França lidera rebelião europeia contra negociações com o Mercosul
Stephane de Sakutin/Reuters | ||
Presidente francês, François Hollande, em entrevista no palácio presidencial do Eliseu em março de 2016 |
Quase metade dos países da União Europeia se ergueram em revolta aberta contra os planos da Comissão Europeia para retomar um acordo de comércio internacional com o bloco latino-americano Mercosul, cujas negociações estão paralisadas há muito tempo, a partir da próxima semana.
Bruxelas vem enfrentando dificuldades para garantir um acordo comercial com o Mercosul desde 1999, e deseja recomeçar do zero, com uma troca de ofertas sobre acesso a mercados até a metade de maio.
A França, porém, está liderando uma rebelião de 13 países, que se queixam de que Bruxelas está se precipitando ao oferecer cotas e outras concessões tarifárias sem calcular o efeito que as exportações das potências agrícolas sul-americanas teriam sobre os agricultores da União Europeia. Irlanda e Polônia são dois dos aliados mais ruidosos da França no apelo por adiar a retomada.
O Mercosul, que une Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, está entre os dez maiores parceiros comerciais da União Europeia, adiante de países como a Coreia do Sul e a Índia. Os dois blocos comerciaram produtos e serviços em valor de € 93 bilhões no ano passado, com o comércio entre Europa e Brasil respondendo pela maior parte do valor. O Mercosul é um dos maiores produtores de carne bovina e etanol.
"Taticamente, não interessa à União Europeia fazer, nesse estágio, propostas que correspondam aos principais interesses ofensivos de nossos parceiros", escreveram diversos países da União Europeia, entre os quais a França, em uma nota estratégica sobre a oferta iminente.
Paris vem criticando cada vez mais vigorosamente a agenda comercial da União Europeia —citando especialmente a ameaça aos agricultores e a exportações cruciais do país, como a champanhe. O presidente francês François Hollande esta semana divulgou um alerta duro sobre as históricas negociações comerciais em curso entre a União Europeia e os Estados Unidos, insistindo em que "a esta altura, a França diz não".
A Espanha, que desfruta de conexões estreitas na América Latina, é um dos principais proponentes do acordo, e vem acompanhando com preocupação a crescente oposição. "A Espanha considera que seria um grande erro da parte da França tentar impedir a troca de ofertas", disse Jaime García-Legaz, o secretário de comércio internacional do governo espanhol.
Na semana passada, o ministro do Exterior espanhol, José Manuel García-Margallo, disse que "a posição espanhola não coincide com a francesa. Consideramos que abrir negociações com o Mercosul é extraordinariamente urgente e que assim que as negociações começarem, será possível resolver as questões apontadas pela França".
Federica Mogherini, a comissária de política externa da União Europeia, também é forte defensora de um relacionamento comercial mais profundo com o Mercosul, o que ela destacou em uma visita à Argentina em março.
A comissão diz que está levando em conta as objeções dos ministros da Agricultura, mas ainda antecipa que a troca de ofertas aconteça como previsto na semana que vem. Os dirigentes do organismo argumentam que a agricultura é apenas um aspecto do relacionamento com o Mercosul, e que a União Europeia é grande exportadora de maquinaria e produtos farmacêuticos à região. Companhias europeias pagam cerca de quatro bilhões de euros em tarifas ao ano por suas exportações ao Mercosul.
A União Europeia tem superávit no comércio industrial com o Mercosul, exportando € 47 bilhões em bens e importando € 23 bilhões. Mas na agricultura a distância é imensa. O Mercosul exporta € 23 bilhões de produtos agrícolas à UE e importa apenas dois bilhões de euros.
Os países que se opõem à troca de ofertas argumentam que a União Europeia não conduziu uma avaliação completa de impacto a fim de determinar o efeito cumulativo dos acordos comerciais que estão por ser assinados com outras potências agrícolas como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Também argumentam que existe perigo de danos ambientais crescentes, com as fazendas europeias em risco de serem substituídas pelas imensas propriedades rurais latino-americanas, que podem recorrer a desmatamento a fim de elevar sua produtividade.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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