Crítica
Britânicos tentam reverter a maldição dos 100 anos de vida
Mario Laporta/AFP | ||
Antonio Vassallo, 100, e sua mulher, Amina Fedollo, 93, em sua casa em Acciaroli, no sul da Itália |
Uma certeza e uma dúvida assombram quem tem menos de 50 anos e vive de trabalho.
A certeza é que foi-se a época de se formar aos 20, fazer carreira e se aposentar aos 60.
A dúvida é que trabalho vai existir nos muitos anos que faltam antes de conseguirmos garantir a velhice tranquila.
Robôs e computadores vão substituir quais funções? A economia colaborativa acabará com empregos formais? Qual o impacto da tecnologia nos negócios e nas profissões?
E, se teremos que trabalhar até mais tarde, que tipo de saúde e vida social nos restará quando finalmente conseguirmos a aposentadoria?
O fato de que a vida humana durará 100 anos é, afinal, bênção ou maldição?
BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO?
Essa é a linha central de "The 100-Year Life" ("A Vida de 100 Anos", lançado em junho e ainda sem tradução para o português), escrito por Andrew Scott e Lynda Gratton, professores da London Business School.
A mensagem é que ainda há tempo para criar um plano B. Como exemplo, traçam cenários para três personagens arquetípicos, Jack, que nasceu em 1945, Jimmy, nascido em 1971, e Jane, de 1998.
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress | ||
Jack formou seu patrimônio durante 40 anos, aposentou-se aos 62 e morreu aos 70.
No seu tempo, fazia-se carreira numa só empresa, e a fidelidade era recompensada com previdência corporativa.
Ele pôde contar com uma Previdência sustentada pela força de trabalho jovem e bem mais ampla que a parcela de idosos. Precisou poupar só 4% do salário para complementar a aposentadoria.
HORA DE VIRAR A MESA
Quando Jimmy chegou ao mercado de trabalho, porém, estabilidade deixara de ter valor. Com ela, minguaram os incentivos corporativos. A população envelheceu, e governos do mundo todo endureceram a
aposentadoria.
Aos 45 anos e com expectativa de viver até os 85, Jimmy se dá conta de que, para se aposentar aos 62, como Jack, precisaria ter poupado mais de 17% do que ganha.
Com a economia instável e mudanças tecnológicas aceleradas, precisa dar uma guinada se quiser ter habilidades e saúde para os 25 anos de trabalho que ainda faltam.
Scott e Gratton fazem simulações para mostrar que Jimmy não precisa necessariamente ter um final de vida melancólico, se tomar a iniciativa de se "reinventar" já.
jane na era dos robôs
Já o que pode acontecer a Jane, que nem saiu da faculdade, depende muito das premissas dos autores para o futuro. Uma delas é que profissões baseadas em criatividade são as mais propensas a
sobreviver na era dos robôs.
Por isso, e porque Jane viverá até os 100, ela não entrará direto no mercado de trabalho, como Jack e Jimmy.
Jane precisará de conexões sociais, flexibilidade e senso empreendedor. Passará ao menos dez anos viajando, fará trabalhos avulsos e parcerias, inventará novos serviços e modelos de negócios.
Durante cerca de 60 anos, experimentará várias fórmulas: emprego formal, empresa própria, terceiro setor, consultoria, pausas para estudar o a mistura de todas elas.
Demorará muito mais para acumular patrimônio e precisará cuidar melhor da saúde física, mental e social para aproveitar das décadas de vida que terá a mais.
DESIGUALDADE à VISTA
O livro acende alertas para pessoas físicas e para empresas, mas o recado mais importante –e pouco explorado– visa os formuladores de políticas públicas.
Se tudo se passar como os
autores imaginam, a desigualdade aumentará muito nas próximas décadas.
Boa parte do trabalho braçal e parcela relevante do intelectual serão exercidas por máquinas. Diferenças de acesso a educação e capital social terão efeito cada vez maior nas oportunidades de emprego e
na renda.
Famílias mais pobres não conseguirão poupar uma reserva para a velhice e devem empobrecer ainda mais com aposentadorias minguantes.
Sem saúde preventiva e bons tratamentos, terão ainda mais dificuldade para se manter ativos nas décadas de trabalho que a longitude da vida tornará obrigatórias.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 17/04/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,17% | 124.171 | (17h36) |
Dolar Com. | -0,48% | R$ 5,2424 | (16h59) |
Euro | -0,17% | R$ 5,5853 | (17h31) |