Empresas já procuram fornecedor nacional para reduzir custo com dólar
Juca Varella/Folhapress | ||
Funcionário de indústria fiação, em Americana, São Paulo |
Setores com mais dificuldade para repassar o aumento de custo buscam fornecedores locais para trocar os insumos importados pelos fabricados aqui. A medida pode favorecer a indústria nacional, mas ainda acontece em ritmo lento. Os fabricantes locais também terão de encarar o atraso tecnológico e a escassez de crédito.
A substituição de importação começa aos poucos ganhar força entre empresas de itens elétricos, vestuário, confecção e de máquinas.
"O primeiro impacto da alta do dólar para a indústria é preço e custo. Num segundo momento, ela busca substitutos nacionais para os componentes importados", diz Renato da Fonseca, gerente de competitividade da CNI.
"Para conseguir vender, o fabricante tem que repassar o mínimo possível. Para baratear a peça, ele substitui o componente importado pelo nacional", diz Thomaz Zanotto, diretor da área de comércio exterior da Fiesp.
A fabricante de bermudas masculinas Brooks, localizada em Nova Lima (MG), viu o número de consultas disparar após a alta do dólar.
"Nas últimas duas semanas, a demanda foi muito maior", diz Danielle Diniz, sócia da empresa, fornecedora para Pernambucanas, Riachuelo, Marisa e Leader. "São clientes que importam muito, mas já direcionam a demanda para o mercado local."
Mas fechar contratos está mais difícil. "Os varejistas querem comprar o produto pelo mesmo valor do importado da China, antes da alta do dólar, o que é quase impossível", diz Diniz, lembrando que os tecidos também sobem por causa do câmbio.
"O nosso maquinário também é cotado em dólar, sem falar nos preços da energia e nos impostos, que aumentaram neste ano. Fica muito difícil nivelar o nosso preço com o da China", afirma.
Para chegar perto do preço solicitado pelos clientes, a Brooks precisa reduzir os custos em torno de 40%. "O nosso desafio é buscar outras opções de fornecedores para fechar um preço intermediário entre o que o mercado está pedindo e o que podemos oferecer", afirma.
A valorização do câmbio trouxe um fôlego extra à fabricante de bermudas, que de janeiro a julho teve uma queda de 40% nas vendas. A empresa, que tem 20 anos no mercado, emprega cerca de 500 funcionários, dos quais 450 são indiretos. Duas oficinas de costura que prestavam serviços para a Brooks fecharam as portas neste ano, segundo Diniz, devido a problemas de capital de giro.
REINDUSTRIALIZAÇÃO
As empresas de componentes elétricos podem se beneficiar da desvalorização do real, avalia a Abinee. "Esse movimento pode gerar uma reindustrialização. Alguns componentes que haviam sido substituídos por outros importados já voltam a ser comprados no Brasil", diz Humberto Barbato, presidente da associação.
Entre os fabricantes de máquinas, a importação responde por 50%. Há dez anos, era 30%. O dólar mais caro pode contribuir para mudar um pouco essa relação.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Humberto Barbato, presidente da Abinee |
"Houve muita importação de máquinas como tornos, fresas, furadeiras, máquinas injetoras de plástico porque os preços eram baixos. Agora, há uma oportunidade para recuperar mercado", diz Carlos Pastoriza, que representa o setor de máquinas.
O câmbio mais competitivo pode, de fato, favorecer a cadeia nacional, mas há outros problemas que ainda precisam ser resolvidos, avalia o presidente da Abiplast (associação das indústrias de plástico), José Ricardo Roriz Coelho.
"O câmbio alto realmente tornaria o produto nacional mais atrativo do que o do mercado internacional. Mas, em contrapartida, energia elétrica, juros e linhas de crédito encareceram. Continuamos com as mesmas ineficiências", diz. De janeiro a agosto, o setor plástico faturou R$ 36,17 bilhões, o valor representa queda de 4% em relação ao mesmo período do ano passado.
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- MATÉRIA-PRIMA ESTRANGEIRA
- Setores com alto percentual de insumos importados (em %)*
>> Informática, eletrônicos e ópticos: 76,8
>> Farmacêuticos: 61,7
>> Químico: 49,1
>> Metalurgia: 43,6
>> Outros equipamentos de transporte: 42,4
>> Veículos automotores: 33,8
>> Têxteis: 30,0
>> Derivados de petróleo e biocombustíveis: 28,4
>> Impressão e reprodução: 24,7
>> Máquinas e materiais elétricos: 23,7
>> Máquinas e equipamentos: 22,9
Fonte: CNI
*dados referentes a 2014
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