Crítica
Livro mostra como Petrobras serviu a interesse de governos
"Petrobras, uma história de orgulho e vergonha", da jornalista Roberta Paduan, se propõe a contar como o aparelhamento político promovido pelas gestões petistas levou a maior estatal brasileira à quase bancarrota.
A história é baseada na organização de informações publicadas na imprensa, das delações premiadas da Operação Lava Jato e de extensa apuração da própria jornalista, que traz bons bastidores da
história da empresa.
A maior lição do livro, porém, parece ser não a constatação de que o PT implantou um esquema extremamente organizado de corrupção na companhia, mas a luz que lança sobre a dificuldade histórica para
manter a estatal imune à sanha dos governantes de plantão.
O livro cobre, com maior ou menor intensidade, a evolução da empresa desde sua criação nos anos 1950 até o fim do governo Dilma, quando a Petrobras passou a enfrentar descrença internacional depois
que o esquema de corrupção foi trazido à tona.
Embora o foco principal esteja na gestão petista –e parece não haver dúvidas de que foi o maior e mais danoso exemplo de aparelhamento político da estatal–, o livro mostra que não foram raros os
momentos em que a empresa foi prejudicada ao atender aos interesses do acionista controlador.
SIMILARIDADES
Uma delas chama atenção pelas similaridades com o momento atual.
Ao assumir o comando da Petrobras, em 1999, Henri Philippe Reichstul recebeu do então presidente Fernando Henrique Cardoso a missão de preparar a estatal para concorrer com petroleiras estrangeiras
após o fim do monopólio do setor de petróleo.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Reichstul pegou a Petrobras debilitada por anos de controle dos preços dos combustíveis e com fortes suspeitas de favorecimento a um fornecedor, a Marítima, em licitações para a construção de
plataformas.
Sua estratégia passava por um choque de gestão, com lançamento de ações em Nova York e venda de ativos de refino com o objetivo de reduzir os riscos de novas ingerências políticas, além da promessa
de liberdade dos preços dos combustíveis.
Difícil não comparar com a chegada de Pedro Parente, em julho de 2016 –já fora do período coberto pelo livro.
Nos dois casos, a ênfase em rentabilidade, governança e blindagem a nomeações políticas foi apresentada como remédio para a crise financeira e ética da empresa.
INTERESSES POLÍTICOS
No fim de seu mandato, porém, FHC acabou recorrendo à estatal para resolver dificuldades políticas e econômicas do governo.
Reichstul foi obrigado a eng
olir a nomeação do hoje senador cassado Delcídio do Amaral por indicação do PMDB e a mergulhar fundo em um programa de construção de térmicas a qualquer custo, para tentar livrar o país do iminente
apagão.
Hoje, sabe-se que o programa de térmicas imposto a Reichstul acabou gerando um esquema de propinas a executivos da companhia, em mais um sinal de que a sobreposição de interesses políticos aos
empresariais é quase sempre prejudicial à estatal.
Responsável pela compra das térmicas, Delcídio chegou a ser preso pela Polícia Federal, acusado de bolar um plano para tirar da cadeia o ex-diretor Nestor Cerveró, seu subordinado quando esteve na
Petrobras.
Petrobras: Uma História De Orgulho E Vergonha |
Roberta Paduan Alvares |
Comprar |
Nesta semana, a compra das usinas se tornou alvo de investigações pela Operação Lava Jato.
Em uma das histórias contadas por Paduan, o ex-presidente da Petrobras Benedicto Moreira, ao ser demitido por Itamar Franco por defender aumento dos preços dos combustíveis, resumiu: "Muitos dos
problemas que a Petrobras enfrenta são gerados pelo seu dono".
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