Agência S&P vê desafios e mantém Brasil longe do grau de investimento
A agência de classificação de risco Standard & Poor's manteve nesta sexta-feira (10) a nota de crédito do Brasil em grau especulativo e reafirmou a perspectiva negativa, o que significa que o país pode ter o rating rebaixado nos próximos meses.
A nota de crédito do Brasil foi mantida em "BB", dois degraus abaixo do nível de investimento. A agência diz que há pelo menos um terço de chance de rebaixamento da nota do Brasil ainda neste ano, caso as medidas para melhorar a situação fiscal e econômica do país não passem no Congresso.
Entre as medidas, a agência cita a reforma da Previdência, que diz ser necessária para a implementação do teto dos gastos públicos.
A perspectiva negativa, de acordo com a S&P, reflete o risco de que a estratégia do governo para estabilizar a economia e as contas possa ser prejudicada pela mudança na dinâmica política após três anos de recessão e por potenciais consequências de investigações de corrupção —como a Lava Jato, que envolve nomes do alto escalão do governo, além de executivos das maiores empresas públicas e privadas do país.
Por outro lado, a agência acenou com a possibilidade de revisar a perspectiva de negativa para estável se as incertezas políticas se dissiparem e se as propostas do governo para melhorar o quadro fiscal e econômico forem aprovadas.
A S&P reconhece progressos na administração de Michel Temer, mas indica que os desafios econômicos e fiscais que o país enfrenta exigem um compromisso político forte. Além disso, as incertezas políticas, o aumento das pressões fiscais de governos estaduais e municipais e a dificuldade de recuperação da economia sugerem que o país passará por um ajuste prolongado.
A atual nota de crédito do país, diz a agência, reflete a visão de que as instituições políticas do Brasil estão consolidadas e oferecem uma base importante para a estabilidade econômica, apesar de as investigações de corrupção, que atingem nomes do alto escalão político e companhias públicas e privadas, agravarem as incertezas de médio prazo.
A agência afirma que o crescimento econômico do Brasil será lento nos próximos anos, após quedas significativas do PIB (Produto Interno Bruto) desde 2014. Além disso, o endividamento líquido do governo deve passar de 52% do PIB em 2016 para 67% do PIB até 2019.
MEIRELLES
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a manutenção da nota é normal no atual processo de ajuste da economia.
"Com a aprovação da reforma da Previdência, da trabalhista, da agenda microeconômica e com a recuperação da economia em 2017, esse quadro vai mudar."
SURPRESA
A decisão da S&P de manter a perspectiva do país negativa não era esperada por André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
"Fiquei surpreendido, porque o Brasil está sendo o melhor aluno da sala, no sentido de adotar as recomendações de melhores práticas macroeconômicas que eles apoiam, como a PEC do Teto e as reformas. Temos indicadores que estão melhorando e que poderiam sustentar uma elevação da nota de crédito brasileira", diz.
Segundo ele, haveria motivos para melhorar as perspectivas, embora a agência tenha razão ao citar a baixa atividade econômica. "A minha intuição é de que existe no mercado o sentimento de que se pegar leve agora, os ajustes não terão continuidade", diz.
HISTÓRICO
O Brasil é considerado mau pagador pelas três principais agências de classificação de risco em atuação. Quanto melhor a classificação de um país, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa. Um país que tem grau especulativo é visto como tendo uma capacidade inadequada de honrar seus compromissos financeiros.
Para investidores estrangeiros, a avaliação das agências serve como termômetro para saber se a remuneração de um papel está adequada ao risco do investimento.
A S&P foi a primeira agência a retirar o selo de bom pagador do país, em setembro de 2015. Três meses depois, foi a vez de a agência Fitch também retirar o grau de investimento do Brasil.
A Moody's foi a última a rebaixar a nota de crédito do país, em fevereiro do ano passado.
A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.
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