Crédito caro e sinais de retomada fazem empresas buscarem a Bolsa
Daniel Marenco - 4.ago.2011/Folhapress | ||
Empresas brasileiras aceleram planos de lançar ações na Bolsa |
Com crédito caro na praça e a melhora nas expectativas em relação à economia, as empresas brasileiras aceleram planos de lançar ações.
Executivos de banco e advogados ouvidos pela Folha esperam que os próximos meses sejam de atividade intensa na Bovespa, com dez a 20 novas ofertas anunciadas.
Empresas diversas como a de saneamento Sanepar, a incorporadora Tenda e a varejista Carrefour têm intenção de abrir capital. Como elas, outras dezenas analisam a saída. A produtora de alimentos JBS, por exemplo, não descarta emitir ações da Seara.
"Há uma retomada clara das intenções. É uma janela que se abriu", diz André Rosenblit, diretor de mercado de capitais do Santander.
O banco estima que, em 12 meses, as ofertas de ações somarão ao menos R$ 20 bilhões –valor próximo ao de 2013, quando houve 18 operações (ver quadro nesta página).
Até pouco tempo, tal movimentação era impensável. Com os sinais de recessão, a Bovespa tornou-se um marasmo. Em 2014, só duas companhias se aventuraram a lançar ações. Em 2015, seis.
NÚMERO DE OFERTAS - Ofertas primárias e follow-ons; inclui esforços restritos de colocação
Os números deste ano ainda são tímidos –oito até agora–, mas o movimento nos escritórios de advocacia e nos bancos indicam que o cenário deve mudar em breve.
"É um novo momento. Ninguém quer correr o risco de não pensar nisso e ficar de fora", diz o presidente de uma grande empresa que recentemente anunciou planos de lançar ações na Bolsa. O executivo, que falou sob reserva devido às exigências da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), diz que o sentimento é partilhado com empresários próximos e banqueiros.
DEMANDA
O entusiasmo advém da combinação entre excesso de dinheiro no exterior e a expectativa positiva em relação ao governo Michel Temer.
Após a crise financeira mundial, os programas de resgate da economia colocados em prática por europeus, americanos e japoneses irrigaram o mundo de dinheiro –e investidores ainda buscam formas de fazê-lo render.
Os sinais de que o governo busca o equilíbrio fiscal, refletidos na aprovação da PEC do Teto, por exemplo, devem ajudar a chamar este dinheiro para cá. O chamado risco-país (medido pelo CDS, espécie de seguro contra calote) vem caindo. Hoje está em 288 pontos. Há um ano, em 533.
Há ainda a indicação de que a Selic, a taxa básica de juros, deve seguir em queda. A redução dos juros tende a motivar os investidores a buscar aplicações de maior risco, como as ações, aumentando a demanda por papéis de empresas. Cada um ponto porcentual de queda na taxa de juros corresponde a alta de cerca de 10% no índice Ibovespa, diz Rosenblit.
O relatório Focus, que reúne estimativas de analistas, projeta juros de 10,75% em 2017, ante os atuais 14%.
MAIS BARATO
Para as empresas, a Bovespa surge como uma forma de escapar do alto custos dos empréstimos bancários, seja para refinanciar a dívida, seja para investir em expansão.
"Todas as empresas precisam de dinheiro e vemos instrumentos de dívida muito caros no mercado. Neste momento, todo diretor financeiro está fazendo essa conta entre custo do banco e da Bolsa", diz Vanessa Fiusa, especialista em mercado de capitais e sócia do escritório de advocacia Mattos Filho.
De janeiro a setembro deste ano, 90% das ofertas foram destinadas a levantar capital de giro e reduzir dívidas, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). No mesmo período de 2015, todas as empresas afirmaram que os recursos seriam usados em aquisições.
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