Espera por concessões e demanda em queda travam escolha de hub da Latam
A decisão sobre qual será o novo hub da Latam no Nordeste está congelada até que haja definição sobre a concessão de novos aeroportos, entre os quais Fortaleza, que disputa com Recife e Natal a possibilidade de sediar um novo centro de distribuição de voos da empresa.
Não só: a queda na demanda, reflexo da crise econômica, também contribuiu para a definição estar em "compasso de espera", disse nesta quinta-feira (2) Claudia Sender, presidente da Latam no Brasil, marca resultado da união da chilena LAN com a TAM.
"Vai depender da infraestrutura e da demanda. É um projeto estratégico para a empresa, mas precisa ter garantia de infraestrutura, de qual será o modelo de concessão e uma visão melhor da demanda, que hoje está bem deprimida." Em abril, houve retração de 12,2%, o nono mês consecutivo de queda na demanda, o que colocou a aviação brasileira aos mesmos níveis de 2012.
Claudia está em Dublin para a conferência anual da Iata, entidade que reúne 264 empresas aéreas no mundo. O evento termina na sexta (3). O plano inicial da empresa era anunciar o hub no ano passado; depois, foi adiado para o primeiro semestre deste ano, o que agora virou incógnita. "Vai depender dessas variáveis. Hoje não tenho muita clareza. Está em compasso de espera."
Os editais de concessão dos aeroportos de Fortaleza, Porto Alegre, Florianópolis e Salvador foi lançado em 6 de maio, em audiência pública. O leilão está previsto para o segundo semestre.
O hub doméstico e internacional da Latam, segundo estudo encomendado pela empresa, aponta ganhos anuais ao PIB (Produto Interno Bruto) local de US$ 520 milhões em Fortaleza, de US$ 512 milhões em Recife e de US$ 374 milhões em Natal. Esses valores representam incremento de 5% a 7% no PIB anual em cada cidade. A soma inclui impactos diretos e indiretos, entre outros. Serão 35,5 mil empregos a mais em Fortaleza, 29 mil em Recife e 24,1 mil em Natal, de acordo com o mesmo estudo.
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Claudia Sender no lançamento da marca LATAM, fusão das empresas aéreas LAN e TAM |
'TENDÊNCIA TRISTE'
Claudia acompanhou a divulgação de resultados mundiais da Iata, que preveem lucro de US$ 39,4 bilhões para as empresas aéreas 2016. O resultado é 11% maior que os US$ 35,3 bilhões obtidos em 2015. Enquanto isso, as quatro maiores companhias brasileiras (Latam, Gol, Azul e Avianca) tiveram perdas em 2015 que, somadas, superam R$ 7 bilhões, disse.
"É uma tendência triste a gente ir na contramão do mundo. Isso tem a ver com a preço do combustível, entre os mais altos do mundo, leis trabalhistas engessadas e uma das únicas legislações do mundo em que a empresa aérea é responsável pelos 'atos de Deus'", diz, em referência à resolução 141 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que obriga as companhias aéreas a prestar assistência para o passageiro se, por exemplo, um aeroporto fecha por razões climáticas –diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, maior mercado mundial.
Sobre a saída da crise econômica brasileira, a presidente da Latam diz olhar a situação com "prognóstico conservador". "O cenário é pior do que se imaginava. O deficit primário é pior do que o originalmente encontrado, a dívida dos Estados está complicada. Tenho dificuldade em entender qual o impacto à economia das medidas amargas que terão que ser tomadas nos próximos seis meses", afirmou. "Não se passa do deficit para o superávit de uma hora para a outra."
Claudia defende ainda sobre a uma das principais bandeiras do setor, a redução do ICMS sobre o querosene de aviação, hoje de 25% em boa parte do país. Um projeto de resolução do Senado, do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos, prevê alíquota máxima de 12%. A votação na comissão deve ocorrer nas próximas duas semanas. Questionada se isso não iria contrariar os Estados, a executiva argumentou: "É muito difícil para os Estados falar em renúncia fiscal. A receita do ICMS sobre o combustível não é o mais relevante para eles. Isso aumentará o acesso, gerará mais riqueza, mais negócios. Fizemos estudo recentemente que mostra o poder multiplicador de cada real que você investe na aviação."
OLIMPÍADA
Também consequência do mau momento da economia, Claudia Sender disse que a venda de pacotes de hospitalidade pela Latam estão de 30% a 40% abaixo da meta prevista pela empresa. São pacotes com passagem aérea, hospedagem e ingressos para modalidades dos Jogos Olímpicos. "A demanda está bastante abaixo do que planejávamos. Esperamos que, como todos os brasileiros deixam as coisas para a última hora, haja uma retomada no último momento."
O jornalista viajou a convite da Iata
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