Mercado prevê juros maiores para a compra da casa própria
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas | ||
Os saques da poupança e a alta no mercado de juros vão encarecer o financiamento de imóveis |
Os saques da poupança, fonte de recursos para o financiamento imobiliário, e a alta no mercado de juros futuros devem elevar as taxas cobradas nos empréstimos para a aquisição de imóveis.
A avaliação é de Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip (Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). "A curva de juros está pressionada e isso pode configurar alta nas taxas do crédito imobiliário ao longo do ano", disse Abreu, que também é diretor da área no banco Santander.
Segundo ele, o alto grau de incertezas econômicas e políticas podem estar adiando as mudanças. "Mas acho muito difícil que as taxas caiam ao consumidor em 2016."
Financiamento para aquisição e construção de imóveis - Em R$ bilhões
Além da instabilidade macroeconômica, que resulta em previsão de taxas de juros mais altas no futuro, os constantes regastes da poupança, que somaram R$ 50 bilhões em 2015, complicam a situação do crédito imobiliário.
Pela primeira vez, o saldo de recursos na poupança, de R$ 509 bilhões em 2015, atingiu 65% do crédito que utiliza a caderneta como funding. Esse percentual é o máximo que os bancos podem destinar ao crédito imobiliário.
Diante da expectativa de que os resgates da poupança continuem, ainda que em menor ritmo, o setor deverá buscar outras fontes de financiamento, como o mercado de capitais. O problema é que as taxas desse tipo de operação são mais caras.
NOVA QUEDA
A Abecip estima uma queda de 20,6% na concessão de crédito para compra e construção de imóveis neste ano, para R$ 60 bilhões, após forte retração de 33% em 2015.
Além das dificuldades para ofertar crédito, a demanda vai continuar retraída, influenciada pela alta inflação, desemprego, queda na renda e baixo nível de confiança.
Número de imóveis financiados - Em mil unidades
Quanto às exigências para a liberação do crédito, a Abecip não acredita que os bancos vão ficar ainda mais exigentes para liberar o crédito. Para a associação, o ajuste mais significativo já ocorreu.
No ano passado, o número total de imóveis financiados caiu 6%, para 945 mil unidades. Mas o resultado é altamente influenciado pelo desempenho da habitação popular. Impulsionado pelo programa Minha Casa, Minha Vida, o número de imóveis financiados com recursos do FGTS subiu 30%. Já os imóveis financiados com recursos da poupança caíram 37%.
Nessa modalidade, o empréstimo para a compra de usados sofreu mais que os destinados aos novos. Enquanto o crédito para a compra de usados caiu pela metade, o financiamento de imóveis novos recuou 10%.
"No caso dos imóveis novos, a decisão de compra é antiga. Para comprar um usado, o consumidor está postergando a decisão", diz Abreu.
A crise também elevou a taxa de inadimplência no setor. Os contratos com mais de três prestações em atraso atingiram 1,9% do total em 2015, ante 1,4% no ano anterior.
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