Apostas na recuperação da Bolsa e na queda dos juros dão impulso a fundos
Alex Almeida - 5.out.2008/Folhapress | ||
Descolado de exterior em vários pregões, Ibovespa e real voltaram a convergir a indicadores emergentes |
Fundos de investimento que apostaram na queda de juros no futuro e na recuperação do mercado de ações ofereceram ganhos maiores aos investidores no primeiro semestre deste ano, de acordo com estudo da Comdinheiro, empresa especializada na análise de investimentos.
Na outra ponta, a desvalorização de quase 20% sofrida pelo dólar em relação ao real desde o início do ano provocou perdas para os fundos cambiais, mostra o levantamento, que comparou os rendimentos obtidos por 848 fundos de investimento.
Após tropeçar com a recessão, a indústria de fundos esboçou recuperação nos primeiros seis meses do ano. A captação líquida, descontados os resgates, alcançou
R$ 38 bilhões no período, 30% mais do que o registrado no primeiro semestre de 2015.
"Estamos mostrando uma reversão", diz Carlos Ambrósio, vice-presidente da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). "Há mais claridade no cenário político, o que teve impacto positivo na economia e na confiança e teve reflexo na Bolsa e na taxa de juros."
De cada dez fundos pesquisados, nove tiveram rendimento melhor do que a poupança, a aplicação mais conservadora do mercado, que teve rentabilidade de 4% no semestre. A grande maioria também conseguiu bater a inflação do período, de 4,42%.
METAS
Um de cada três fundos conseguiu superar sua meta no semestre. O resultado é parecido com o alcançado pela indústria em 2015 e melhor que o de 2014, quando um em cada quatro bateram seu indicador de referência.
"Há dois anos havia eleições e os investidores não sabiam o que ia acontecer", diz Rafael Paschoarelli, professor de finanças da USP e um dos autores do estudo da Comdinheiro. "Agora eles estão mais seguros, otimistas com a possibilidade de [o presidente interino, Michel] Temer adotar medidas pró-mercado."
Entre fundos multimercado, que podem aplicar em diferentes títulos e ganhar com juros, moedas e ações, 49% superaram o CDI, a taxa de juros de empréstimos entre bancos que serve de referência para o mercado. Entre os fundos de ações, que lideraram os ganhos no levantamento, a meta foi batida por um de cada três. Entre os de renda fixa, 30% superaram o CDI.
Fundos de investimento - Bolsa e inflação impulsionam rentabilidade no semestre
A Comdinheiro analisou fundos oferecidos por bancos comerciais e que exigem aplicação inicial mínima de até R$ 100 mil, com pelo menos cem cotistas e mais de R$ 5 milhões de patrimônio no fim de junho. Foram excluídos fundos exclusivos e voltados para grandes investidores.
PERSPECTIVAS
O desempenho dos fundos no restante do ano dependerá da capacidade do governo de aprovar as medidas que propôs para reduzir o deficit fiscal. Analistas acreditam que o governo conseguirá avançar após a conclusão do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, no fim de agosto.
A perspectiva de queda nas taxas de juros no Brasil, prevista pela maioria dos analistas para começar no fim do ano, deverá afetar o rendimento dos fundos multimercados e de renda fixa. No caso dos fundos de ações, eles poderão ser beneficiados pela recuperação da economia.
"A gente é especialmente otimista com ações de empresas de pequena e média capitalização, mais expostas à dinâmica do mercado interno do que as companhias maiores", diz Cassiano Ciampone, sócio da gestora AZQuest.
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