Livro ensina macroeconomia com tiradas bem-humoradas
Sérgio Lima - 1º.jul.1994/Folhapress | ||
O então ministro Rubens Ricupero e o presidente Itamar Franco mostram notas de real em 1994 |
Uma conversa bem-humorada e instrutiva sobre economia. É com esse formato que Tim Harford, colunista do jornal britânico "Financial Times", aborda o leitor de seu novo livro –"O Economista Clandestino
Ataca Novamente"–, que é tratado como uma espécie de interlocutor imaginário.
O texto começa um pouco pesado ao tentar explicar como o Nobel de Economia William Phillips contribuiu de forma decisiva para a compreensão da economia moderna ao inventar o Moniac, uma espécie
de computador hidráulico que conseguia agregar vários modelos até então só reproduzíveis em quadros-negros ou papel, no fim da década de 1940.
Tropeços de edição, com frases mal construídas, contribuem para a falta de fluidez no início da obra. É o caso de sentenças como: "Ela não é tão severa quanto a Grande Depressão, nem (ainda) tão
duradoura, mas não é comparar os dois acontecimentos".
Mas, de repente, o livro engata, fica leve e interessante, principalmente para o leigo que quer aprender mais sobre economia.
Em suas obras anteriores ("O Economista Clandestino" e "A Lógica da Vida"), o jornalista inglês, com uma pegada semelhante, abordou questões econômicas que afetam o dia a dia das pessoas e das
empresas, a chamada microeconomia.
No novo livro, Harford trata da economia por uma ótica "macro", que tenta mostrar como funciona o todo, e não apenas suas partes. De forma didática, ele explica questões como o que gera aumento de
preços e por que algum nível de inflação é importante para o funcionamento saudável da economia.
Com exemplos e casos interessantes, vai transformando os conceitos de livro-texto de macroeconomia em linguagem acessível para qualquer leitor.
Ao falar sobre a importância de que os bancos centrais sejam convincentes em relação às suas metas de inflação, ele cita o exemplo do "pai de coração mole" que avisa ao filho que ele ficará sem jantar se
continuar se comportando mal na rua, mas nunca cumpre a ameaça, o que leva a criança a reincidir na travessura.
É uma forma simples e divertida de explicar o conceito e o funcionamento das expectativas de inflação e o custo de não administrá-las bem.
BRASIL
Ainda sobre o mesmo assunto, Harford usa o caso do Brasil para mencionar um exemplo bem-sucedido de plano (o Real) para controlar uma hiperinflação.
Embora, como nos outros casos, consiga explicar a complexidade do Real de forma bastante didática, Harford tropeça nos detalhes da história ao dizer que os pais do plano "relutavam em entrar para a
política". André Lara Resende, Pérsio Arida e Edmar Bacha integraram o governo Sarney, anteriormente, quando foi elaborado o Plano Cruzado. Relutavam, portanto, em voltar a participar da política.
Isso até pode levar o leitor brasileiro a questionar a possível confiabilidade das informações de outros casos contados, mas não compromete o objetivo do livro de levar os conceitos de economia ao público
não especializado.
O Economista Clandestino Ataca Novamente! |
Tim Harford |
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Outro ponto positivo da obra é ensinar um pouco sobre as principais correntes econômicas e, ao fazer isso, deixar claro como nenhuma delas detém verdade absoluta sobre a disciplina.
Harford mostra como algumas recessões são provocadas por falta de demanda por parte dos consumidores e como outras são geradas por choques externos que afetam a capacidade das empresas de
ofertar bens e serviços.
Fala ainda de mudanças estruturais –como avanços tecnológicos que alteram o perfil do trabalhador demandado pelo mercado– que podem afetar o funcionamento da economia.
Embora não trate de Brasil
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