Editora do 'Daily Mirror' lança jornal impresso neste mês no Reino Unido
David Bebber/Reuters | ||
Homem lê o jornal britânico "Daily Mirror" |
A Trinity Mirror, editora de jornais britânica, embarcará, na semana que vem, em uma audaciosa tentativa de atrair de volta à página impressa os leitores digitais.
Com o lançamento do "New Day", o primeiro jornal nacional independente a surgir no Reino Unido em três décadas, a companhia desafia a decadência que o setor vem enfrentando nos últimos anos.
Simon Fox, presidente-executivo da Trinity Mirror, disse que, embora mais de um milhão de pessoas tenham deixado de comprar jornais em papel nos dois últimos anos, "bom número delas pode ser tentado a retornar, com o produto certo".
"Revitalizar a mídia impressa é parte central de nossa estratégia, em paralelo com a transformação digital, e não é preciso haver escolha entre as duas formas –os jornais podem viver na era digital se forem projetados para oferecer algo de diferente", ele disse.
O novo jornal, que circulará nos dias de semana, será impresso em papel de alta qualidade e cobrirá as notícias "com tom e estilo moderno, direcionado a uma ampla audiência de mulheres e homens que desejam algo diferente do que está disponível atualmente". O jornal custará 50 pence (R$ 2,9).
O lançamento é significativo, porque muitas companhias de jornais estão abandonando a mídia impressa e concentrando suas atenções no crescimento digital. O "Independent anunciou neste mês que seu jornal diário e dominical deixará de circular, e optou por se concentrar em seu site.
A Trinity Mirror também vem sofrendo quedas de circulação em seus jornais regionais e no "Daily Mirror", o tabloide que é seu principal título.
OTIMISTA E POSITIVO
A companhia enfatizou que o "New Day" não seria uma publicação irmã ou uma versão mais leve do "Daily Mirror". O novo jornal, segundo a empresa, reportará com "uma abordagem otimista e positiva, e será neutro politicamente".
Fox disse que pesquisas conduzidas pela companhia haviam constatado que muita gente rejeita "as inclinações políticas fortes" dos jornais britânicos. O "Daily Mirror", por exemplo, adota postura fortemente favorável ao Partido Trabalhista.
Mas Fox disse que o lançamento do "New Day" pouco afetaria o "Daily Mirror", já que o novo produto é direcionado a uma audiência diferente.
O "New Day" custará 10 pence a menos que o "Daily Mirror", e se tornará o segundo mais barato entre os jornais nacionais do Reino Unido, atrás do "i", que custa 40 pence (R$ 2,3) –ainda que o "London Evening Standard" e o "Metro" sejam distribuídos gratuitamente.
O "i" foi adquirido neste mês pelos empreendedores russos Alexander e Evgeny Lebedev, que pagaram 24 milhões de libras à Johnston Press pelo jornal.
Colin Morrison, consultor de mídia e antigo executivo do setor de jornais, alertou que o baixo preço do novo título poderia ser "estruturalmente prejudicial" a todo o setor de jornais do Reino Unido.
"Existe a preocupação de que o lançamento possa causar uma guerra de preços e acelerar a tendência de decadência de Fleet Street [a rua que costumava abrigar as sedes dos principais jornais londrinos]", ele disse.
CIRCULAÇÃO
Ao longo dos 10 últimos anos, as companhias jornalísticas britânicas, entre as quais GMG, News UK e DMGT, sofreram grandes quedas de circulação em suas edições em papel, com a fuga dos leitores para a Internet.
Os jornais britânicos agora vendem cerca de sete milhões de cópias ao dia, ante 13 milhões 10 anos atrás.
Enquanto isso, os anunciantes transferiram o dinheiro que costumavam dedicar à mídia impressa, acompanhando os leitores na migração para as mídias digitais. O investimento publicitário em jornais nacionais caiu em um terço de 2010 para cá, para 880 milhões de libras ao ano.
A Trinity Mirror não revelou quanto custaria lançar o novo jornal, que terá equipe de 20 a 30 jornalistas.
"Se você estivesse começando uma empreitada como essa sem os recursos de uma grande editora, a operação seria cara", disse Fox, explicando que o novo título usaria a infraestrutura gráfica e de distribuição já existente da Trinity Mirror.
"Não estamos apostando tudo que temos nisso", completou.
Ian Whittaker, analista da Liberum, disse que o "New Day" parecia direcionado aos leitores do "Metro", o jornal diário distribuído gratuitamente aos passageiros do transporte coletivo. "A questão será determinar se as audiências jovens estarão dispostas a mudar de hábito e comprar um jornal, em lugar de recebê-lo gratuitamente", ele disse.
Morrison estimou que o "New Day" propiciará lucro se conseguir atingir circulação de cerca de 300 mil exemplares.
Mas ele disse que convencer as pessoas a pagar por um jornal seria um desafio –e a Trinity Mirror poderá, no futuro, se sentir tentada a fazer do "New Day" um jornal gratuito.
Afinal, ele diz, dois dos jornais de maior sucesso financeiro no Reino Unido, nos últimos anos, são o "Metro" e o "Evening Standard".
Por enquanto, a Trinity Mirror, cujas ações subiram em 3,35%, para 146,75 pence, na segunda-feira (22), tem por foco ampliar a circulação paga do novo título, antes de sua receita publicitária.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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