a Volkswagen "sabia ou deveria ter sabido" que para todos os efeitos havia instalado em seus carros um "defeat device" [dispositivo manipulador]. Trata-se de um dispositivo que eleva as emissões de determinados poluentes, no caso o óxido de nitrogênio, quando o carro está em uso na rua, e as reduz durante os testes oficiais de poluição.
Isso gera a possibilidade de que a Volkswagen argumente que não violou a lei intencionalmente. Trata-se do caso mais grave, por larga margem, de violação das normas da EPA, mas outras montadoras já foram apanhadas fazendo afirmações falsas sobre o desempenho de seus veículos.
No ano passado, Hyundai e Kia pagaram multa de US$ 100 milhões nos Estados Unidos, como parte de um pacote indenizatório de US$ 300 milhões por anunciarem economia de combustível maior que a real em seus veículos, e a Ford por duas vezes teve de reduzir as estimativas de quilometragem por litro de alguns de seus modelos. Com o aperto nos padrões da EPA, a tentação de tentar manipulá-los só cresceu.
Mas nada disso reconfortará a Volkswagen. A queixa é tão específica e tão séria - e inclui a acusação de que ela só admitiu ter feito o que fez depois de um ano de investigação - que salta aos olhos. A menos que a companhia encontre uma forma de se defender da acusação de que iludiu deliberadamente o governo, sua reputação será fortemente prejudicada.
A Volkswagen há muito luta por conquistar nos Estados Unidos o mesmo espaço que tem na Europa e Ásia. Construiu uma fábrica de US$ 1 bilhão no Tennessee e prometeu investir bilhões de dólares adicionais em expansão, mas a despeito de seu sucesso com o Fusca nos anos 60, ela continua atrás das montadoras japonesas e asiáticas.
A última coisa que a companhia desejava era um incidente que maculasse tanto sua marca quanto a tecnologia na qual ela lidera. E é isso que terá de enfrentar agora.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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Atualizado em 17/04/2024 | Fonte: CMA | ||
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