Campeã do desemprego, Ipojuca sofre 'avalanche'
Com 28 mil demissões nos últimos 12 meses, Ipojuca, na região metropolitana do Recife, sofre com o desaquecimento do complexo industrial na região.
Desde 2008, o polo atraiu milhares de trabalhadores para obras da Refinaria Abreu e Lima e da Petroquímica Suape, ambas da Petrobras, e do estaleiro Atlântico Sul, que constrói plataformas para a petroleira.
No ano passado, contudo, empresas que dependiam da estatal começaram as demissões, um dos reflexos do início das investigações de corrução na Petrobras.
O Sintepav (sindicato que representa trabalhadores da construção pesada) afirma que o número de funcionários da categoria na refinaria e na petroquímica passou de 60 mil, em 2011, para 800.
"A crise da Petrobras foi uma avalanche para a economia de Ipojuca. A gente movia a economia de Pernambuco, e hoje está tudo parado", diz o tesoureiro do sindicato, Leodelson Bastos.
No auge das obras do polo industrial, a Agência do Trabalho de Ipojuca registrava mais de cem vagas abertas por dia, segundo o coordenador Lucas Penteado. Na quarta-feira passada (28), eram cinco vagas —nenhuma na área de construção civil.
Parte dos trabalhadores demitidos seguiu em busca de novas obras, como a transposição do São Francisco e a ferrovia Transnordestina, e parte voltou para seus Estados de origem, como Bahia e Sergipe. Muitos continuam em Ipojuca, mesmo desempregados, na esperança de as obras serem retomadas.
REFLEXOS
O cenário na cidade hoje é o oposto de cinco anos atrás, que estimulava empresários a investir.
Em 2010, a Pousada da Branca, principal hospedaria da cidade, estava sempre lotada. Os proprietários Anilton Alves, 62, e Josefa Bezerra, 72, decidiram ampliar o número de quartos de 22 para 58.
"O povo ficava esperando vaga, ligava para saber se já tinha desocupado. Agora está tudo vazio", diz Bezerra. O casal calcula que, desde novembro de 2014, o movimento tenha caído 60%. Dispensaram 8 dos 12 funcionários.
O reflexo do desemprego também é sentido no comércio. Lojas fecharam, e placas de venda e aluguel são vistas por todos os lados.
O comerciante Salmir Soares, 36, só conseguiu manter sua loja de roupas porque negociou redução de 50% no valor do aluguel e demitiu dois dos quatro funcionários.
"Outros comerciantes também conseguiram baixar o aluguel. Os donos aceitam porque, se deixar fechado, dá prejuízo: é condomínio e IPTU para pagar", avalia.
Ivan da Silva foi um dos donos de imóveis que aceitaram reduzir o preço dos aluguéis. Mesmo com o corte de 30% no valor cobrado por oito salas comerciais, seis delas estão desocupadas há quase um ano.
A violência também cresceu. Os crimes contra o patrimônio, como roubo e extorsão mediante sequestro, saltaram de 50, em outubro de 2014, para 98, em setembro deste ano, segundo o governo de Pernambuco.
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