FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO

Oito dos homens mais ricos do mundo concentram o mesmo patrimônio de 3,6 bilhões de pessoas –a metade mais pobre da humanidade, que detém 0,25% da riqueza global líquida.

O dado consta no relatório "Uma economia humana para os 99%", que será divulgado nesta segunda (16), em Davos, na Suíça, e foi elaborado pela Oxfam, entidade que reúne diversas organizações não governamentais,

O documento se baseia nas informações do "Credit Suisse Wealth Report 2016" e na lista de super-ricos da revista "Forbes" e evidencia o aumento da desigualdade econômica extrema.

Segundo o relatório, nunca se produziu tanta riqueza, mas ela se concentra no grupo que compõe o 1% mais rico da população mundial, cuja renda aumentou 182 vezes mais que a dos 10% mais pobres entre 1988 e 2011. Com isso, a entidade estima que o mundo terá seu primeiro trilhardário em apenas 25 anos.

Quatro anos atrás, o próprio Fórum de Davos identificou o aumento da desigualdade econômica como uma ameaça à estabilidade social no planeta. O FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial também já elaboraram documentos em que alertavam para o fato de essa desigualdade extrema prejudicar o crescimento ao suprimir a demanda, o que compromete a economia como um todo.

"Os números mostram uma distorção do mercado provocada por essa concentração de riqueza, que aumenta a pobreza e piora o desempenho geral da economia", diz Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam no Brasil.

REFORMA TRIBUTÁRIA

"O sistema está funcionando para que o 1% mais rico da população fique cada vez mais rico. A tributação é uma das formas mais importantes de reverter esse quadro e redistribuir parte dessa riqueza pelos outros 99%."

Na ocasião do lançamento, a Oxfam no Brasil vai iniciar um abaixo-assinado em seu site para pedir ao presidente Michel Temer (PMDB) que se comprometa com uma reforma tributária e com o combate à sonegação fiscal.

Estudo do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) estimou a evasão fiscal anual do Brasil em R$ 240 bilhões. A isenção fiscal de lucros e dividendos seria outro fator concentrador de renda porque reverteria a lógica de que quem tem mais paga mais impostos. Levantamento baseado em dados do IR de 2013 apontou que a isenção dos dividendos de acionistas poderia gerar uma receita de R$ 79 bilhões.

"Esses números mostram que temos caminhos para buscar mais recursos que permitam ao Brasil ter gastos com saúde e educação, dois fatores importantes na redução da desigualdade, condizentes com a necessidade do país", avalia Maia.

O documento da entidade também identifica como causa da superdesigualdade o foco das empresas em remunerar desproporcionalmente sua alta cúpula, em invés de investir nos trabalhadores como um todo e na própria produção.

1% dos mais ricos
do mundo detém a mesma riqueza que todo o resto do planeta

1.810 bilionários
existem no mundo; 89% deles são homens

8 homens
possuem a mesma riqueza de 3,6 bilhões de pessoas

182 vezes maior
foi o aumento na renda do 1% mais rico em relação aos 10% mais pobres entre 1988 e 2011

US$ 100 bilhões
é a perda anual que países desenvolvidos têm por sonegação fiscal

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