Ações do BTG Pactual caem e pressão sob banco persiste, apesar de ajuda
Nem a linha de crédito de R$ 6 bilhões liberada pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) conseguiu aliviar completamente a pressão sobre o BTG Pactual, que mergulhou numa crise de confiança com a prisão do banqueiro André Esteves, afastado do controle da instituição nesta semana.
O bônus de dez anos, o mais procurado por investidores estrangeiros, reagiu nesta sexta (4) e passou a ser negociado com 46% de desconto. Um dia antes, o desconto foi de 63%.
No Brasil, no entanto, os papéis do banco na Bolsa caíram 3,86% e agora acumulam uma desvalorização de 37% desde o último dia 25, quando Esteves foi preso pela Operação Lava Jato.
No fim do dia a agência de classificação de risco Fitch rebaixou o BTG, que perdeu o grau de investimento (selo de bom pagador). A agência afirmou ter agido em razão da "deterioração na posição de liquidez do banco e de sua franquia de funding".
Mas a Fitch também diz que acompanha e aprova as medidas para enfrentar a crise tomadas pelo BTG, que incluíram o afastamento de Esteves e a venda de patrimônio para fazer frente à onda de saques iniciada quando o ex-controlador foi preso.
Standard & Poor's e Moody's já haviam rebaixado o BTG nesta semana.
Desempenho das ações das companhias <br>que têm participação do BTG - Em %
CHEQUE ESPECIAL
A operação acertada com o FGC é uma espécie de cheque especial que o banco poderá usar quando não tiver dinheiro suficiente para honrar seus compromissos. O BTG deu como garantia suas carteiras de empréstimos e o patrimônio pessoal dos sete sócios que assumiram o controle na quarta-feira.
Profissionais envolvidos na operação disseram à Folha que o objetivo foi permitir que o BTG tenha mais tempo para vender seus ativos e não precise negociar com a "faca no pescoço".
Nesta semana o banco vendeu sua participação na Rede D'Or, maior grupo de hospitais privados do país, por R$ 2,38 bilhões, e uma carteira de empréstimos para o Bradesco, por R$ 1,15 bilhão.
Ainda negocia outros lotes de créditos com Itaú, Banco do Brasil e Caixa, colocou à venda o banco suíço BSI, cuja compra foi concluída há menos de três meses, e tenta se desfazer de participações em empresas não financeiras como a rede de estacionamentos Estapar.
Ricardo Moraes - 2.dez.2015/Reuters | ||
Entrada do hospital Rios D'Or, da Rede D'Or, no Rio |
INVESTIGAÇÃO
O BTG informou que pretende anunciar até segunda a contratação de um escritório de advocacia internacional para fazer investigação interna sobre negócios feitos por Esteves no banco, para verificar se existe algo que possa arrastar a instituição para a Operação Lava Jato.
A contratação de um escritório especializado, que vai trabalhar vinculado a um comitê com membros independentes, foi uma das exigências feitas pelo FGC para aprovar a linha de crédito de R$ 6 bilhões.
SANGRIA MENOR - Clientes reduzem ritmo de resgate de fundos BTG
Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o esforço dos sócios que assumiram o controle do BTG no lugar de Esteves está na direção correta. "Acho que a gente não tem que ter receio nenhum em relação a esse episódio, que obviamente tem seu aspecto menos agradável, porque é um grande banco, mas que tudo está sendo feito como tem que ser feito", disse.
Segundo Levy, o sistema financeiro é sólido, a supervisão do Banco Central é "presente" e não há risco de que a crise do BTG se espalhe por outros bancos.
Colaborou TÁSSIA KASTNER, de São Paulo
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