Risco-país para investidores é menor que no impeachment
A crise política que colocou as reformas trabalhista e previdenciária em compasso de espera aumentou o risco-país medido pelo CDS, mas, mesmo assim, o Brasil de hoje não é tão arriscado para os investidores quanto nos meses que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Nesta quinta-feira (18), o CDS (uma espécie de seguro contra calote) chegou a 265 pontos, uma alta de 26% em relação à quarta-feira. Em janeiro de 2016, a cotação desse risco foi de 505 pontos, quando a tensão sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff começou a crescer, praticamente o triplo do verificado logo após o segundo turno de 2014.
Banqueiros e investidores consultados pela Folha afirmam que ainda acreditam em uma saída para as reformas, mas que o grau de tolerância em relação ao impasse político agora é menor.
Antes, o mercado trabalhava com a perspectiva de que Temer votaria as reformas ainda no primeiro semestre. Agora, o cenário embolou.
Após a divulgação das denúncias contra o presidente Michel Temer, o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), afirmou que, neste momento, não há espaço para o governo avançar com a proposta no Congresso.
Para Maia, é "hora de arrumar a casa" e "esclarecer fatos obscuros". "Só assim é que haveremos de retomar a reforma da Previdência e tantas outras medidas", disse.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), relator da reforma trabalhista, adiou a apresentação de seu relatório.
Em reunião na quarta-feira (17) com o Palácio do Planalto, ele havia se comprometido a entregar um parecer sobre a reforma na próxima terça (23).
"A crise institucional que estamos enfrentando é devastadora e precisamos priorizar a sua solução, para depois darmos desdobramento ao debate relacionado à reforma trabalhista", disse em nota.
REAÇÃO
Para sobreviver, o governo tenta reorganizar a sua base de apoio em torno do PSDB, seu maior aliado, e mantê-los comprometidos com o programa de reformas.
Líderes partidários aguardam os esclarecimentos das acusações contra Temer para fechar apoio. O mercado acompanha essa movimentação cujo desfecho também influencia a economia.
A expectativa de um dos banqueiros é que esse processo se estenda por mais duas semanas. Para ele, os juros devem subir e o dólar deve se estabilizar em R$ 3,60 —a moeda americana bateu em R$ 3,40 nesta quinta.
Ainda segundo esse banqueiro, se esse período de espera for maior, o quadro se deteriora e o risco-país poderá chegar a 350 pontos.
Apesar da queda recente, o risco-país do Brasil é o nono mais alto do mundo entre 46 países monitorados pela agência Bloomberg, pior que o da Turquia, por exemplo.
A avaliação é que a reação negativa do mercado financeiro possa pressionar o Congresso Nacional a retomar as reformas diante de um cenário de fuga de capital e a volta da recessão.
MAIS INCERTEZAS
A sustentação de Temer está em xeque, mesmo após a negativa do presidente de ter dado aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lucio Funaro, como acusa Joesley Batista, dono da J&F.
A oposição passou a pressionar pela antecipação do julgamento do processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), marcado para 6 de junho.
"Quanto mais ele [Temer] se apegar ao cargo, mais grave fica a situação econômica e política do país", disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), um dos autores dos três pedidos de impeachment apresentados à Câmara.
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